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Gato escaldado
Antologia inédita de "Fritz, the Cat" traz os principais momentos do
personagem do americano Robert Crumb
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DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Fritz, o gato, morreu há 30 anos. Cansado dos holofotes
da fama, Robert Crumb, o dono do gato, deu-lhe uma
punhalada nas costas em uma das cenas mais marcantes
do quadrinho underground americano. "Fritz, the Cat:
Superstar", a última história do personagem, "Fritz, the
Cat: Agente da CIA" e "Fritz, o Inútil", entre outras aventuras desenhadas e escritas por Crumb durante a década
de 60, ganham uma edição inédita no Brasil pela editora
Conrad. Amigo e pupilo de Harvey Kurtzman (criador
da "Mad"), padrinho involuntário da geração hippie,
ilustrador de capas de discos e livros de Janes Joplin e
Charles Bukowski, Crumb, 59, disse à Folha por telefone que hoje quase não sai de casa, num misterioso "vilarejo de 16 mil pessoas ao sul da França", onde se esconde há 11 anos com a atual mulher, a cartunista Aline Kominski-Crumb, e sua segunda filha, Sophie, 21.
Folha - Depois de todos esses
anos, você já deve estar cansado de
falar sobre "Fritz, the Cat"...
Robert Crumb - Faz muito tempo
que não falo sobre ele. A última
história que fiz foi em 1972, quando o matei, por causa daquele filme ["Fritz, the Cat], de Ralph
Bakshi" que eu odiei. Foi também
uma espécie de reflexão sobre como eu estava me sentindo a respeito da minha própria fama.
Folha - A fama incomodava?
Crumb - Estava me causando
muitos problemas. Não que eu estivesse ficando rico, mas estava
me tornando bem conhecido entre a juventude hippie da época. E
eu era muito jovem, tinha meus
20 e poucos anos, era um abacaxi
muito grande para lidar.
Folha - Não é paradoxal que você
quisesse se afastar da cultura hippie e, ao mesmo tempo, participasse dela até certo grau?
Crumb - Sim, era um paradoxo
mesmo. Eu tomava LSD e acreditava em um monte de coisas em
que eles também acreditavam.
Por outro lado, muito disso parecia bobo e excessivo para mim. Eu
nunca usaria um visual hippie, eu
me sentiria inibido.
Folha - O álbum do Fritz que está
saindo agora no Brasil abre com
uma história que foi desenhada
quando você era ainda criança...
Crumb - Eles estão publicando
aquilo também? As primeiras de
verdade? Que loucura! Eu tinha
uns 16 anos quando escrevi aquilo. Eu e Charles [irmão mais velho
de Crumb, que cometeu suicídio
em 96] fizemos centenas de quadrinhos naquela época. Ele era
realmente obcecado com quadrinhos, o que acabou me contaminando. Me sentia inútil se não desenhasse quadrinhos (risos). Então comecei a desenhar aos sete
anos e, quando tinha 17, 18, não
conseguia pensar em nada para
ganhar a vida que não fosse me
tornar um cartunista.
Folha - Você guardou aquilo?
Crumb - Não, eu as queimei todas quando fiz 19 anos (risos).
Eram muito embaraçosas.
Folha - Fritz é inspirado no Fred,
um gato que você teve quando
criança. Qual era a sua relação com
esses animais?
Crumb - Eu sempre amei gatos.
Quando era criança não conseguia entender por que os garotos
eram cruéis com eles.
Folha - E os "gatos de papel"?
Qual a importância do gato Felix
em seu trabalho?
Crumb - Eu gostava muito dele,
era um ótimo gibi, baseado em
uma tira de jornal publicada originalmente na década de 1920.
Charles e eu também éramos loucos pelo Pato Donald e todos os
produtos da Disney da época. Só
quando ficamos adolescentes é
que percebemos que a Disney era
uma grande corporação capitalista, que se tornou mais e mais perversa com o passar do tempo.
Folha - Como está o seu ritmo de
trabalho atualmente?
Crumb - Ainda desenho. Acabei
de terminar outro livro da série
"Mistic Funnies" [publicado nos
EUA pela Fantagraphics], mas
certamente não sou mais tão prolífico como antes. Levo mais tempo para finalizar um álbum.
Folha - Mudar para a França ajudou a esgotar o assunto?
Crumb - Não. O meu trabalho
ainda é fazer sátira social, pode
não ser mais tão (anti)americano,
mas a França ainda faz parte da
cultura ocidental.
Folha - E as mulheres, você sente
falta das americanas?
Crumb - Claro, eu não acho as
francesas muito atraentes. A coisa
toda em relação à mulher aqui é
diferente de como é na América.
Acho difícil entender a relação entre os sexos por aqui. Também já
estou com quase 60, fico muito
em casa e não saio mais à caça de
mulheres (risos).
Folha - Planeja visitar o Brasil?
Crumb - Já recebi um convite,
mas estou com medo. Escuto falar
da violência, é assustador. Mas
ouço todo tipo de relato sobre as
fabulosas mullheres que vivem aí.
Disseram que elas têm bundas
maravilhosas. As francesas não
têm, isso é triste. Elas são magras,
com ossos pequenos, sem coxas...
Se me arrumarem duas grandes
guarda-costas no Brasil, posso ir.
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