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LIVRO/LANÇAMENTO
À sua maneira, autor reconta história e histórias do Rio
Ruy Castro abre alas para um "Carnaval no Fogo"
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O carioca Ruy Castro, 55, teve
há pouco uma amostra de que
acertou ao dar ao livro "Carnaval
no Fogo" o subtítulo "Crônica de
uma Cidade Excitante Demais".
"Contaram-me esses dias que
um adolescente de São Paulo pegou o livro do pai e varou a madrugada lendo. No dia seguinte,
ele pegou um ônibus sem avisar à
família e veio parar no Rio."
Segundo Castro, o rapaz passou
o dia inteiro zanzando pela cidade. À noite, ele tomou um táxi, e o
motorista, percebendo que algo
estava errado, levou-o a uma delegacia. Lá ligaram para o pai dele,
que foi correndo buscá-lo.
"Mas, em vez de voltarem logo,
parece que os dois ainda ficaram
uns quatro dias passeando por
aqui", diz o escritor, entre risos.
"Carnaval no Fogo" faz parte da
série "O Escritor e a Cidade", em
que autores dão sua visão pessoal
sobre grandes urbes do mundo.
Um livro que parecia predestinado a ser escrito por Ruy Castro.
Acostumado a escrever sobre
personagens e instituições cariocas (Nelson Rodrigues, Garrincha, Flamengo, bossa nova etc.),
Castro é colecionador contumaz
de livros e documentos sobre a
história guanabarina, desde 91.
A elaboração de "Carnaval no
Fogo" levou dois anos, dos quais
nove meses só para a escrita. Debruçou-se sobre livros, comparou
versões de fatos históricos e saía
atrás de sacações pela rua. "O habitat natural do carioca", diz.
"O livro para mim é como uma
conversa de botequim, na qual
você pode levantar da mesa e dar
uma volta pelo quarteirão."
A voltinha se faz também através do tempo. Parte do batismo
da cidade, atribuído ao navegador
italiano Américo Vespúcio, em
1502, e comenta, misturando história, poesia e humor, a recepção
das índias aos portugueses, a vinda de africanos, dos franceses e,
principalmente, das francesas.
Elas, no fim do século 18, revolucionaram a feminilidade das moças e ensinaram as artes do sexo
aos rapazes que percorriam o Rio
Antigo, onde estava a rua do Ouvidor, epicentro de um terremoto
de costumes no Brasil.
Ruy Castro, porém, não compõe um samba-exaltação. "Não
quis passar ao largo de nada que
fosse relevante, procurando dar a
real dimensão da coisa", diz. Para
ele, o Rio sempre foi acostumado
a viver entre o sexo e a violência.
O prólogo lembra as ordens de
fechamento do comércio de Ipanema dadas pelo tráfico, no Carnaval deste ano, ignoradas pelo
povo que, ávido por diversão fevereira, foi dançar ao som de um
bloco. Algo estranho para outros
lugares, mas natural de uma cidade excitante demais.
CARNAVAL NO FOGO. De: Ruy Castro.
Editora: Companhia das Letras. Quanto:
R$ 34 (256 págs.).
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