DA REPORTAGEM LOCAL

É difícil achar um ângulo novo para os vampiros, mas o quadrinista norte-americano Steve Niles teve uma idéia perspicaz: e se eles atacassem uma daquelas cidadezinhas perdidas na neve do Alasca, que, por sua posição geográfica, enfrentam 30 dias ininterruptos sem luz do sol durante o inverno?
O resultado, em colaboração com o traço esplêndido de Ben Templesmith, é uma das melhores HQs da década, "30 Dias de Noite" (ed. Devir, 88 págs., R$ 30), da qual derivou uma série de histórias e o filme para o qual Niles escreveu o roteiro (com Stuart Beattie).
"Tudo que eu queria era um bom filme de horror, porque sou fã do gênero", disse Niles à Folha, por telefone, de Los Angeles. "E acho que David Slade e Sam Raimi conseguiram isso."
Apesar dos elogios, durante a conversa Niles dá mostras de que foi obrigado a aceitar mudanças indesejadas em sua história original, como a supressão do vilão-mor, Vicente.
"A idéia de ter um vilão em metade da história e introduzir outro depois era muito radical para o estúdio. Achei uma pena, isso poderia ter funcionado."
Outra mudança radical aconteceu na relação entre o xerife da cidade e sua mulher, que deixam de ser o casal apaixonado da HQ e viram divorciados.
"Sam Raimi quis tensão entre os personagens para deixá-los mais interessantes. Eu argumentei que isso era o que víamos em todos os filmes, quando foi a última vez que vimos nas telas um casal que se ama?"
Raimi, que se declara um produtor "não-intervencionista" e que diz ter deixado a maioria das decisões para Niles e Slade, defende as alterações.
"Tendo vindo de "Homem-Aranha", entendo por que as mudanças foram feitas. A necessidade de traduzir uma HQ muito longa em um filme faz com que você tenha de fazer alterações. Houve também questões de orçamento", disse.
"É uma dessas coisas de Hollywood, há um determinado jeito com que eles fazem as coisas", conforma-se Niles.

Grevista
Para não ter de se conformar (ou, pelo menos, receber mais dinheiro para isso), Niles está em greve, como os demais roteiristas hollywoodianos.
"Tenho participado dos piquetes na porta dos estúdios desde o primeiro dia. Há um monte de novas mídias on-line, iPods etc., e tem dinheiro sendo feito em cima disso, dinheiro que precisa ser dividido."
A greve já afeta a produção da seqüência de "30 Dias", "Dark Days". "Vamos ter de esperar até isso ser decidido. É muito simples, é só pagar as pessoas pelo trabalho. Estou realmente desapontado de termos que chegar a esse ponto e fazer outras pessoas sofrerem."