São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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BIA ABRAMO

Imagens impressionantes


A TV está lá, no centro da casa, e as imagens podem atingir o espectador desavisado


ARECORD prepara-se para exibir "Tropa de Elite" na quinta-feira que vem. O filme foi um sucesso de público e despertou reações de todos os lados, boa parte por conta da maneira, digamos, crua de mostrar as ações de policiais de elite contra traficantes.
É mais um capítulo da guerra de audiência entre a Record e a Globo: na terça-feira, a emissora carioca terá estreado "Cinquentinha", minissérie de Aguinaldo Silva, com atrizes chama-público, como Suzana Vieira e Marília Gabriela. A manobra é bem calculada: a série terá quatro capítulos e a exibição do longa de José Padilha coincide com o penúltimo.
Mas a exibição de um filme como "Tropa de Elite" num meio como a televisão suscita algumas questões em torno da quantidade razoável de exibição de violência na TV. Ao contrário do cinema, onde o espectador escolhe o que vai ver e fica submetido à natureza das imagens por vontade própria, na TV não é bem isso que acontece. Ela está lá, no centro da casa, e as imagens podem, por assim, dizer, atingir o espectador desavisado.
Além disso, há um estranho paradoxo nas imagens impressionantes quando circulam na TV. Se a ambiência doméstica, a tela pequena, a pior definição da imagem amenizam o impacto, a proximidade dela na vida cotidiana do espectador naturaliza aquela experiência. Ou ainda, o fato de passar na TV, a janela para o mundo, banaliza, domestica, aquela imagem. Na sala de cinema, estamos fora do mundo e, portanto, num distanciamento que propõe algum tipo de reflexão; na experiência da TV, é o mundo que entra dentro de nós, o que dificulta esse distanciamento necessário.
Outra surra, outro pico de audiência em "Viver a Vida". É batata: um tapinha teledramatúrgico pode até não doer na face do espectador, mas o mantém grudado diante da TV.
Na novela, entretanto, além da banalização da violência, há um outro elemento, um tantinho mais perverso. Como uma obra "aberta", que responde à reação do público, a coisa vai num crescendo maluco: vocês gostaram do tapa (merecido) de Helena em Luciana?
Então, aqui vai mais uma: a negra Helena de joelhos recebe um tapa (merecido) da senhora branca Tereza. Não foi suficiente? Que tal a mãe, a mesma Tereza, dando cintadas (merecidas) na filha Isabel sem roupa, coberta apenas por uma toalha? O que vem a seguir?

biabramo.tv@uol.com.br


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