São Paulo, terça-feira, 07 de janeiro de 2003

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Dupla nova-iorquina cria novo gênero musical para as pistas ao mesclar rock e dance music

E-punk


DFA elabora um novo conceito pop, como fizeram no passado a Factory (New Order) e a Sub Pop (Nirvana)


THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

O punk é a nova disco. Pelas mãos de uma dupla nova-iorquina, aquele rock básico, de guitarras altas, ganhou os toca-discos de renomados DJs dance para embalar pistas de dança pelo mundo. A dupla em questão responde pelo nome DFA (sigla de Death from Above), é baseada no bairro do Brooklyn, em Nova York, e, segundo publicações como a revista eletrônica "Pitchfork" (www. pitchforkmedia.com), "é mais importante do que quase tudo que acontece no mundo da música hoje".
A DFA é uma gravadora, mas não só. É um conceito sonoro, como o eram a inglesa Factory (New Order, A Certain Ratio, Happy Mondays), a grunge Sub Pop (Mudhoney, Nirvana) e a indescritível Warp (Aphex Twin, Squarepusher, Autechre).
"A música não pára quando o disco é prensado. Antes de qualquer coisa, nós somos amantes de música e queremos passar às pessoas toda a sensação que sentimos quando fazemos nossas produções", explica à Folha Tim Goldsworthy, uma das metades da DFA, e que fazia parte do projeto eletrônico britânico U.N.K.L.E. (que fez parcerias com Richard Ashcroft, Thom Yorke). A outra é o americano James Murphy.
O "conceito" do núcleo DFA é achar a menor distância entre o rock e a dance music. O caminho que norteia todos os que trabalham com a dupla (The Rapture, Radio 4, The Juan Maclean, LCD Soundsystem) é o pós-punk funkeado do início dos 80, de grupos como Gang of Four, Killing Joke, Liquid Liquid...
"Concordo parcialmente sobre essa influência do pós-punk em nosso som no sentido de que é uma música complexa, difícil de ser rotulada. Acho que o que fazemos são canções honestas que tentam fugir dos clichês", afirma Goldsworthy.
A fórmula DFA deu certo. Os rocks funkeados produzidos pela dupla já fazem parte do case de DJs como Pete Tong, Hell, Soulwax, Erol Alkan e Fatboy Slim. O mais emblemático exemplo do conceito da gravadora é o hit "House of Jealous Lovers", da banda The Rapture.
Antes de conhecer Goldsworthy/Murphy, o "hit" do quarteto nova-iorquino era apenas um punk rock não muito diferente de milhões que existem por aí. Após a DFA meter seu dedo ali, injetando batida de bateria quebrada, funkeada, a música ganhou as pistas e virou um dos top singles do ano passado.
Questionado sobre a participação do "fator dance" em suas produções, Goldsworthy é enfático: "Dançar é uma diversão para todo mundo. Nós queremos fazer música acessível a todos, e não apenas para aqueles nerds com milhões de CDs em suas coleções. O que nos atrai em bandas como Rapture é a energia e a mente aberta. E, também ajuda, eles são excelentes compositores", brinca.

Anticool
Além de elogiadas produções para outros, a DFA tem cria própria. Uma delas é "Losing My Edge", do grupo LCD Soundsystem, um projeto pessoal de James Murphy. Canção-manifesto anticool, "Losing My Edge" é um definitivo hino da era pós-net.
"I'm losing my edge/ To the internet seekers/ Who can tell me every member of every good group from 1962 to 1978" (Estou sendo ultrapassado/ Pelos "fuçadores" de internet/ Que conseguem me dizer os membros de qualquer boa banda de 1962 a 1978), diz a letra.
Num vocal quase falado sobre batida electro, Murphy continua sua saga: "I'm losing my edge/ To better looking kids/ With more ideas and more talent" (Estou sendo ultrapassado/ Por garotos mais bonitos/ Com mais idéias e mais talento).
Querendo ou não, e parafraseando a "Pitchfork", "Losing My Edge" e a DFA representam o que acontece na música hoje. Tim Goldsworthy finaliza: "Quando nos perguntam sobre o momento atual do rock, respondo que os melhores momentos são aqueles nos quais você faz parte. Portanto, para mim, vivemos numa época especial para o rock".


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