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POLÍTICA CULTURAL
Secretário do Ministério da Cultura escolhido por Gil defende revisão de funções, incluindo as TVs
"Audiovisual não é só cinema", diz Senna
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Novo secretário do Audiovisual
do Ministério da Cultura, o cineasta Orlando Senna ("Gitirana"), 62, assume um cargo esvaziado, com a disposição de lutar
pelo território perdido.
No ano passado, a Secretaria do
Audiovisual teve suas mais importantes funções transferidas
para a Ancine (Agência Nacional
do Cinema), que pertencia à Casa
Civil e deveria ser entregue ao Ministério da Indústria e Comércio,
pelos planos do governo FHC.
Sobrou para a Secretaria do
MinC o que se chamou de "cinema cultural" -documentários e
curtas-metragens.
"O grande tema nesses primeiros meses de governo será a redistribuição de atribuições da Ancine e da Secretaria do Audiovisual", afirma o secretário.
De fato, em sua primeira semana no poder, o governo Lula trouxe de volta a Ancine do Ministério
da Indústria e Comércio para a
Casa Civil, para rediscutir qual será o seu papel.
Baiano, ex-colega de ginásio do
ministro Gilberto Gil, e mais recentemente próximo do grupo
petista da cultura e da equipe de
transição (com a qual colaborou
na elaboração de propostas), Senna afirma que "o audiovisual não
é apenas cultura. É um elemento
decisivo de economia e de soberania para os próximos anos".
Trata-se de um recado às TVs.
"Audiovisual não é só cinema: é
cinema e televisão", afirma. A seguir, trechos da entrevista que o
novo secretário deu à Folha.
Folha - A definição do segundo
escalão do Ministério da Cultura
está sendo tensa, em razão da resistência ao nome do ministro Gilberto Gil pelos setores do PT que se
sentiram preteridos. Qual é sua expectativa para o trabalho ao lado
do ministro?
Orlando Senna - Parece que isso
ficou superado. O entendimento
que o Gil teve com o staff cultural
do PT -Antonio Grassi [designado para a Funarte", Hamilton
Pereira [ainda sem cargo", Márcio
Meira [designado para a Secretaria de Patrimônio", Sérgio Mamberti [designado para a Secretaria
de Música e Artes Cênicas"- deixou tudo acertado. Todo mundo
ficou satisfeito, é o que me parece.
Quanto a trabalhar com Gil, se
ele realmente me convida, seria
ótimo [o ministro anunciou a escolha para a imprensa no fim de
semana e falaria com Senna oficialmente ontem".
Gosto muito dele. Fomos colegas de ginásio no colégio Maristas, em Salvador. Depois, tivemos
vários outros contatos durante
nossas longas vidas.
Folha - Com a criação da Agência
Nacional do Cinema, a Secretaria
do Audiovisual foi esvaziada, sendo responsável só por curtas-metragens e festivais nacionais...
Senna - (Interrompendo) Os
curtas-metragens, os festivais nacionais, a promoção do cinema
brasileiro, as escolas de cinema, a
memória, a preservação, as cinematecas. É um monte de coisas.
Folha - O sr. considera que é o
bastante?
Senna - Não digo com certeza,
mas há uma tendência de que o
governo fará uma revisão na distribuição de atribuições da Ancine, do Conselho Superior de Cinema e da Secretaria do Audiovisual. O cinema tem de funcionar
nesse tripé.
É apressado dizer qualquer coisa, mas eu e muita gente achamos
que houve certa pressa no governo passado de passar atribuições
à Ancine que, na verdade, não
têm muito a ver com a agência.
Folha - O sr. tem alguma indicação de que a Ancine será transferida da Casa Civil para o MinC?
Senna - Não. O que sei é que o
governo decidiu que a Ancine ficará na Casa Civil para refletir sobre isso e fazer uma distribuição
mais adequada para o tripé de onde se regerá o audiovisual.
Audiovisual não é só cinema. É
cinema e televisão. A TV é uma
questão bastante forte.
Folha - Tão forte que conseguiu
se excluir das contribuições previstas para ela no fomento ao cinema
nacional, durante as discussões
que findaram na criação da Ancine.
Senna - Quem leu o relatório do
Seminário Nacional do Audiovisual, que coordenei aqui no Rio, a
pedido da equipe de transição, vê
que isso está muito claro. Pede-se
ao governo uma reformatação da
Ancine, na direção de sua idéia
original, em que ela não era Agência Nacional do Cinema e, sim,
Agência Nacional do Audiovisual.
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