São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2007

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os + feios

A convite da Folha, 17 arquitetos apontam os prédios mais feios da cidade de São Paulo


Daslu
Data: 2005
av. Chedid Jafet, 131
2 votos
A loja de 17 mil m2, além dos 3.000 m2 do terraço, é um dos símbolos do chamado estilo neoclássico, comum em prédios destinados a segmentos de luxo em São Paulo. Localizado na Vila Olímpia e de autoria de Julio Neves, tem colunas, balcões e outros adornos

"É um absurdo. Mostra como a elite paulistana consome arquitetura de péssima qualidade",

Francisco Fanucci

"Conseguiu sintetizar o extremo mau gosto que pauta a especulação e o consumismo imobiliário e representá-los como em nenhum outro caso",

Ademir Pereira dos Santos


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma cidade conhecida pelo crescimento desordenado, pelo urbanismo caótico e pela baixa preservação de sua memória arquitetônica, edifícios sem charme nenhum e sem ligação com o entorno não faltam. Mas alguns deles extrapolaram, segundo o olhar de alguns arquitetos.
A pedido da Folha, 17 profissionais de variadas tendências e que atuam em São Paulo apontaram o prédio que consideram o mais feio da cidade. O mais votado foi a Sede Mundial da Igreja Pentecostal Deus É Amor, no Glicério, com três votos.
Logo atrás, dois exemplos da onda neoclássica que se espalha pelos bairros mais caros de São Paulo: a megaloja Daslu, na Vila Olímpia; e o edifício Villa Europa, famoso por exceder o limite de altura permitido e que ainda está em obras, no Jardim Paulistano. Cada um recebeu duas indicações.
"Considero o Glicério o conjunto urbano mais feio da cidade. Foram construídos muitos prédios para pessoas de baixa renda. Tem uma densidade populacional perversa. A construção de uma igreja nessas proporções só piorou a situação", afirma Eduardo de Almeida.
Há cinco neoclássicos na votação -além da Daslu e do Villa Europa, aparecem o pioneiro Martinelli, o Plaza Iguatemi e o Renata. O neoclássico utiliza elementos greco-romanos, como colunas e pórticos, para ornamentar sua fachada.

"Voto de protesto"
Os arquitetos Ruy Ohtake, Fernanda Barbara, Julio Neves e Luciano Margotto participaram da discussão sem apontar prédios, mas problemas urbanos. Para Ohtake, "pontes e viadutos são despersonalizados. Faltou carinho com os rios Tietê e Pinheiros".
Barbara destacou bons exemplos, como o Copan e o Conjunto Nacional, para criticar a "condominização" da cidade e a falta de prédios de uso misto (residencial e comercial). Já Margotto lembrou o Minhocão, "questão discutida em demasia, sem que nada tenha sido feito".
"Feia mesmo é a favela", afirma Neves, que elege como piores prédios os "abandonados, pichados, malcuidados, invadidos ou prejudicados pelos outdoors". Neves, aliás, participou da votação e teve também um prédio de sua autoria citado entre os mais feios: a Daslu. Sobre a inclusão de seu projeto e dos neoclássicos em geral, ele acredita que é uma "questão de fachada. Quem votou [na Daslu] nunca entrou lá. A fachada é a vontade do proprietário, do gosto dele".
A igreja Deus É Amor foi procurada pela Folha. Um funcionário responsável por atender a imprensa e que se identificou apenas como Marques disse que "os arquitetos deviam estar de óculos escuros para não ver a grandeza do templo".
Israel Rewin, Itamar Berezin, Marcos Tomanik e Oscar Niemeyer, autores de prédios citados, não foram localizados para comentar as escolhas.


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