São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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Música

"Kind of Blue" terá tributo em SP e edição de 50 anos

Jimmy Cobb, baterista do disco de jazz mais vendido de todos os tempos, vem ao Brasil em maio

Norte-americano, último remanescente da banda que tocou com Miles Davis nas gravações do álbum, toca no festival Bridgestone Music


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O músico norte-americano Jimmy Cobb, 79, tem um currículo invejável. Tocou com grandes figuras do jazz, como Dizzy Gillespie, Gil Evans e Billie Holiday, mas costuma ser mencionado como o baterista do cultuado "Kind of Blue", álbum do trompetista Miles Davis (1926-1991) que detém o título de disco de jazz mais vendido de todos os tempos.
"Se Miles pudesse saber que "Kind of Blue" se tornaria tão famoso, teria exigido ao menos uma ou duas Ferraris como adiantamento para gravá-lo", diz o veterano baterista à Folha. O álbum teve mais de 3 milhões de cópias vendidas só nos EUA, segundo a Nielsen SoundScan, que começou a aferir esses números em 1991.
Último remanescente do sexteto que gravou "Kind of Blue", além de outros discos de Miles Davis e do saxofonista John Coltrane (1926-1967), Cobb virá a São Paulo para um concerto comemorativo dos 50 anos dessa obra-prima do jazz, na segunda edição do festival Bridgestone Music, de 14 a 16 de maio, no Citibank Hall. O álbum também ganhará edição especial (leia à direita).
O concerto "Kind of Blue @ 50" já está agendado para alguns dos maiores festivais americanos, como o New Orleans Jazz & Heritage (3/5) e o Playboy Jazz (13/6). Clubes e festivais da Europa e do Japão também farão parte dessa turnê.
Cobb, que nos anos 70 esteve no Brasil com Sarah Vaughan, terá a seu lado desta vez a So What Band. O sexteto destaca músicos de prestígio na cena do jazz: o trompetista Wallace Roney (discípulo reconhecido pelo próprio Davis), Vincent Herring (sax alto), Javon Jackson (sax tenor), Larry Willis (piano) e Buster Williams (baixo).
"Tentei fazer como Miles fazia ao formar seus grupos. Reuni alguns dos melhores músicos de jazz no momento", diz Cobb, observando que, para escolher os parceiros, levou ainda em conta a afinidade deles com os estilos de Cannonball Adderley, John Coltrane, Bill Evans e Paul Chambers, músicos do sexteto de Davis.
Não significa que ele e seus colegas planejem reproduzir nota por nota as gravações das hoje clássicas "So What", "Freddie Freeloader", "Blue in Green", "All Blues" e "Flamenco Sketches", que integram "Kind of Blue". "Além de homenagear Miles, nossa intenção é trazer o espírito daquelas gravações para os dias de hoje", diz Cobb. Alguns temas de outros álbuns de Davis devem entrar no repertório, mas só serão escolhidos pouco antes de o sexteto subir ao palco.

Sucesso do disco
Confirmando o já folclórico estilo lacônico de Davis no comando de músicos, Cobb diz que jamais chegou a conversar com ele sobre as duas sessões de gravação de "Kind of Blue". Mas acredita que o trompetista não tivesse expectativas fora do comum em relação a elas. "Não tenho explicação para o sucesso do disco. Não houve planejamento, simplesmente aconteceu. Ao entrar no estúdio, queríamos só fazer mais uma boa sessão de gravação com Miles", diz Cobb, que o acompanhou regularmente de 1958 a 1962, em gravações e shows.
Fã de Miles Davis, Toy Lima, produtor do Bridgestone Music, diz que já comprou "Kind of Blue" em diversos formatos, do LP original a uma edição especial em CD banhado a ouro, dos anos 90. E que decidiu trazer Cobb e seu concerto-tributo ao festival estimulado pela aura mítica que ainda cerca o disco.
"O disco é reconhecido, cinco décadas após a gravação, como o ápice do jazz moderno. E não só quem gosta de jazz fica contaminado pela introdução etérea de "So What", por exemplo. Como escreveu Ashley Kahn em seu livro sobre "Kind of Blue", "essa música tem o poder de silenciar tudo'", diz Lima.


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