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Fotografia está em segundo plano
especial para a Folha
Henri Cartier-Bresson não deveria ter sido fotógrafo. Era para ser
artista plástico, pintor ou gravurista, seguindo a mesma carreira de
seu tio Louis. É nessa perspectiva
que passa a adolescência, não chegando sequer a completar o equivalente ao segundo grau.
Em Cambridge (Inglaterra), em
fins da década de 20, conhece sir
James George Frazer (o antropólogo e etnólogo, autor do superinfluente, e hoje considerado politicamente incorreto, "O Ramo de
Ouro"). Essa experiência faz com
que ele parta para a Costa do Marfim, onde faz suas primeiras fotos.
A viagem e a constatação de que
o rigor de composição que buscava
na pintura estava no mundo, bastando saber ver e captar com uma
câmera, o fazem comprar sua Leica 35 mm ("uma câmera que cabe
na palma de minha mão") e se decidir pela fotografia -não ainda
pelo jornalismo, preferindo se definir como "fotógrafo surrealista".
A década de 30 o encontra em várias atividades: assistente de direção de Jean Renoir, ator figurante
e, até, fotógrafo. Mas foi só depois
da Segunda Guerra (quando esteve
por quase três anos em um campo
de concentração alemão e chegou
a ser dado como morto, recebendo
até uma exposição "póstuma" no
MoMA) que se decidiu pelo fotojornalismo, sob a influência do
também fotógrafo Robert Capa,
com quem fundaria, em 1947, a
agência cooperativa Magnum.
Apesar de cético, um tanto anárquico e simpatizante de causas pela liberdade e justiça social, Cartier-Bresson jamais sofreu daquela
enfatuação pela pobreza, tão comum na fotografia engajada e "de
denúncia" que faz o sucesso de
tantos fotojornalistas.
Fotografou em todo o mundo,
publicou em todas as revistas importantes do planeta e, nos anos
70, deixou novamente a fotografia
em segundo plano (já o havia feito
nos anos 30, quando pensou que
jamais voltasse) e se dedicou com
mais afinco ao desenho. Fotógrafo,
talvez sem querer, chega aos 90
anos (completados no dia 22 de
agosto de 1998) desenhando, fotografando esporadicamente e resistindo às homenagens que, como
aconteceu meio século atrás, o matam antes da hora. (JPA)
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