São Paulo, Quinta-feira, 07 de Janeiro de 1999
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Fotografia está em segundo plano

especial para a Folha

Henri Cartier-Bresson não deveria ter sido fotógrafo. Era para ser artista plástico, pintor ou gravurista, seguindo a mesma carreira de seu tio Louis. É nessa perspectiva que passa a adolescência, não chegando sequer a completar o equivalente ao segundo grau.
Em Cambridge (Inglaterra), em fins da década de 20, conhece sir James George Frazer (o antropólogo e etnólogo, autor do superinfluente, e hoje considerado politicamente incorreto, "O Ramo de Ouro"). Essa experiência faz com que ele parta para a Costa do Marfim, onde faz suas primeiras fotos.
A viagem e a constatação de que o rigor de composição que buscava na pintura estava no mundo, bastando saber ver e captar com uma câmera, o fazem comprar sua Leica 35 mm ("uma câmera que cabe na palma de minha mão") e se decidir pela fotografia -não ainda pelo jornalismo, preferindo se definir como "fotógrafo surrealista".
A década de 30 o encontra em várias atividades: assistente de direção de Jean Renoir, ator figurante e, até, fotógrafo. Mas foi só depois da Segunda Guerra (quando esteve por quase três anos em um campo de concentração alemão e chegou a ser dado como morto, recebendo até uma exposição "póstuma" no MoMA) que se decidiu pelo fotojornalismo, sob a influência do também fotógrafo Robert Capa, com quem fundaria, em 1947, a agência cooperativa Magnum.
Apesar de cético, um tanto anárquico e simpatizante de causas pela liberdade e justiça social, Cartier-Bresson jamais sofreu daquela enfatuação pela pobreza, tão comum na fotografia engajada e "de denúncia" que faz o sucesso de tantos fotojornalistas.
Fotografou em todo o mundo, publicou em todas as revistas importantes do planeta e, nos anos 70, deixou novamente a fotografia em segundo plano (já o havia feito nos anos 30, quando pensou que jamais voltasse) e se dedicou com mais afinco ao desenho. Fotógrafo, talvez sem querer, chega aos 90 anos (completados no dia 22 de agosto de 1998) desenhando, fotografando esporadicamente e resistindo às homenagens que, como aconteceu meio século atrás, o matam antes da hora. (JPA)


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