São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011

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OPINIÃO

Peça "Assurbanipal" transporta espectador ao mundo do suingue


ESPALHADOS PELA PLATEIA, ATORES INTERAGEM COM OS DO "PALCO", CRIANDO UMA DESORIENTAÇÃO AINDA MAIOR


NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Na entrada, casais andam comportados, de mãos dadas, em direção a um corredor com luz vermelha.
O bom comportamento parece com o de adolescentes em um baile de formatura. Isso se não estivéssemos em um clube de suingue, o Nefertite, nos Jardins, em São Paulo, uma casa imensa cujo lema é "onde tudo é permitido e nada é obrigatório".
Os casais não estão (ainda) se dirigindo ao "labirinto", a parte onde quase todo tipo de sexo é permitido, mas sim indo assistir a uma peça, "Assurbanipal Magic Club", de Mauricio Paroni de Castro.
O espetáculo é encenado na sala principal das orgias: a sala do véu. O palco é uma cama redonda gigante, onde cinco atores se enroscam seminus. Alguns nus em pelo.
A peça conta histórias de pessoas que entraram no mundo do suingue. E se o objetivo é fazer o espectador entrar no meio, a experiência funciona. E muito.
Na plateia de cerca de 150 pessoas dá para perceber que a maioria é frequentadora da casa e não de redutos teatrais moderninhos como a praça Roosevelt, onde a peça entra hoje em cartaz.
A interação com o público não podia ser melhor. "Gosto de ser chamada de vagabunda", diz uma atriz. "Sua vagabunda", diz alguém da plateia, com voz de tarado.
"Fala mais". "Piranha", diz um. "Sua puta", grita outro.
Enquanto os atores se esfregam nus no palco, é impossível não pensar que naquela cama as pessoas fazem sexo grupal de verdade. Todos os fins de semana. E sentir, sim, um certo abalo.
Parece que cada um dos personagens pode estar ali ao seu lado: a garota que gosta de sexo em lugar proibido, a que só gosta de velho, "tipo José Serra e Niemeyer", a intelectual que gosta de proletário, a garota de programa.
Alguns atores, espalhados pela plateia, interagem com os do "palco", criando uma desorientação ainda maior.
Se o espectador já se sente meio desorientado dentro da sala do véu, tudo fica ainda mais surreal na saída.
Do lado de fora, centenas de pessoas dançam música eletrônica. Logo um homem começa um striptease, no que é agarrado por uma mulher, que se esfrega nele. E a entrada para o tal labirinto passa a ser ainda mais concorrida que na hora da peça.
A partir daquela hora, o que foi visto como "encenação" passa a acontecer de verdade. E o espectador pode entender o clima ainda mais.
Sim, existe um universo paralelo ali nos Jardins.



ASSURBANIPAL MAGIC CLUB
QUANDO reestreia hoje, seg., às 21h; até 25/4
ONDE Espaço dos Satyros 1 (pça. Roosevelt, 214, Consolação, tel. 0/xx/11/3258-6345)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 18 anos



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