São Paulo, sábado, 7 de fevereiro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Artista californiano, cuja obra precisa de ''bula'' para ser entendida, fará parte da seção ''Roteiros''
Bienal anuncia Asher para sua 24ª edição

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Um pelo cano e outro pela culatra. Logo depois de confirmar a vinda das pinturas luminosas e sem limites do venezuelano Ar mando Reverón (1889-1954) para uma de suas salas especiais, a Bie nal Internacional de São Paulo anunciou esta semana o primeiro artista de sua seção ''Roteiros''.
O californiano Michael Asher, 53, entra no segmento dedicado aos EUA e Canadá, que tem curadoria do brasileiro Ivo Mesquita. O espectador que se prepare, com ele não tem cor nem luz. Asher é um daqueles artistas cuja obra é puro conceito e, assim, pre cisa de ''bula'' para ser entendida.
Em 1977, participando da ''Münster Project'', mostra alemã de esculturas que acontece a cada dez anos, Asher apresentou uma instalação que consistia na colocação de um trailer em diversos pontos da cidade. Para saber a localização do trailer, o interessado deveria informar-se no museu. A obra deveria refletir seu interesse ''pela mobilidade de uma unidade específica'' e o movimento de um lugar para outro também seria ''parte da instalação''.
Asher voltou a ser convidado para Münster nas duas décadas seguintes (1987 e 1997) e, nas duas ocasiões, repetiu a instalação. Durante sua recente passagem por São Paulo, para fazer o reconhecimento de campo, Asher revelou ainda não ter idéia do que vai expor.
Sobre o porquê de repetir a instalação de Münster nas três ocasiões, disse ter respondido ao conceito da mostra. Se ele não havia mudado nas três ocasiões, por que ele mudaria o trabalho? O espectador pode tentar ver no deslocamento do objeto algo do ''ready-made'' de Duchamp, mas o artista avisa que seu trailer não tem a estetização e aura que o objeto artístico adquire quando se torna um ''ready-made''.
O espectador pode ainda se esforçar e ver uma atitude crítica do artista, no questionamento dos objetos que pertencem ou não ao universo do museu e como eles são exibidos, mas isso também vai depender muito da boa vontade do espectador.
A 24ª edição da Bienal acontece entre os dias 4 de outubro e 13 de dezembro. O tema do evento deste ano é a antropofagia, tendo como base o ''Manifesto Antropófago'', escrito em 1928 por Oswald de Andrade, e a pintura de Tarsila do Amaral. O conceito trabalha com a incorporação de valores alheios para a criação de seus próprios e de uma nova identidade.



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