São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2007

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Foco

"A Cantora Careca" lota o mesmo teatro parisiense há mais de meio século

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O teatro fica no Quartier Latin de Paris e tem o nome da rua, La Huchette. Toda noite, uma fila atrapalha a passagem dos turistas que circulam em torno do Boulevard Saint-Michel. Mas quem não reservou não entra. O teatro só tem 92 lugares e toda noite lota. Há 50 anos.
Desde 16 de fevereiro de 1957, milhares de pessoas já foram ver a cantora careca, que nunca vai aparecer no palco simplesmente porque não é personagem da peça.
Um fenômeno, essa cantora careca. Um caso de longevidade único na história do teatro, oficializado no Guinness Book. Os espectadores que foram vê-la nesses 50 anos encheriam vários estádios de futebol. Até sábado, 3 de março, 1.504.392 pessoas já tinham assistido à peça de Eugène Ionesco, na montagem dirigida por Nicolas Bataille, que faz um dos seis papéis desde que descobriu a peça, em 1950.
"A cantora careca" é a primeira obra de um autor desconhecido na época. "Uma amiga romena me falou da peça de um amigo e me deu o texto", conta à Folha Nicolas Bataille. "Quis logo montá-la, apesar de me dizerem que era impossível." Em maio de 1950, a peça é encenada sob a direção de Bataille, mas é interrompida depois de 25 representações por falta de público e críticas desfavoráveis.
A "anti-peça", como chamou-a Ionesco -que queria fazer um texto abstrato-, não tinha ação. O título foi trocado num ensaio, quando um ator, em vez de falar de "um homem que tinha se casado com uma professora loura" disse "com uma cantora careca".
Nicolas Bataille insiste em remontá-la em 1957. Conta com a ajuda do cineasta Louis Malle, que lhe empresta mil francos. A peça deveria ficar em cartaz um mês. Está no mesmo teatro até hoje, ao lado de outro Ionesco, "A Lição", também em cartaz há 50 anos.
Bataille arrisca uma explicação : o teatro é o único que sobrou no Quartier Latin, freqüentado por estudantes e turistas; o texto é de qualidade e a peça é a montagem original. Uma centena de atores e atrizes já se revezaram nos nove papéis das duas peças, que reestrearam juntas e nunca saíram de cartaz.


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