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Foco
"A Cantora Careca" lota o mesmo teatro parisiense há mais de meio século
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
O teatro fica no Quartier Latin de Paris e tem o nome da
rua, La Huchette. Toda noite,
uma fila atrapalha a passagem
dos turistas que circulam em
torno do Boulevard Saint-Michel. Mas quem não reservou
não entra. O teatro só tem 92
lugares e toda noite lota. Há 50
anos.
Desde 16 de fevereiro de
1957, milhares de pessoas já
foram ver a cantora careca,
que nunca vai aparecer no palco simplesmente porque não é
personagem da peça.
Um fenômeno, essa cantora
careca. Um caso de longevidade único na história do teatro,
oficializado no Guinness
Book. Os espectadores que foram vê-la nesses 50 anos encheriam vários estádios de futebol. Até sábado, 3 de março,
1.504.392 pessoas já tinham
assistido à peça de Eugène Ionesco, na montagem dirigida
por Nicolas Bataille, que faz
um dos seis papéis desde que
descobriu a peça, em 1950.
"A cantora careca" é a primeira obra de um autor desconhecido na época. "Uma amiga
romena me falou da peça de
um amigo e me deu o texto",
conta à Folha Nicolas Bataille.
"Quis logo montá-la, apesar de
me dizerem que era impossível." Em maio de 1950, a peça
é encenada sob a direção de
Bataille, mas é interrompida
depois de 25 representações
por falta de público e críticas
desfavoráveis.
A "anti-peça", como chamou-a Ionesco -que queria
fazer um texto abstrato-, não
tinha ação. O título foi trocado
num ensaio, quando um ator,
em vez de falar de "um homem que tinha se casado com
uma professora loura" disse
"com uma cantora careca".
Nicolas Bataille insiste em
remontá-la em 1957. Conta
com a ajuda do cineasta Louis
Malle, que lhe empresta mil
francos. A peça deveria ficar
em cartaz um mês. Está no
mesmo teatro até hoje, ao lado
de outro Ionesco, "A Lição",
também em cartaz há 50 anos.
Bataille arrisca uma explicação : o teatro é o único que
sobrou no Quartier Latin, freqüentado por estudantes e turistas; o texto é de qualidade e
a peça é a montagem original.
Uma centena de atores e atrizes já se revezaram nos nove
papéis das duas peças, que
reestrearam juntas e nunca
saíram de cartaz.
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