São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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Crítica/"Fim da Linha"

Personagens viram cobaias na metrópole

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

No cenário brasileiro contemporâneo, "Fim da Linha" tem parentesco próximo com os filmes mais recentes de Sergio Bianchi ("Quanto Vale ou É por Quilo?"), com quem o diretor Gustavo Steinberg trabalhou como roteirista e produtor em "Cronicamente Inviável" (2000).
Aplicado a um olhar mordaz sobre algumas mazelas do país, o próprio raciocínio da inviabilidade crônica reaparece aqui, mas sem que teses sociopolíticas sejam invocadas para organizar a ficção. Steinberg parece acreditar que a ironia de seu argumento, já carregada de simbologias, dispense explicações.
Na metrópole caricatural onde se encenam a obsessão por dinheiro fácil, a impunidade, o individualismo e o desrespeito pelo outro, os personagens se movimentam como animais de laboratório que ilustrariam, com suas respostas a certos estímulos, o fim da picada a que chegamos.
Para acentuar o deserto de idéias, cabe ao deputado Ernesto Alves (Rubens de Falco) salpicar a trama com sua sabedoria, em frases que saem de sua boca ou são usadas em intertítulos, como "a sorte quase sempre põe tudo a perder" e "a crença é a mais desastrada das características humanas".
Com o armário cheio de dinheiro, que ele diz não saber de onde veio, o deputado ocupa um dos pólos no mosaico de personagens e tramas paralelas. Outro, de caráter supostamente mais nobre, pertence a um jornalista (Leonardo Medeiros), cujo idealismo está fora de lugar em ambiente social (e, no seu caso, também familiar) de tamanha desfaçatez.
O humor se ressente, no entanto, de alternâncias entre um registro mais naturalista, que tende a esvaziar situações e diálogos, e o tom de farsa, bem mais efetivo. Discursos em forma de conversas também não ajudam a tornar mais homogênea a narrativa. E, embora a ótima trilha sonora contribua para costurar os diversos núcleos dramáticos, às vezes eles parecem distantes um do outro, como seus personagens.


FIM DA LINHA
Produção:
Brasil, 2008
Direção: Gustavo Steinberg
Com: Rubens de Falco, Leonardo Medeiros e Maria Padilha
Onde: estréia hoje nos cines HSBC Belas Artes, Metrô Santa Cruz e Raposo Shopping
Avaliação: regular


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