São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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Crítica/"Sicko - $O$ Saúde"

Irritante e fascinante, Moore volta a mirar os males dos EUA

Embora sentimentalóide, documentário é importante peça de contrapropaganda em meio à guerra de informações

CRÍTICO DA FOLHA

Michael Moore não mudou. Continua manipulador, personalista e indulgente. Seu mais novo filme, "Sicko - $O$ Saúde", confirma sua vontade de ser uma espécie de "médico" dos EUA, com a pretensão de diagnosticar e curar as patologias sociais de um país.
Mas o fato é que Moore permanece, também, uma importante peça de contrapropaganda no cenário cada vez mais complexo da guerra de informações. Talvez ele deva ser observado mais como um fenômeno do estado atual da mídia do que como documentarista.
Em "Sicko", ele ataca o sistema de saúde em vigor nos EUA, que começou a ser privatizado no governo Nixon e hoje, como regra, oferece péssimos serviços à população.
Na primeira parte de "Sicko", Moore conta histórias de pessoas que enfrentaram doenças graves ou sofreram pequenos acidentes e se viram obrigados, por exemplo, a vender a casa.
Aos poucos, entendemos as engrenagens de um sistema movido exclusivamente pelo lucro. Na segunda parte, Moore viaja para outros países, como Canadá e França, para comparar os sistemas de saúde. É a hora do "alívio cômico" e também de uma vergonhosa idealização desses sistemas que, evidentemente, são mais eficientes que o americano, mas também devem guardar suas mazelas.
O último golpe de Moore é uma daquelas sacadas altamente manipuladoras -mas interessantes justamente por sua assumida parcialidade e radicalidade. Moore cria um fato que faz valer o filme. Ele desembarca em Cuba ao lado de bombeiros e de voluntários no resgate às vítimas do ataque no 11 de Setembro, que ficaram com seqüelas físicas e psicológicas, mas não encontraram amparo algum do Estado.
Primeiro, eles buscam assistência na prisão americana de Guantánamo, onde existiria um hospital-modelo; depois, conseguem consultas médicas e remédios gratuitos na terra de Fidel Castro. Moore não faz documentários de descobertas ou investigações, mas arregimenta imagens, argumentos e entrevistas que vão corroborar teses predeterminadas. Por tudo isso, é uma figura irritante e fascinante, mas o fato é que, no fim das contas, sempre toca em assuntos negligenciados pela mídia.
Mesmo sendo manipulador e sentimentalóide, é mais honesto que vários outros documentaristas pretensamente mais isentos. No empobrecido cenário do "ame-o ou deixe-o" da guerra das informações, talvez o melhor seja esperar e ver se, com o tempo, a história o absolverá. (PEDRO BUTCHER)

SICKO - $O$ SAÚDE
Produção:
EUA, 2007
Direção: Michael Moore
Onde: estréia hoje nos cines Frei Caneca, Lar Center e circuito
Avaliação: bom


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