São Paulo, sexta, 7 de março de 1997.

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Roqueiro americano de 59 anos se apresenta no Olympia no próximo dia 17 e diz que Elvis não inventou o rock
Little Richard promete história ao vivo

EDSON FRANCO
da Reportagem Local

No próximo dia 17, a casa paulistana Olympia mergulha nos anos 50 e recebe em seu palco o cantor, compositor e pianista norte-americano Little Richard. Aos 59 anos, o cantor diz que ainda é capaz de fazer uma platéia ferver e que consegue escapar da autoparódia.
Falando à Folha por telefone, de um quarto de hotel em Los Angeles, antes que qualquer pergunta fosse feita, o cantor assumiu postura digna de um pugilista e ligou sua metralhadora verbal.
"Avise aos brasileiros que eles vão ver a história ao vivo. O ícone do rock'n'roll. O homem que começou tudo isso. Eu sou o criador, o ícone, o original, o emancipador, o arquiteto. O rock'n'roll não foi uma invenção de Elvis Presley. Quem criou isso fui eu."
Passados mais de 40 anos desde a gênese do rock'n'roll, Richard chega aos anos 90 aprovando o monstro que ajudou a criar.
Mas, na hora de citar os músicos atuais que aprecia, o cantor se restringe quase que exclusivamente a cantores de rap.
"Gosto de Snoopy Doggy Dogg, Tupac Shakur, LL Cool J, Queen Latifah, Vanilla Ice, Hammer. Gosto quando eles tocam acelerado e fazem as pessoas dançarem."
Androginia
Além do rock'n'roll, Richard ajudou, com suas performances, a criar uma das vertentes mais polêmicas do rock, aquela que, em meados dos anos 70, cultuava a androginia, foi batizada de "glitter rock" e redirecionou as carreiras de David Bowie e Marc Bolan.
Richard diz ter abandonado esse aspecto da carreira. Para tanto, apresenta argumentos históricos.
"Veja bem. Todas as minhas músicas são sobre mulheres. `Long Tall Sally', `Lucille', `Miss Molly'. Amo as mulheres. Elas dão à luz. Elas são o lugar onde Deus continua a existir."
Religião e racismo
Em 1962, quando ainda lotava ginásios e via seus discos desaparecerem rapidamente das prateleiras, Richard resolveu abandonar o estrelato e dedicar sua vida a Deus.
"Foi uma junção de fatores. Eu queria voltar a estudar, e minha família é religiosa. Por isso, fui para Huntsville, no Estado do Alabama, e passei a estudar e a orar."
Esse Estado americano é marcado pelo estigma de ser palco dos maiores conflitos raciais dos EUA. Richard diz que passou incólume por esses conflitos.
"Os racistas não me incomodam muito, porque eu sei me defender com a língua. Detesto racismo. Não suporto. É uma coisa do inferno, de satã. Não deveria estar nesse mundo. Acredito que todos devem amar a todos."
O retiro espiritual de Richard durou pouco. Ventos vindos do Reino Unido devolveram o cantor ao rock'n'roll.
"Foi quando eu descobri os Beatles. Brian Epstein, o produtor deles, chegou a mim e disse que havia um grupo inglês que queria me conhecer e me apresentou os caras. E então, tocando em Hamburgo, os Beatles começaram a imitar meu jeito de cantar e a copiar minhas composições."
Shows
Garantindo que ainda canta os velhos hits com a mesma intensidade e paixão dos velhos dias, Richard diz que a idéia da aposentadoria não passa pela sua cabeça.
"Bons músicos não devem se aposentar jamais. Essa seria a chance para imitadores, ilusionistas e oportunistas fingirem ser uma coisa que não são, fazendo muito dinheiro com isso."

Show: Little Richard Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, zona oeste, tel. 011/252-6255) Quando: 17 de março, às 21h30 Quanto: de R$ 30 a R$ 70 (podem ser adquiridos pelo tel. 011/5589-8202)

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