|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Roqueiro americano de 59 anos se apresenta no Olympia no próximo dia 17 e diz que Elvis não inventou o rock
Little Richard promete história ao vivo
EDSON FRANCO
da Reportagem Local
No próximo dia 17, a casa paulistana Olympia mergulha nos anos
50 e recebe em seu palco o cantor,
compositor e pianista norte-americano Little Richard. Aos 59 anos,
o cantor diz que ainda é capaz de
fazer uma platéia ferver e que consegue escapar da autoparódia.
Falando à Folha por telefone, de
um quarto de hotel em Los Angeles, antes que qualquer pergunta
fosse feita, o cantor assumiu postura digna de um pugilista e ligou
sua metralhadora verbal.
"Avise aos brasileiros que eles
vão ver a história ao vivo. O ícone
do rock'n'roll. O homem que começou tudo isso. Eu sou o criador,
o ícone, o original, o emancipador, o arquiteto. O rock'n'roll não
foi uma invenção de Elvis Presley.
Quem criou isso fui eu."
Passados mais de 40 anos desde a
gênese do rock'n'roll, Richard
chega aos anos 90 aprovando o
monstro que ajudou a criar.
Mas, na hora de citar os músicos
atuais que aprecia, o cantor se restringe quase que exclusivamente a
cantores de rap.
"Gosto de Snoopy Doggy Dogg,
Tupac Shakur, LL Cool J, Queen
Latifah, Vanilla Ice, Hammer.
Gosto quando eles tocam acelerado e fazem as pessoas dançarem."
Androginia
Além do rock'n'roll, Richard
ajudou, com suas performances, a
criar uma das vertentes mais polêmicas do rock, aquela que, em
meados dos anos 70, cultuava a
androginia, foi batizada de "glitter rock" e redirecionou as carreiras de David Bowie e Marc Bolan.
Richard diz ter abandonado esse
aspecto da carreira. Para tanto,
apresenta argumentos históricos.
"Veja bem. Todas as minhas
músicas são sobre mulheres.
`Long Tall Sally', `Lucille', `Miss
Molly'. Amo as mulheres. Elas dão
à luz. Elas são o lugar onde Deus
continua a existir."
Religião e racismo
Em 1962, quando ainda lotava ginásios e via seus discos desaparecerem rapidamente das prateleiras, Richard resolveu abandonar o
estrelato e dedicar sua vida a Deus.
"Foi uma junção de fatores. Eu
queria voltar a estudar, e minha família é religiosa. Por isso, fui para
Huntsville, no Estado do Alabama, e passei a estudar e a orar."
Esse Estado americano é marcado pelo estigma de ser palco dos
maiores conflitos raciais dos EUA.
Richard diz que passou incólume
por esses conflitos.
"Os racistas não me incomodam muito, porque eu sei me defender com a língua. Detesto racismo. Não suporto. É uma coisa do
inferno, de satã. Não deveria estar
nesse mundo. Acredito que todos
devem amar a todos."
O retiro espiritual de Richard
durou pouco. Ventos vindos do
Reino Unido devolveram o cantor
ao rock'n'roll.
"Foi quando eu descobri os Beatles. Brian Epstein, o produtor deles, chegou a mim e disse que havia
um grupo inglês que queria me conhecer e me apresentou os caras. E
então, tocando em Hamburgo, os
Beatles começaram a imitar meu
jeito de cantar e a copiar minhas
composições."
Shows
Garantindo que ainda canta os
velhos hits com a mesma intensidade e paixão dos velhos dias, Richard diz que a idéia da aposentadoria não passa pela sua cabeça.
"Bons músicos não devem se
aposentar jamais. Essa seria a
chance para imitadores, ilusionistas e oportunistas fingirem ser
uma coisa que não são, fazendo
muito dinheiro com isso."
Show: Little Richard
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, zona oeste,
tel. 011/252-6255)
Quando: 17 de março, às 21h30
Quanto: de R$ 30 a R$ 70 (podem ser
adquiridos pelo tel. 011/5589-8202)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|