São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2000


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TELEVISÃO
Baseada em comédias de costumes como "Friends", "Dois Apês" estréia hoje no Canal Universitário
A nanica TV USP entra na era da sitcom

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

Uma emissora de TV de alcance local tenta, hoje, quebrar um tabu no Brasil. A TV USP -só sintonizada por assinantes de TV a cabo na Grande São Paulo- quer, com a estréia de "Dois Apês", provar que é possível fazer sitcom no Brasil. A produção de uma comédia de costumes -na tradução usual do formato mais amado pelos espectadores norte-americanos- foi tentada pela TV Bandeirantes recentemente (leia texto abaixo), mas naufragou.
Mas o projeto "Dois Apês" tem limites claros. De início, um verdadeiro paradoxo, a sitcom só terá um capítulo novo a cada mês. Não parece ser a melhor receita para conquistar audiência.
"Não é o ideal, é o possível", diz Marília Franco, diretora da TV USP, cujo orçamento total é de cerca de R$ 30 mil mensais. Ela sublinha o custo -ínfimo- máximo de cada capítulo: R$ 2 mil. Para o piloto, foram gastos cerca de R$ 10 mil. Como termo de comparação, cada capítulo de uma novela da TV Globo custa, em média, R$ 80 mil.
É a estréia, também, de um programa de dramaturgia no Canal Universitário, que reúne ainda outras oito universidades paulistanas. "Dois Apês" difere, em conteúdo e linguagem, das demais atrações do Canal, concentradas em debates e entrevistas com personalidades da "comunidade acadêmica".
O sitcom, inspirado razoavelmente em "Friends" e (vagamente, muito vagamente) em "Seinfeld", segundo um de seus criadores e diretor, Alexandre Klemperer, 26, coloca em cena sete estudantes universitários que dividem duas repúblicas vizinhas. Hoje, na estréia, Hermano, Betão, Mauro e Oscar conhecem Adriana, Clara e Bel, as colegas que acabam de se mudar para o apartamento vizinho.
Os personagens não discutem fissão nuclear ou estratégias para conseguir uma bolsa da Fapesp, mas a melhor forma de cantar uma garota, virgindade e homossexualismo.
"A sitcom veio dar forma a um projeto meu, que era levar entretenimento e bom humor, mas sem estereótipos, à TV USP", define Kemplerer.
O programa, que não tem qualquer requinte de produção e acabamento -as funções técnicas foram executadas por diretores, produtores e roteiristas-, tenta compensar as dificuldades com um roteiro razoável e um elenco voluntarioso, que foi recrutado na própria USP para receber cachês "simbólicos".
Mas, com a leveza de seu conteúdo, é difícil considerar "Dois Apês" "formativo e informativo", como, segundo o artigo 2º do código de ética do Canal Universitário, devem ser todos os programas ali veiculados.
"Não acho. A sitcom é formativa e informativa sem ser careta. Ela retrata a vida dos alunos, seus conflitos, medos. Nada impede que ela gere uma discussão, uma reflexão sobre o indivíduo", diz a diretora Marília. "Além disso, desanuvia um pouco a angústia dos pais que têm seus filhos morando em repúblicas."
A diretora também vê ganhos no fato de "Dois Apês" exercer uma "pesquisa de linguagem" por ser um "produto sem patrocínio". "Acho que essa é a principal virtude do Canal Universitário. Buscamos sair das camisas-de-força modelares que, eventualmente, o patrocínio impõe."
Nada poderia ser mais exemplar como justificativa do discurso acima do que os "investimentos" em divulgação da sitcom: três outdoors dentro da Cidade Universitária, chamadas apenas no Canal Universitário e um milheiro de cartões-postais, desses que são distribuídos em alguns bares moderninhos da cidade.


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