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TELEVISÃO
Baseada em comédias de costumes como "Friends", "Dois Apês" estréia hoje no Canal Universitário
A nanica TV USP entra na era da sitcom
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Uma emissora de TV de alcance
local tenta, hoje, quebrar um tabu
no Brasil. A TV USP -só sintonizada por assinantes de TV a cabo
na Grande São Paulo- quer,
com a estréia de "Dois Apês",
provar que é possível fazer sitcom
no Brasil. A produção de uma comédia de costumes -na tradução usual do formato mais amado
pelos espectadores norte-americanos- foi tentada pela TV Bandeirantes recentemente (leia texto
abaixo), mas naufragou.
Mas o projeto "Dois Apês" tem
limites claros. De início, um verdadeiro paradoxo, a sitcom só terá um capítulo novo a cada mês.
Não parece ser a melhor receita
para conquistar audiência.
"Não é o ideal, é o possível", diz
Marília Franco, diretora da TV
USP, cujo orçamento total é de
cerca de R$ 30 mil mensais. Ela
sublinha o custo -ínfimo- máximo de cada capítulo: R$ 2 mil.
Para o piloto, foram gastos cerca
de R$ 10 mil. Como termo de
comparação, cada capítulo de
uma novela da TV Globo custa,
em média, R$ 80 mil.
É a estréia, também, de um programa de dramaturgia no Canal
Universitário, que reúne ainda
outras oito universidades paulistanas. "Dois Apês" difere, em
conteúdo e linguagem, das demais atrações do Canal, concentradas em debates e entrevistas
com personalidades da "comunidade acadêmica".
O sitcom, inspirado razoavelmente em "Friends" e (vagamente, muito vagamente) em "Seinfeld", segundo um de seus criadores e diretor, Alexandre Klemperer, 26, coloca em cena sete estudantes universitários que dividem duas repúblicas vizinhas.
Hoje, na estréia, Hermano, Betão,
Mauro e Oscar conhecem Adriana, Clara e Bel, as colegas que acabam de se mudar para o apartamento vizinho.
Os personagens não discutem
fissão nuclear ou estratégias para
conseguir uma bolsa da Fapesp,
mas a melhor forma de cantar
uma garota, virgindade e homossexualismo.
"A sitcom veio dar forma a um
projeto meu, que era levar entretenimento e bom humor, mas
sem estereótipos, à TV USP", define Kemplerer.
O programa, que não tem qualquer requinte de produção e acabamento -as funções técnicas
foram executadas por diretores,
produtores e roteiristas-, tenta
compensar as dificuldades com
um roteiro razoável e um elenco
voluntarioso, que foi recrutado na
própria USP para receber cachês
"simbólicos".
Mas, com a leveza de seu conteúdo, é difícil considerar "Dois
Apês" "formativo e informativo",
como, segundo o artigo 2º do código de ética do Canal Universitário, devem ser todos os programas ali veiculados.
"Não acho. A sitcom é formativa e informativa sem ser careta.
Ela retrata a vida dos alunos, seus
conflitos, medos. Nada impede
que ela gere uma discussão, uma
reflexão sobre o indivíduo", diz a
diretora Marília. "Além disso, desanuvia um pouco a angústia dos
pais que têm seus filhos morando
em repúblicas."
A diretora também vê ganhos
no fato de "Dois Apês" exercer
uma "pesquisa de linguagem"
por ser um "produto sem patrocínio". "Acho que essa é a principal
virtude do Canal Universitário.
Buscamos sair das camisas-de-força modelares que, eventualmente, o patrocínio impõe."
Nada poderia ser mais exemplar como justificativa do discurso acima do que os "investimentos" em divulgação da sitcom: três
outdoors dentro da Cidade Universitária, chamadas apenas no
Canal Universitário e um milheiro de cartões-postais, desses que
são distribuídos em alguns bares
moderninhos da cidade.
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