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CARLOS HEITOR CONY
O primeiro centenário da ópera "Tosca"
Já começa a ser comemorado o
primeiro centenário da ópera
"Tosca", de Puccini, uma das
mais populares do repertório lírico e uma das mais representadas
em todo o mundo, inclusive com
algumas versões cinematográficas. Antes de mais nada, o drama
musical teve um antecedente glorioso no palco: Sarah Bernhardt
incorporou o papel de Floria Tosca entre os principais de sua carreira.
O drama original, de Victorien
Sardou, recebeu acusação de plágio por parte de um irmão de
Daudet, que reivindicava a primazia de ter escrito o caso da cantora que assassina o chefe de polícia de Roma no dia seguinte ao da
batalha de Marengo.
Nem assim a idéia parece ter
pertencido a Daudet. Um autor
americano, Maurice Barrymore,
garante que a cena final, o fuzilamento simulado do herói, era de
um drama seu, "Nadjeska", de
1884.
De quem quer que tenha sido a
idéia do drama, e por mais brilhante que Sarah Bernhardt tenha sido no palco, a história de
Tosca não duraria cem anos se
não fosse a música de Puccini.
Toscano, nascido em Lucca,
Giacomo Puccini (1858-1924) é
considerado o primeiro músico
que conquistou o público internacional. A crítica moderna vê nele,
ao mesmo tempo, o sucessor de
Verdi e o "fundador do moderno
musical do teatro" -um ramo
que cresceria mais tarde com Victor Herbert, Radolphe Friml, Vincent Youmans, Jerome Kern,
George Gershwin e Cole Porter.
Todos, de certa forma, usaram recursos melódicos e bossas especiais criadas por Puccini.
"Tosca" foi a ópera romana do
autor que ganhara notoriedade
com dois dramas franceses: "Manon Lescaut", de Abbé Prévost,
musicado também por Massenet e
Auber, e "La Bohème", inspirada
em "Scènes de la Vie de Bohème",
de Henri Murger, também musicada por Leoncavallo.
Mais uma vez, ele recorria a um
drama francês de um autor da
moda, mas Puccini desejava fazer
uma ópera que tivesse a ver com a
cidade de Roma e com seus mitos,
sua luxúria, seus crimes.
As duas óperas anteriores já lhe
haviam garantido o pódio deixado vago por Verdi. A aceitação de
sua música, brilhantemente orquestrada, de linha melódica inconfundível e não raras vezes roçando pelo popular, foi fulminante nos Estados Unidos. Thomas
Edison mandou-lhe de presente
um gramofone em que a tuba era
de ouro, com a inscrição: "Outros
farão inventos maiores do que o
meu. Mas ninguém fará música
melhor do que Puccini".
Anos mais tarde, em Nova York,
quando estreou "The Girl of the
Golden West", drama de David
Belasco, Puccini foi considerado o
homem mais popular do mundo
entre os americanos. E, no Japão,
apesar das restrições ideológicas a
"Madame Butterfly", ele era o
maior símbolo da cultura ocidental. Somente os alemães não gostaram de "Tosca". A ópera foi
considerada nojenta, obscena, de
criminosa vulgaridade. Nada a
ver com a música em si, mas com
a história.
Floria Tosca, cantora famosa, é
amante do pintor Mario Cavaradossi, que está pintando uns afrescos na basílica de Sant"Andréa del
Valle. Um prisioneiro político foge
do castelo Sant'Angelo e, com a
cumplicidade do pintor, esconde-se num altar lateral da igreja. O
chefe de polícia, o barão Scarpia,
vai à igreja onde haverá um Te
Deum pela derrota de Napoleão
em Marengo -um boato que não
se confirmaria, mas que está sendo comemorado pela classe dominante romana, julgando-se livre
do general que espalhava pela Europa as conquistas da Revolução
Francesa.
Ajudado pelo sacristão, Scarpia
desconfia que o pintor escondeu o
fugitivo. Cobiçando Tosca, sente
ali o caminho para a conquista
violenta, que ele diz preferir ao
"melífluo consenso".
Prende Cavaradossi e manda
chamar a cantora. Os esbirros torturam o pintor, cujos gritos fazem
Tosca denunciar o esconderijo do
fugitivo. Neste momento, chega a
notícia de que Napoleão vencera
em Marengo. Scarpia pergunta
pelo general Mélas, comandante
das tropas austríacas que tentavam impedir a conquista da Itália. Mélas fugira. Banhado em
sangue, Cavaradossi canta vitória
e amaldiçoa Tosca, que revelara o
seu segredo. É condenado ao fuzilamento, tem uma hora de vida.
Scarpia condiciona a sentença a
uma hora de amor com Tosca. Ela
tenta suborná-lo, diz que nada
tem, viveu sempre da arte e do
amor ("vissi d'arte, vissi d'amore"
-uma das mais famosas árias do
repertório lírico). Scarpia insiste,
Tosca o mata, mas antes obrigara
o barão a assinar um salvo-conduto para ela e seu amante, que
teria um fuzilamento simulado.
Corre ao castelo Sant'Angelo, levando a salvação de Cavaradossi.
Avisa-o que o fuzilamento será simulado. Aos disparos do pelotão,
ele deverá cair como morto. Depois fugiriam.
Mas Scarpia também simulara.
O fuzilamento é real. Mario morre, os soldados buscam a assassina
de Scarpia. Tosca se atira do alto
do castelo.
Como se nota, um drama bem
século 19. Mas a música de Puccini, velha de cem anos, continua
atual. Temas de sua ópera são tocados todos os dias em todas as
partes do mundo.
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