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FOTOGRAFIA
Claudia Andujar apresenta série sobre índios produzida nos anos 70, no Memorial da América Latina, em SP
Mostra flagra o (in)visível dos ianomâmis
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A fotógrafa Claudia Andujar
chegou ao Brasil em 1955. Aos 24
anos, veio visitar a mãe, uma suíça
que se estabeleceu aqui, fugindo
da Segunda Guerra -seu marido
foi morto no campo de concentração de Auschwitz. Antes, Claudia, que nasceu na Hungria, passara 11 anos em Nova York. Chegou aqui, se enamorou pelo país e
estabeleceu residência.
Três anos depois, como free-lance para a revista "Realidade"
(onde trabalhou com seu marido,
George Love), a fotógrafa se enamora mais uma vez, desta vez pelos ianomâmis.
O resultado dessa relação pode
ser visto a partir de hoje, no Memorial da América Latina, na
mostra "Yanomami", com imagens dos anos 70, inéditas em São
Paulo, vistas pela primeira vez em
98, em Curitiba, e que constam do
livro "Yanomami".
"Não quis mostrar essas fotos
antes pois sou militante da causa
indígena e não queria politizar essas imagens", diz Claudia. A mostra é dividida em três temas: "A
Casa", "A Floresta" e "O Invisível". As imagens não são um mero registro documental. Sem as visões esteticamente perfeitas de
Sebastião Salgado, com seu olhar
melífluo sobre os empobrecidos,
Claudia registra o dia-a-dia dos
ianomâmis, sem estabelecer uma
relação de sujeito-objeto.
Na semana passada, Claudia falou com a Folha sobre sua história
com os ianomâmis, em seu apartamento, repleto de imagens e objetos indígenas -a exceção é uma
escultura de José Rezende.
Folha - Suas imagens sobre os ianomâmis não são documentais...
Claudia Andujar - Eu não sou antropóloga, sou fotógrafa. Assumi
a defesa dos direitos humanos dos
ianomâmis, uma coisa que eu vou
fazer até o fim da minha vida. O
que me empurrou a fazer isso é o
afeto que eu tenho por eles.
Folha - Você conseguiu grande
cumplicidade nas fotos. Como foi o
processo?
Claudia - Eu não carregava a câmera o tempo todo. No começo
eu quis conhecê-los e entender
quem eram, como manter um
bom relacionamento. Fotografar
é sempre uma agressão. Fiz as fotos quando me senti à vontade e
senti que eles também estavam à
vontade, a ponto de minha presença física passar despercebida.
A parte da mostra chamada "O
Invisível", e que trata do xamanismo, reflete o mundo dos espíritos,
que é muito importante para os
ianomâmis. O que me interessava
era recriar esse sentido deles de se
dar com o mundo sobrenatural.
Folha - Essas imagens antecipam,
em certo modo, a produção contemporânea...
Claudia - Olha, eu nunca me baseei na moda. Já me perguntaram
muitas vezes se eu fiquei influenciada por algum fotógrafo. Sim,
mas não por tentar fotografar como eles. Fiquei muito impressionada pelo trabalho do Eugene
Smith, dos EUA, pela ética e o envolvimento dele. Desse ponto de
vista, sim, a trajetória de outros
fotógrafos me marcou muito. Eu
tentei criar uma linguagem que
correspondesse ao que eu sentia
de como eram os ianomâmis.
Exposição: Yanomami
Onde: Memorial da América Latina
- Marta Traba (av. Auro Soares de Moura
Andrade, 664, tel. 0/xx/11/3823-9611)
Quando: de ter. a dom., das 9h às 18h;
até 29 de abril
Quanto: entrada franca
Livro: Yanomami
Autora: Claudia Andujar
Editora: DBA
Quanto: R$ 28 (103 págs.)
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