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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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"Interfaces Contemporâneas", com 200 artistas, comemora aniversário do museu

MAC, 40, convida para o banquete

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A mesa está posta. Cerca de 200 artistas foram convidados a participar do banquete que o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo prepara, a partir de amanhã, para comemorar seus 40 anos. A maior parte são artistas já consagrados, mas há também um penetra.
Elza Ajzenberg, diretora do MAC, utiliza-se da mesa como metáfora para retratar a história da instituição, criada pelo industrial e mecenas Ciccillo Matarazzo, em 1963. "Como bom filho de imigrantes italianos, Ciccillo observou o seu tempo. Soube selecionar os elementos mais saborosos ou mais instigantes de artistas", afirma Ajzenberg.
Uma das sete salas da mostra é composta inteiramente por obras em que a mesa é o tema: há duas "Santa Ceia", uma de Brecheret e outra de Volpi, e telas de Matisse e Maria Leontina, entre outras.
"Com um acervo de mais de 8.500 obras, foi muito difícil selecionar apenas 200 para a mostra", diz Ajzenberg, que divide a curadoria da exposição com outras pesquisadoras do museu.
No menu que Ciccillo legou ao MAC estão algumas das mais "saborosas" obras do século 20, como o auto-retrato de Modigliani, único realizado pelo artista, ou obras de Picasso, Kandinsky, De Chirico e Marc Chagall, todas expostas na mostra.
Criador da Bienal de São Paulo, em 1951, e do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1948, Ciccillo era um mecenas impetuoso. Em 1962, logo após se separar da mulher, Yolanda Penteado, decidiu definir o destino de sua coleção particular: doou toda ela à Universidade de São Paulo.
No ano seguinte, o empresário consegue extinguir o MAM, na época dirigido por Mário Pedrosa, e transferir todo seu patrimônio ao novo museu, o MAC.
Em 8 de abril de 1963, que remete à comemoração dos exatos 40 anos amanhã, o MAC recebia 1.263 obras do acervo do MAM.
"A preocupação de Ciccillo era dispor o acervo em uma instituição pública e de pesquisa, o que é um dos eixos de nossa preocupação. Além do mais, Ciccillo tinha um excelente olhar para a arte de sua época, que hoje chamamos moderna, mas na época era contemporânea", explica a curadora.
Por isso, a mostra que celebra os 40 anos é denominada "Interfaces Contemporâneas", apesar de grande parte conter os modernos até então citados.
Mas há também os contemporâneos, como Regina Silveira, Nelson Leirner e Cildo Meireles, para citar os brasileiros, ou então o alemão Joseph Beys e o venezuelano Jesus Rafael Soto, que comparece com uma monumental obra penetrável, que foi destaque na Bienal de São Paulo, em 1994. O homenageado da exposição é o pintor octogenário Arcângello Ianelli.
E o penetra? Entre tantos nomes consagrados na história da arte expostos no MAC, encontra-se também uma tela de Romero Britto, o brasileiro que tem obras no acervo de Michael Jordan, Arnold Schwarzenegger e Whitney Houston, mas nunca participou de bienais ou mostras em museus importantes, seja no Brasil ou no exterior. Provocação?
"Acredito ser importante discutir a obra de Britto, que trabalha com questões contemporâneas. A crítica de arte está defasada. Há muitos que não gostam dele apenas por seu sucesso comercial, mas, no Renascimento, por exemplo, importantes artistas trabalhavam em lojas, para vender mais, e não em ateliês", responde Daisy Peccinini, a curadora responsável pela escolha.
Como em toda a festa, os penetras vão dar o que falar.


MAC USP 40 ANOS INTERFACES CONTEMPORÂNEAS. Mostra com 200 obras do acervo do museu. Curadoria: Elza Ajzenberg e equipe do museu. Onde: Museu de Arte Contemporânea da USP (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3091-3327). Quando: amanhã, 18h30; de ter. a dom., das 10h às 19h, sáb. e dom., das 10h às 16h. Até 8/6. Quanto: entrada franca.


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