São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Luiz Tatit refuta o "fim da canção" em novo álbum

Trabalho traz parcerias com Marcelo Jeneci, Alice Ruiz, Dante Ozzetti, Jonas Tatit, Capiba e Itamar Assumpção

Letras de Itamar Assumpção fazem parte de lote deixado pelo artista antes da morte e foram compostas para Ná Ozzetti e Zélia Duncan


MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A canção vai mesmo acabar, como profetizaram, entre tantos, o pesquisador José Ramos Tinhorão e o compositor Chico Buarque? Personagem de uma das faixas de "Sem Destino", novo CD de Luiz Tatit, Jaqueline passa a vida se preparando para esse dia derradeiro.
Como na fábula "A Cigarra e a Formiga", ela passa o verão inteiro fazendo versos e melodias, que guarda para o futuro, "quando o inverno chegar, quando a canção acabar".
Nada mais típico do universo de Tatit. Desde os tempos do grupo Rumo, ele estabelece diálogos entre forma e conteúdo, ou seja, a música fala da música, a poesia fala de poesia. Exemplos. "A Volta do Sabiá", outra faixa de "Sem Destino", conversa diretamente com a "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias. "Relembrando Nazareth" usa 35 títulos de obras dele, Ernesto Nazareth.
"A gente acaba falando daquilo que é biografia da gente", diz Tatit. "Na jovem guarda, os compositores falavam dos carrões, das namoradas. No meu caso, levando uma vida acadêmica, esses temas são assuntos de aula, não tem como não vazar [para a composição]."
Tatit cuida para que essa impressão de "estudo acadêmico" não transpareça demais no resultado das canções. "O meu esforço é para que elas não fiquem metalinguagem. Música tem que ser linguagem. As canções não dependem dessas citações para funcionar." Sempre se equilibrando na linha que separa (ou une) humor e melancolia, Tatit se especializou em fazer a crônica do imponderável. Vasculha o abismo que há entre o que as pessoas esperavam da vida e o que a vida delas de fato se tornou.
Como nos versos da faixa-título: "Tudo que era o meu destino/ Na verdade nunca me aconteceu/ Pode ter acontecido pra alguma pessoa/ Mas não era eu/ (...)/ Ser assim tão sem destino me preocupa muito/ Me deixa infeliz/ Sempre quis o meu destino/ Foi o meu destino que nunca me quis".
Graças principalmente às parcerias com músicos -como Marcelo Jeneci, Dante Ozzetti, Jonas Tatit, Itamar Assumpção e Capiba- , "Sem Destino" está entre os discos mais "cantáveis" de Tatit, artista totalmente vinculado ao canto falado. Com apenas quatro versos, "Quem Sabe", a de Itamar, encerra o disco como um mantra.
A letra faz parte de um lote de 12, deixado pelo artista pouco antes da morte. Sua vontade era que virassem um álbum de Ná Ozzetti ou Zélia Duncan, mas ele nunca aconteceu.
Retomando um dos principais temas do disco, Tatit diz que "não existe a menor possibilidade de a canção acabar". "O que modifica são os meios de divulgação, a maneira de compor, o jeito de lidar com a canção. Mas, enquanto houver alguém falando, a canção sai. Não daria nem para ninar uma criança se a canção acabasse."


SEM DESTINO

Artista: Luiz Tatit
Lançamento: Dabliú Discos
Quanto: R$ 24




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