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Luiz Tatit refuta o "fim da canção" em novo álbum
Trabalho traz parcerias com Marcelo Jeneci, Alice Ruiz, Dante Ozzetti, Jonas Tatit, Capiba e Itamar Assumpção
Letras de Itamar Assumpção fazem parte de lote deixado pelo artista antes da morte e foram compostas para Ná Ozzetti e Zélia Duncan
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A canção vai mesmo acabar,
como profetizaram, entre tantos, o pesquisador José Ramos
Tinhorão e o compositor Chico
Buarque? Personagem de uma
das faixas de "Sem Destino",
novo CD de Luiz Tatit, Jaqueline passa a vida se preparando
para esse dia derradeiro.
Como na fábula "A Cigarra e
a Formiga", ela passa o verão
inteiro fazendo versos e melodias, que guarda para o futuro,
"quando o inverno chegar,
quando a canção acabar".
Nada mais típico do universo
de Tatit. Desde os tempos do
grupo Rumo, ele estabelece
diálogos entre forma e conteúdo, ou seja, a música fala da música, a poesia fala de poesia.
Exemplos. "A Volta do Sabiá", outra faixa de "Sem Destino", conversa diretamente com
a "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias. "Relembrando Nazareth" usa 35 títulos de obras
dele, Ernesto Nazareth.
"A gente acaba falando daquilo que é biografia da gente",
diz Tatit. "Na jovem guarda, os
compositores falavam dos carrões, das namoradas. No meu
caso, levando uma vida acadêmica, esses temas são assuntos
de aula, não tem como não vazar [para a composição]."
Tatit cuida para que essa impressão de "estudo acadêmico"
não transpareça demais no resultado das canções. "O meu esforço é para que elas não fiquem metalinguagem. Música
tem que ser linguagem. As canções não dependem dessas citações para funcionar."
Sempre se equilibrando na linha que separa (ou une) humor
e melancolia, Tatit se especializou em fazer a crônica do imponderável. Vasculha o abismo
que há entre o que as pessoas
esperavam da vida e o que a vida delas de fato se tornou.
Como nos versos da faixa-título: "Tudo que era o meu destino/ Na verdade nunca me
aconteceu/ Pode ter acontecido pra alguma pessoa/ Mas não
era eu/ (...)/ Ser assim tão sem
destino me preocupa muito/
Me deixa infeliz/ Sempre quis o
meu destino/ Foi o meu destino que nunca me quis".
Graças principalmente às
parcerias com músicos -como
Marcelo Jeneci, Dante Ozzetti,
Jonas Tatit, Itamar Assumpção
e Capiba- , "Sem Destino" está
entre os discos mais "cantáveis" de Tatit, artista totalmente vinculado ao canto falado.
Com apenas quatro versos,
"Quem Sabe", a de Itamar, encerra o disco como um mantra.
A letra faz parte de um lote de
12, deixado pelo artista pouco
antes da morte. Sua vontade
era que virassem um álbum de
Ná Ozzetti ou Zélia Duncan,
mas ele nunca aconteceu.
Retomando um dos principais temas do disco, Tatit diz
que "não existe a menor possibilidade de a canção acabar". "O
que modifica são os meios de
divulgação, a maneira de compor, o jeito de lidar com a canção. Mas, enquanto houver alguém falando, a canção sai. Não
daria nem para ninar uma
criança se a canção acabasse."
SEM DESTINO
Artista: Luiz Tatit
Lançamento: Dabliú Discos
Quanto: R$ 24
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