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ARTES PLÁSTICAS
Novo diretor do Museu Nacional de Belas Artes aposta em doações para reerguer "moribundo maquiado"
"Precariedade ameaça MNBA", diz Herkenhoff
RODRIGO MOURA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"Sempre pensei muito no Museu Nacional. Meu sonho na vida
era trabalhar nesse lugar."
A declaração é do crítico e curador Paulo Herkenhoff, 54, que há
pouco mais de um mês foi indicado pelo governo federal para dirigir o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio, após temporada de três anos como curador-adjunto no MoMA de Nova York.
Símbolo da cultura artística brasileira do século 19, fundado em
1937 a partir da Escola Nacional
de Belas Artes, o MNBA tem uma
das mais importantes coleções
brasileiras do Novecento. Contudo, nos últimos anos, suas exposições temporárias e novas aquisições andam com menos crédito.
"O Império colecionou melhor
que a República. A República Velha, melhor do que a que temos
hoje. A última aquisição importante se deu no governo Sarney",
diz o diretor, citando não apenas
lacunas de obras, artistas e períodos, mas problemas físicos na
guarda da coleção. Diante do
diagnóstico, ainda assim Herkenhoff aposta em garimpar doações como o começo de suas atividades na casa -enquanto o dinheiro não chega. Ele recebeu a
Folha para esta conversa.
Folha - Como se deu a nomeação?
Paulo Herkenhoff - A decisão de
mudar a direção se deu ainda no
processo de transição. Eu chego
ao museu no final de março, com
certa sensação de ter chegado tarde. Estamos, por enquanto, produzindo um diagnóstico parcial
desse moribundo maquiado.
Folha - Qual seria o diagnóstico?
Herkenhoff - O museu, até o ano
passado, teve uma programação
importante graças a algumas pessoas que trouxeram projetos. Mas
há grande precariedade técnica, a
ponto de botar em risco o patrimônio. Não sei se essa situação é
muito diferente da de Ouro Preto.
Para ter idéia, não há brigada anti-incêndio, mas há quatro curtos-circuitos por ano. Choveu a 15
centímetros de um quadro do Velázquez. O compromisso ético de
uma geração é receber um acervo,
cuidar e legar às próximas gerações em melhor estado.
Folha - Qual a sua diretriz para a
coleção?
Herkenhoff - O museu vive um
último momento para completar
algumas lacunas. Ainda é possível
compor uma coleção colonial e
suprir lacunas do modernismo.
Existe uma falha em relação ao século 20. Há uma ausência de concretismo paulista. É uma coleção
que precisa ser nacional e não se
centralizar apenas no Rio.
Folha - Já há algo sistemático?
Herkenhoff - Não há dinheiro
por enquanto. A situação orçamentária do museu é ridícula.
Folha - Você doou algo, não?
Herkenhoff - Eu já. A primeira
peça foi uma gravura da Louise
Bourgeois. As primeiras doações
de arte brasileira já aparecem:
Alex Flemming doou uma peça,
Emanuel Nassar também. São
obras dos anos 80 e 90, o que confere espessura histórica. Agora
Louise Bourgeois está doando 28
desenhos que pertenciam a ela, de
artistas como Le Corbusier e Derain, e uma coleção de 250 gravuras, desde Daumier e Toulouse-Lautrec até Picasso e Bonnard.
Folha - De que maneira o seu projeto se relaciona com o projeto federal para a cultura?
Herkenhoff - É muito pouca coisa que eu pensaria diferente, pelo
que eu tenho visto das diretrizes.
Sobre essa questão polêmica da
inclusão social, evidentemente
que isso não é papel do artista, do
curador. Isso cabe à instituição.
Na área de educação, meu plano é
trabalhar com 700 mil crianças da
rede municipal de ensino.
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