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São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Novo diretor do Museu Nacional de Belas Artes aposta em doações para reerguer "moribundo maquiado"

"Precariedade ameaça MNBA", diz Herkenhoff

RODRIGO MOURA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Sempre pensei muito no Museu Nacional. Meu sonho na vida era trabalhar nesse lugar."
A declaração é do crítico e curador Paulo Herkenhoff, 54, que há pouco mais de um mês foi indicado pelo governo federal para dirigir o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio, após temporada de três anos como curador-adjunto no MoMA de Nova York.
Símbolo da cultura artística brasileira do século 19, fundado em 1937 a partir da Escola Nacional de Belas Artes, o MNBA tem uma das mais importantes coleções brasileiras do Novecento. Contudo, nos últimos anos, suas exposições temporárias e novas aquisições andam com menos crédito.
"O Império colecionou melhor que a República. A República Velha, melhor do que a que temos hoje. A última aquisição importante se deu no governo Sarney", diz o diretor, citando não apenas lacunas de obras, artistas e períodos, mas problemas físicos na guarda da coleção. Diante do diagnóstico, ainda assim Herkenhoff aposta em garimpar doações como o começo de suas atividades na casa -enquanto o dinheiro não chega. Ele recebeu a Folha para esta conversa.
 

Folha - Como se deu a nomeação?
Paulo Herkenhoff -
A decisão de mudar a direção se deu ainda no processo de transição. Eu chego ao museu no final de março, com certa sensação de ter chegado tarde. Estamos, por enquanto, produzindo um diagnóstico parcial desse moribundo maquiado.

Folha - Qual seria o diagnóstico?
Herkenhoff -
O museu, até o ano passado, teve uma programação importante graças a algumas pessoas que trouxeram projetos. Mas há grande precariedade técnica, a ponto de botar em risco o patrimônio. Não sei se essa situação é muito diferente da de Ouro Preto. Para ter idéia, não há brigada anti-incêndio, mas há quatro curtos-circuitos por ano. Choveu a 15 centímetros de um quadro do Velázquez. O compromisso ético de uma geração é receber um acervo, cuidar e legar às próximas gerações em melhor estado.

Folha - Qual a sua diretriz para a coleção?
Herkenhoff -
O museu vive um último momento para completar algumas lacunas. Ainda é possível compor uma coleção colonial e suprir lacunas do modernismo. Existe uma falha em relação ao século 20. Há uma ausência de concretismo paulista. É uma coleção que precisa ser nacional e não se centralizar apenas no Rio.

Folha - Já há algo sistemático?
Herkenhoff -
Não há dinheiro por enquanto. A situação orçamentária do museu é ridícula.

Folha - Você doou algo, não?
Herkenhoff -
Eu já. A primeira peça foi uma gravura da Louise Bourgeois. As primeiras doações de arte brasileira já aparecem: Alex Flemming doou uma peça, Emanuel Nassar também. São obras dos anos 80 e 90, o que confere espessura histórica. Agora Louise Bourgeois está doando 28 desenhos que pertenciam a ela, de artistas como Le Corbusier e Derain, e uma coleção de 250 gravuras, desde Daumier e Toulouse-Lautrec até Picasso e Bonnard.

Folha - De que maneira o seu projeto se relaciona com o projeto federal para a cultura?
Herkenhoff -
É muito pouca coisa que eu pensaria diferente, pelo que eu tenho visto das diretrizes. Sobre essa questão polêmica da inclusão social, evidentemente que isso não é papel do artista, do curador. Isso cabe à instituição. Na área de educação, meu plano é trabalhar com 700 mil crianças da rede municipal de ensino.


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