São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA/"CURTINDO A VIDA ADOIDADO"

Filme de 1986 sai com extras

Sonho juvenil vira clássico pelas mãos de John Hughes

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele realizou o sonho de todo estudante: cabular aula num dia ensolarado, sair para curtir a cidade acompanhado dos amigos e não tomar nenhum castigo por isso. Ferris Bueller (Matthew Broderick), o cara mais popular do colégio -que em seguida vira herói por toda a Chicago-, se despede rumo à "vida adulta" (leia-se uma faculdade qualquer e a separação dos mais chegados) com um dia de folga. Afinal, como ele mesmo começa o filme, "como ir à escola num dia como hoje?".
Todo mundo já teve um dia assim. O que define a sua personalidade é o que você faz a partir dessa pergunta. Se for estudar, faz parte da massa. Se for gazetear, aceita as conseqüências. E se não houver conseqüências? Bueller-Broderick é o que todos gostaríamos de ser, um espírito livre, com autoconfiança transbordante e que contagia até o mais incrédulo. Alguém para quem a expressão "carpe diem" foi feita sob medida.
Mas a impunidade não vem de graça, e mesmo um cara como Bueller vai ter de rebolar para se safar porque o diretor do colégio Ed Rooney (Jeffrey Jones) há quatro anos está no pé dele, tentando suspendê-lo por um motivo qualquer. E não teria a mesma graça se ele curtisse a vida adoidado numa boa, sem nenhuma preocupação.
Jones faz bem seu papel, tentando endireitar até o que já é reto e protagonizando os melhores momentos de comédia física do longa. A perseguição entre eles, o mau humor da frustrada e raivosa irmã mais nova de Bueller -que, ao contrário dele, sempre se dá mal- e as estripulias do passeio pela cidade criaram este clássico da "Sessão da Tarde".

Cerejas do bolo
Agora a Paramount resolve rechear um DVD especial (apesar de ser apenas um disco simples), com entrevistas, making of e outros penduricalhos. Traz finalmente a versão dublada para quem quiser matar as saudades das exibições na TV aberta.
O documentário mais interessante aqui é "Reunindo a Turma". Vinte anos depois, coleta depoimentos de todos os atores, inclusive dos figurantes, explicando seus papéis. O que eles parecem não entender até hoje é o que fez esta comédia de John Hughes alcançar tanto sucesso.
Por isso é pena que Hughes não tenha sido entrevistado para este pacote. Além de esclarecer isso, quem sabe também não confirmaria a lenda de ter escrito o roteiro do filme em seis dias, como conta o making of, e detalhado a magistral montagem, com cenas como a do desfile, com milhares de figurantes e coreografias.
Os filmetes usam apenas depoimentos do diretor da época de lançamento do filme, que tem no currículo outros sucessos juvenis como "Clube dos Cinco" e "Mulher Nota 1000", ambos de 85.
Entre as curiosidades, estão os comentários sobre a "Ferrari" usada na produção, que na verdade era um chassi coberto por um molde da marca, porque só o seguro para o veículo ficar parado no estúdio custaria hoje em dia quase US$ 1 milhão, inviável para um orçamento de US$ 70 mil.
Os extras ainda trazem um documentário sobre "O Mundo Segundo Ben Stein", o professor que chateia a sala com sua aula sobre a Grande Depressão americana, galeria de fotos e umas tais "fitas perdidas", em que Broderick entrevista seus colegas e acaba sendo engraçado por não conseguir passar das perguntas mais rasas.


Curtindo a Vida Adoidado - Ed. Especial para Colecionador
   

Direção: John Hughes
Distribuidora: Paramount; R$ 30, em média



Texto Anterior: Cabeleireiro diz não repetir o corte
Próximo Texto: Nas lojas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.