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CRÍTICA/"CURTINDO A VIDA ADOIDADO"
Filme de 1986 sai com extras
Sonho juvenil vira clássico pelas mãos de John Hughes
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele realizou o sonho de todo
estudante: cabular aula num
dia ensolarado, sair para curtir a
cidade acompanhado dos amigos
e não tomar nenhum castigo por
isso. Ferris Bueller (Matthew Broderick), o cara mais popular do
colégio -que em seguida vira herói por toda a Chicago-, se despede rumo à "vida adulta" (leia-se
uma faculdade qualquer e a separação dos mais chegados) com
um dia de folga. Afinal, como ele
mesmo começa o filme, "como ir
à escola num dia como hoje?".
Todo mundo já teve um dia assim. O que define a sua personalidade é o que você faz a partir dessa pergunta. Se for estudar, faz
parte da massa. Se for gazetear,
aceita as conseqüências. E se não
houver conseqüências? Bueller-Broderick é o que todos gostaríamos de ser, um espírito livre, com
autoconfiança transbordante e
que contagia até o mais incrédulo.
Alguém para quem a expressão
"carpe diem" foi feita sob medida.
Mas a impunidade não vem de
graça, e mesmo um cara como
Bueller vai ter de rebolar para se
safar porque o diretor do colégio
Ed Rooney (Jeffrey Jones) há quatro anos está no pé dele, tentando
suspendê-lo por um motivo qualquer. E não teria a mesma graça se
ele curtisse a vida adoidado numa
boa, sem nenhuma preocupação.
Jones faz bem seu papel, tentando endireitar até o que já é reto e
protagonizando os melhores momentos de comédia física do longa. A perseguição entre eles, o
mau humor da frustrada e raivosa
irmã mais nova de Bueller -que,
ao contrário dele, sempre se dá
mal- e as estripulias do passeio
pela cidade criaram este clássico
da "Sessão da Tarde".
Cerejas do bolo
Agora a Paramount resolve rechear um DVD especial (apesar
de ser apenas um disco simples),
com entrevistas, making of e outros penduricalhos. Traz finalmente a versão dublada para
quem quiser matar as saudades
das exibições na TV aberta.
O documentário mais interessante aqui é "Reunindo a Turma".
Vinte anos depois, coleta depoimentos de todos os atores, inclusive dos figurantes, explicando
seus papéis. O que eles parecem
não entender até hoje é o que fez
esta comédia de John Hughes alcançar tanto sucesso.
Por isso é pena que Hughes não
tenha sido entrevistado para este
pacote. Além de esclarecer isso,
quem sabe também não confirmaria a lenda de ter escrito o roteiro do filme em seis dias, como
conta o making of, e detalhado a
magistral montagem, com cenas
como a do desfile, com milhares
de figurantes e coreografias.
Os filmetes usam apenas depoimentos do diretor da época de
lançamento do filme, que tem no
currículo outros sucessos juvenis
como "Clube dos Cinco" e "Mulher Nota 1000", ambos de 85.
Entre as curiosidades, estão os
comentários sobre a "Ferrari"
usada na produção, que na verdade era um chassi coberto por um
molde da marca, porque só o seguro para o veículo ficar parado
no estúdio custaria hoje em dia
quase US$ 1 milhão, inviável para
um orçamento de US$ 70 mil.
Os extras ainda trazem um documentário sobre "O Mundo Segundo Ben Stein", o professor que
chateia a sala com sua aula sobre a
Grande Depressão americana, galeria de fotos e umas tais "fitas
perdidas", em que Broderick entrevista seus colegas e acaba sendo engraçado por não conseguir
passar das perguntas mais rasas.
Curtindo a Vida Adoidado - Ed. Especial para Colecionador
Direção: John Hughes
Distribuidora: Paramount; R$ 30, em média
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