São Paulo, sábado, 07 de maio de 2011

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Pedro Juan narra vida longe de Havana

Escritor cubano que se tornou conhecido pela "Trilogia Suja" prepara novo romance ambientado em Madri

Aos 61, o autor desembarca em São Paulo na próxima semana para participar de congresso

GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Já faz mais de dez anos que "Trilogia Suja de Havana", de Pedro Juan Gutiérrez, foi lançado no Brasil. Na época, o escritor cubano deu uma série de entrevistas sobre seu jeito lascivo, impulsivo e desesperado de viver que conquistou leitores, e especialmente leitoras, ao redor do mundo.
Sabe-se que não foram poucas as mulheres que bateram à porta do escritor, em Havana, inventando um pretexto para ver se conseguiam viver uma noite regada a rum e sexo como aquelas descritas no livro.
Hoje com 61 anos, o Pedro Juan que desembarca em São Paulo na próxima semana é um sujeito um pouco mais sereno. Adepto do budismo, com reconhecimento internacional consolidado (tem livros traduzidos em 20 línguas) e mais reflexivo do que imediatista, ele parece deixar para trás o realismo sujo que o tornou conhecido.
"Minha vida sempre foi muito intensa, mas é um imperativo da natureza. Aos poucos você vai se tranquilizando, vai controlando um pouco o álcool, o tabaco. Sinto que já não tenho necessidade de escrever cenas sexuais tão carnais", disse à Folha, por telefone.
Se a nova receita, mais "zen", vai funcionar em termos de literatura, ainda é mistério. O autor trabalha para finalizar seu novo romance "Estoico e Frugal" (título provisório).
Com forte carga autobiográfica (como quase toda sua obra), o novo livro acompanha a vida de um cubano que vai viver em Madri.
"Entre idas e vindas, trabalho nesse romance há 13 anos, tentando cercar o tema, agarra-lo. Um romance é como uma engrenagem em que cada roldana precisa funcionar perfeitamente."
Desde que começou a ser reconhecido internacionalmente, é na capital espanhola que o autor passa largas temporadas quando se sente "sufocado" por Havana.
Segundo ele, não devem faltar no livro descrições da arquitetura de alguns bairros ou bares madrilenos.
"Quero retratar lugares concretos. Porque a cidade vai adentrando na gente. Foi ali que passei noites de febre, loucura, luxúria, "borracheras" [bebedeiras], alegrias e desesperos."
As mudanças no escritor parecem seguir as mudanças graduais em curso na ilha. Seus livros, antes completamente silenciados no país, começaram a ser publicados em pequenas edições de 2.000 exemplares.
"Sim, se respiram ares de mudança", diz Pedro Juan, que apesar disso mantém sua postura de não falar sobre política cubana.
Nascido em Matanzas, perto do mar, Pedro Juan começou a trabalhar aos 11 anos de idade ajudando o pai a vender sorvetes. Foi instrutor de natação, gigolô, cortador de cana, salva-vidas. Durante a grande crise dos anos 90, vendia bugigangas para tentar não passar fome. Nem sempre conseguia. Sem falar diretamente de política, sua literatura sempre incorporou a realidade social miserável ao redor.

LITERATURA COMO JOGO
Em São Paulo, Gutiérrez desembarca a convite do 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural (leia ao lado), da revista "Cult".
Na conferência, falará sobre a literatura "como jogo", usando Kafka e Cortázar, dois dos autores que define como "capitais" em sua formação, junto com a moderna literatura americana.
"Eu trabalhava numa emissora de rádio quando li "Breakfast at Tiffany's". Se em Hemingway, eu via as marcas do escritor muito presentes, em Capote tudo pareceu mais natural, como se as páginas tivessem sido escritas numa só arrancada. Foi desse tipo de narrativa que quis me aproximar."
Durante a visita, o escritor deve aproveitar para fazer contato com sua editora (a Alfaguara, do grupo Objetiva) e ver se consegue programar novos lançamentos no país. Disponíveis em espanhol, dois de seus últimos livros publicados, "Carne de Perro" (2003) e "Corazón Mestizo" (2007), não ganharam tradução por aqui.


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