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CINEMA - "O GUARDIÃO DA FLORESTA"
Apelo à "qualidade" sufoca trabalho criativo
da Redação
Em linhas gerais, "O Guardião da
Floresta" descreve a trajetória de
um jovem francês que tem dois
dons complementares, o primeiro,
de atrair injustificadamente a ira
dos outros; o segundo, de escapar
ileso dos mais tétricos problemas
(por exemplo, um incêndio no colégio onde estuda, do qual se safa
por estar de castigo).
Essa capacidade o credencia a se
tornar uma espécie de Forrest
Gump em tom menor. Sem nunca
compreender o que se passa em
seu redor, colocando à frente de
tudo seu amor por crianças e animais, o homem -o ogro, como é
chamado- escapa da prisão por
pedofilia (injusta, por sinal) para
ser engajado como soldado, na Segunda Guerra Mundial.
Preso, quando o exército francês
é derrotado pelos alemães, acaba
se tomando de ódio pelos seus
compatriotas (que haviam matado
alguns pássaros para comer) e
consegue angariar a simpatia dos
alemães. Termina trabalhando em
uma escola para formação de jovens soldados nazistas, onde enfrentará o final da guerra.
Este filme dirigido por um alemão, com produção francesa e falado em inglês consegue se safar
com habilidade das armadilhas
que esses filmes internacionais
propõem. Sentimos ali, apesar de
tudo, um filme alemão.
Mas um filme alemão de Volker
Schlöndorff, isto é, em que o traço
acadêmico impõe-se a tudo mais
com desenvoltura. Existe ali um
apelo à "qualidade" que sufoca
qualquer chance de trabalho criativo, submetendo tudo à ditadura
do narrado. É como se todo o tempo qualquer coisa precisasse vibrar para que a história transite da
tela para o espírito do espectador,
mas essa coisa qualquer nunca se
manifesta.
É um traço que, já nos melhores
tempos do "jovem cinema alemão", distinguia Schlöndorff, e o
colocava abaixo da trinca principal do período (R.W. Fassbinder,
Wim Wenders, Werner Herzog).
Com o passar do tempo, Fassbinder morreu, Herzog sumiu,
Wenders oscila entre altos e baixos. Quanto a Schlöndorff, continua fiel a um cinema cujo interesse
-se há- deve vir mais da história
que conta do que do trabalho de
filmagem. É um pouco como Fred
Zinnemann no cinema americano
clássico, em seus maus dias.
Por isso mesmo, a narrativa de
"O Guardião", embora escorreita,
priva-se de oferecer ao espectador
qualquer poesia, qualquer encanto, como se tudo devesse obedecer
a um plano predeterminado, que
acaba por amortecer a relação do
espectador com o filme.
Talvez seja injusto dizer que isso
acontece durante o filme inteiro.
Nos momentos em que nosso ogro
contracena com o mal, Goering,
"O Guardião" baixa um pouco a
guarda e dá lugar a um sentimento
pessoal de Schlöndorff, que é seu
ódio menos pelos nazistas do que
pela chaga que sua chegada ao poder (e decorrências) infringiram à
Alemanha "sadia".
Nesses momentos, Schlöndorff
consegue criar um jogo de contrastes que efetivamente impulsiona seu filme e o faz vibrar. Não
são, infelizmente, muitos momentos.
(INÁCIO ARAUJO)
Avaliação:
Filme: O Guardião da Floresta
Produção: França, 1996
Direção: Volker Schlöndorff
Com: John Malkovich, Armin Mueller-Stahl,
Marianne Sägebrecht e outros
Quando: a partir de hoje, no Cinearte 2 e
Lumière 1
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