São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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"Tenho a obrigação de dar ao público algo que seja valioso"

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi sob a direção de Jirí Kylián que a Nederlands Dans Theater se firmou como uma das melhores companhias de dança do mundo. Renovador da linguagem do balé, um dos melhores coreógrafos da atualidade, ele falou à Folha sobre sua criação que a NDT 2 traz ao país e seu método de criação. Veja trechos. (RC)  

FOLHA - O programa de "27'52"" destaca o tempo exigido para a criação do espetáculo. É sempre assim?
JIRI KYLIÁN
- É sempre assim, embora muitos pensem que é algo que se possa fazer em uma semana. É por isso que o título remete à duração da peça. Quis deixar claro que uma peça dessas demanda muito tempo em pesquisas, na criação de figurinos, de música. Mas só se vê 27 minutos e 52 segundos. Pensei: "Um dia conto a eles como é".

FOLHA - Qual a mensagem do espetáculo?
KYLIÁN
- Todo o meu trabalho é sobre amor e morte, mesmo quando faço algo sarcástico. É com isso que lidamos o tempo todo. Quem amar, o que amar. Mas também lidamos com o porquê de estarmos aqui, como e quando vamos morrer, o que será depois. É muito tocante ver jovens como essas crianças que vão para o Brasil dançando a morte.

FOLHA - Poderia explicar o seu método de criação?
KYLIÁN
- Posso dizer uma coisa. Se você vê meus trabalhos, eles são muito diferentes uns dos outros. Porque o corpo não tem limites no que diz respeito a movimentos, e também o cérebro é um universo em miniatura. Usamos uma parte muito limitada do cérebro, e o corpo de uma maneira nem tão interessante. Coreógrafos podem abrir portas para mostrar que instrumento louco é o corpo, o que podemos fazer com ele. Para isso, preciso da colaboração dos dançarinos, sempre. Eles me dão idéias, me inspiram.

FOLHA - Por que os bailarinos da NDT têm de ter formação clássica?
KYLIÁN
- O balé clássico dá uma força e uma resistência que dificilmente eles teriam com outras técnicas. Outros coreógrafos podem não precisar, mas eu preciso dessa base clássica para criar, mesmo que às vezes não use nada dela.

FOLHA - Coreógrafos brasileiros lamentam uma certa dificuldade em atrair público para a dança no país. Existe um segredo?
KYLIÁN
- As pessoas se sentem intimidadas pelo que não entendem. É preciso deixar claro o que tentamos fazer. Fico feliz quando o público oferece tempo e dinheiro para me ver, então tenho a obrigação de dar algo em troca. Eu espero que eles levem para casa algo valioso. Se há qualidade, as pessoas definitivamente vêm ver. A dança costumava ser o patinho feio das artes e não é mais, porque fizemos um trabalho que permitiu a ela ser tão respeitada quanto a literatura, as artes plásticas. Quando comecei a dançar, ainda garoto, diziam que eu era maluco. "Ok, você vai dançar, mas como vai fazer dinheiro?". Hoje, se alguém quer ser bailarino, é normal.


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