Programa exibido entre 69 e 74 é um passeio pelas possibilidades da comédia na TV

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Os parâmetros do humor na TV e no cinema jamais seriam os mesmos depois que a trupe de um amalucado "circo voador" -cujos integrantes tinham de 26 a 30 anos- convenceu a BBC, a emissora pública britânica, a produzir o programa "Monty Python's Flying Circus" (1969-1974).
No Brasil, já era possível conhecer um pouco desse capítulo antológico da comédia em "Monty Python ao Vivo no Hollywood Bowl", que registra uma performance do grupo em Los Angeles, em 25 de junho de 1982. Diversos quadros do programa inspiraram esquetes da apresentação e alguns foram exibidos em telão.
Além disso, os três longas do grupo para cinema -"Em Busca do Cálice Sagrado" (1975), "A Vida de Brian" (1979) e "O Sentido da Vida" (1983)- também reciclavam situações e personagens antes trabalhados na TV. Agora, é possível ir direto à fonte, com o lançamento das três primeiras temporadas de "Flying Circus" em DVD.
Com 13 episódios cada uma, elas reúnem todos os integrantes do sexteto: John Cleese, Graham Chapman (1941-1989), Terry Jones, Michael Palin, Eric Idle e Terry Gilliam.

Comédia na TV
Por temer a repetição e o esvaziamento, Cleese resolveu não participar da quarta temporada, que gerou apenas seis episódios e deve ser lançada em breve no Brasil.
A variedade de quadros equivale a um passeio pelas possibilidades da comédia na TV, cobrindo desde gags visuais até piadas com jogos de palavras.
A marca do programa, no entanto, são as situações bizarras que se estendem por minutos, temperadas em geral por humor politicamente incorreto (antes mesmo que o termo fosse criado). É o caso do uso militar da piada mais engraçada do mundo, de Pablo Picasso pintando em movimento durante uma corrida de bicicletas pelo interior da Inglaterra (em companhia de Kandinsky, Mondrian, Chagall e Miró) e da polícia britânica recorrendo ao ocultismo. Em seguida, algo completamente diferente, como anunciava um bordão do grupo.