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"Por mim, não gravaria no exterior", diz autor
Segundo Manoel Carlos, Globo incentiva autores a imaginar cenas em outros países
"Outro estímulo vem do público, que aprova.
É a porção "National Geographic" das novelas", diz o autor de "Viver a Vida"
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 76 anos -mais de 30 deles escrevendo novelas para a
Globo-, Manoel Carlos resolveu satisfazer duas vontades de
uma vez. Ao montar a escalação
de "Viver a Vida", próxima novela das oito da emissora, ele
convidou a atriz Taís Araujo,
30, para ser a heroína Helena.
"Sempre quis ter uma Helena jovem e uma Helena negra.
Resolvi me atender nas duas
vontades, de uma única vez. E
por admirar muito a Taís, sempre que cogitava fazer, era nela
que me fixava. Não pensei, em
nenhum momento, em preconceito a combater, mas acredito
que isso acabe colaborando para diminuir possíveis focos desse preconceito", conta o autor,
em entrevista por e-mail à Folha. Este é o canal habitual para
falar com o dramaturgo -um
recluso que diz detestar conversas por telefone.
Enquanto Manoel Carlos está em sua casa, no Leblon, no
Rio, o diretor Jayme Monjardim filma na Jordânia cenas
com Taís, Thiago Lacerda e
Alinne Moraes. Esta última é
uma modelo rival de Helena
nas passarelas. Filha de José
Mayer, ela vai se opor ao envolvimento amoroso da personagem dele com a da jovem Taís.
"Eu, por mim, não gravaria
no exterior", afirma o autor,
"mas é uma tradição das novelas da TV Globo, e a empresa incentiva para que se faça. Outro
estímulo vem do público, que
aprova. É a porção "National
Geographic" das novelas".
O autor reclama da pecha de
fazer novelas realistas, sempre
ambientadas nos cenários cariocas, retratando a classe média. Ele diz que suas obras apenas falam "da vida comum". "É
normal cometerem esse erro
de avaliação com o que eu escrevo. Minhas novelas procuram ser verossímeis, o que é
bem diferente de ser realista."
"Drunkorexia"
A trama de "Viver a Vida"
também vai abordar temas polêmicos. Além do óbvio casamento entre pessoas de idades
diferentes, haverá discussões
sobre a "drunkorexia", doença
em que mulheres deprimidas
substituem a comida por bebidas alcoólicas. Esse deve ser o
mote principal de Renata, a ser
vivida por Barbara Paz.
A crise econômica mundial,
tema constante da cobertura
jornalística, também será recorrente na novela, a partir de
uma equipe de reportagem que
fará inserções a serem gravadas
até no próprio dia de exibição
da cena, para "esquentar" o noticiário fictício do enredo. A
atriz Camila Morgado vai liderar esse núcleo.
Com tudo isso, Manoel Carlos busca criar identificação
com o público atual, que tem
migrado cada vez mais para a
TV paga e outras mídias. Acha
que tem conseguido: "Busco
empatia com todas as classes,
pois uma novela das oito atinge
milhões de pessoas. E é a todas
elas que eu me dirijo. Como tenho conseguido, em 11 ou 12
novelas, alcançar essas grandes
audiências, não se pode dizer
que eu procuro empatia somente com a classe média alta."
É saber se o autor de "Páginas da Vida" e "Mulheres Apaixonadas" conseguirá de novo.
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