São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011 |
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Inglês estuda terrores da Inquisição Orientado por professor brasileiro, historiador Toby Green, 37, trata dos meios de tortura e condenação em livro "Inquisição - O Reinado do Medo" analisa métodos e razões políticas em três séculos da instituição GUILHERME BRENDLER COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Toby Green é fluente em português, com sotaque carregado e um vasto leque de expressões lusitanas. Aos 37 anos, o historiador inglês é lusófono por causa das pesquisas que realiza desde 2002 sobre os cristãos-novos (judeus convertidos ao cristianismo) em Cabo Verde nos séculos 16 e 17. Orientado pelo professor baiano Paulo Farias, fez seu doutoramento em estudos africanos na Universidade de Birmingham, chegando ao tema do seu primeiro livro publicado no Brasil, "Inquisição - O Reinado do Medo". A Inquisição foi uma instituição criada no fim do século 15 para unir o povo da Espanha. Os portugueses a adotaram 36 anos mais tarde. Durante três séculos, minorias foram acusadas de heresia e condenadas à fogueira. Atualmente, Green leciona história da África pré-colonial no King's College, de Londres, e falou com a Folha por telefone de Cambridge, onde vive com a família. Folha - Segundo o livro, a Inquisição foi mais política que religiosa. O Vaticano foi manipulado pelos reis ibéricos? Toby Green - Dizer que a Inquisição não teve a ver com a religião é um total engano. Houve uma Inquisição Medieval, conduzida por bispos. Mas, quando os reis Fernando e Isabel criaram a instituição na Espanha, em 1480, demitiram os funcionários papais e empregaram os do Estado. A nova Inquisição foi vinculada à burocracia. A Coroa espanhola criou a instituição por causa das guerras civis. A medida conseguiu gerar um espírito de união entre os espanhóis? No princípio, sim. Os reis decidiram colocar a população cristã contra os cristãos-novos e os mouros. Com o tempo, luteranos, maçons e homossexuais também viraram alvo. Dois séculos depois, já não havia mais inimigos externos e passou-se a perseguir os cristãos. Naquele momento, o abuso sexual apareceu como uma ferramenta de chantagem e tortura. Há muitos relatos de cristãs que sofreram abusos de inquisidores. Que outros aparatos foram utilizados? A tortura foi um dos primeiros. Os autos de fé [julgamentos] eram verdadeiros espetáculos de horror a céu aberto. A fofoca e a delação também foram estimuladas. Qual foi o reflexo da Inquisição nas colônias? Na América espanhola, México, Peru e Colômbia tiveram tribunais logo depois da Europa. No século 16, quando Portugal era o país mais poderoso do mundo, havia tribunal em Goa. No século 17, quando o Brasil se tornou mais importante para a economia da Coroa, o poder de Portugal já era fraco. O Brasil não teve um tribunal, mas recebeu a visita de funcionários na Bahia e em Pernambuco. Os hereges eram julgados em Lisboa. Além de Paulo Farias e Ronaldo Vainfas, outros historiadores brasileiros contribuíram para o livro? Anita Novinsky, Maria Luiza Tucci Carneiro e Luiz Mott também têm obras que me ajudaram muito na pesquisa. Que outras pessoas lhe ajudaram a tornar o livro acessível? Meu amigo Ian Rakoff foi quem mais me ajudou. Ele é roteirista há 40 anos, foi um dos autores de "The Prisoner", série de TV famosa no Reino Unido nos anos 60. Como ele não é historiador, fez observações importantes para deixar tudo mais claro. INQUISIÇÃO - O REINADO DO MEDO AUTOR Toby Green EDITORA Objetiva TRADUÇÃO Cristina Cavalcanti QUANTO R$ 59,90 (480 págs.) Texto Anterior: Crítica/Biografia: Rolling Stones ainda rendem livros bonitos e divertidos Próximo Texto: FOLHA.com Índice | Comunicar Erros |
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