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Crítica/"Bubble"
Steven Soderbergh capitaliza sua faceta indie
CRÍTICO DA FOLHA
Quem é, afinal, Steven
Soderbergh? O artista
respeitável de "sexo,
mentiras e videotape" ou o
criador de máquinas glamourosas como "Onze Homens e Um
Segredo"? Um independente
ou um homem do sistema?
A dúvida já virou o século e
nem por isso parece que vai arrefecer. Este cineasta dotado
de caráter bastante flexível acaba de se projetar, com "Bubble", no ramo do marketing,
lançando o seu filme simultaneamente, nos EUA, em cinemas, home video e TV a cabo.
É uma boa maneira de capitalizar o lado independente de
sua personalidade e valorizar o
lançamento de um trabalho feito em DV, com as deficiências
próprias ao digital, e atores desconhecidos -mas capazes.
O filme é curto, 72 minutos,
dos quais quase a metade se dedica à descrição da vida de uma
pequena cidade do Meio-Oeste
por meio de três operários de
uma fábrica de bonecas: a gorda
Martha, seu jovem amigo Kyle
e a engraçadinha Rose. A observação, que não é desprovida de
interesse, mas está longe de ser
original, tem como centro a cenografia (os locais de habitar e
trabalhar) e hábitos alimentares dos personagens.
A tensão se instala depois
que Martha percebe o interesse
de Kyle por Rose. Embora os
dois não tenham nada além de
amizade, é como se isso atingisse Martha com profundidade.
O clima ficará ainda mais
tenso com o surgimento em cena do ex-namorado e pai do filho de Rose. Então teremos a
impressão de que Soderbergh
envereda por esse território caro a David Lynch, das cidadezinhas que, quanto mais clichê,
mais misteriosas se mostram.
Ao contrário de Lynch, no
entanto, o mistério se dissipa
em vez de investir na opacidade
desse universo. Aqui, a solução,
óbvia demais, dá conta de uma
superficialidade que reflete a
vida das pessoas. Nada existe a
fazer nesse lugar: tudo parece
se resumir num inverno sem
fim. Até os crimes são chatos.
Talvez o mistério que envolve Soderbergh não seja tão diferente do enunciado em "Bubble". Se no cinema o lado mercadoria se impõe cada vez mais,
é como se dissesse que não
existe nada a fazer, exceto surfar na melhor onda que passar.
Desta vez, ele toca a corda do
filme-intelectual-com-ar-de-nouvelle-vague, como poderia
tocar a do grande espetáculo, a
do filme de prestígio ou a do
veículo para Julia Roberts. Não
falta quem se enturme.
(IA)
BUBBLE
Direção: Steven Soderbergh
Produção: EUA,2005
Com: Debbie Doebereiner, Dustin
James Ashley
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco, Bombril e circuito
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