São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

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Crítica/"Bubble"

Steven Soderbergh capitaliza sua faceta indie

CRÍTICO DA FOLHA

Quem é, afinal, Steven Soderbergh? O artista respeitável de "sexo, mentiras e videotape" ou o criador de máquinas glamourosas como "Onze Homens e Um Segredo"? Um independente ou um homem do sistema?
A dúvida já virou o século e nem por isso parece que vai arrefecer. Este cineasta dotado de caráter bastante flexível acaba de se projetar, com "Bubble", no ramo do marketing, lançando o seu filme simultaneamente, nos EUA, em cinemas, home video e TV a cabo.
É uma boa maneira de capitalizar o lado independente de sua personalidade e valorizar o lançamento de um trabalho feito em DV, com as deficiências próprias ao digital, e atores desconhecidos -mas capazes.
O filme é curto, 72 minutos, dos quais quase a metade se dedica à descrição da vida de uma pequena cidade do Meio-Oeste por meio de três operários de uma fábrica de bonecas: a gorda Martha, seu jovem amigo Kyle e a engraçadinha Rose. A observação, que não é desprovida de interesse, mas está longe de ser original, tem como centro a cenografia (os locais de habitar e trabalhar) e hábitos alimentares dos personagens.
A tensão se instala depois que Martha percebe o interesse de Kyle por Rose. Embora os dois não tenham nada além de amizade, é como se isso atingisse Martha com profundidade. O clima ficará ainda mais tenso com o surgimento em cena do ex-namorado e pai do filho de Rose. Então teremos a impressão de que Soderbergh envereda por esse território caro a David Lynch, das cidadezinhas que, quanto mais clichê, mais misteriosas se mostram.
Ao contrário de Lynch, no entanto, o mistério se dissipa em vez de investir na opacidade desse universo. Aqui, a solução, óbvia demais, dá conta de uma superficialidade que reflete a vida das pessoas. Nada existe a fazer nesse lugar: tudo parece se resumir num inverno sem fim. Até os crimes são chatos.
Talvez o mistério que envolve Soderbergh não seja tão diferente do enunciado em "Bubble". Se no cinema o lado mercadoria se impõe cada vez mais, é como se dissesse que não existe nada a fazer, exceto surfar na melhor onda que passar. Desta vez, ele toca a corda do filme-intelectual-com-ar-de-nouvelle-vague, como poderia tocar a do grande espetáculo, a do filme de prestígio ou a do veículo para Julia Roberts. Não falta quem se enturme. (IA)

BUBBLE   
Direção: Steven Soderbergh
Produção: EUA,2005
Com: Debbie Doebereiner, Dustin James Ashley
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Bombril e circuito


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