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"Tive sorte em carreira longa", diz Kiri
Soprano neozelandesa se apresenta no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, no Rio, em SP e no sul
Em três cidades, ela tem o acompanhamento da Orquestra Sinfônica Brasileira, com regência de Roberto Minczuk
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O 38º Festival Internacional
de Inverno de Campos do Jordão começa hoje, às 21h, com
uma apresentação da Osesp
(Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo), regida por John
Neschling. Mas a atração mais
famosa do evento está agendada para a semana que vem.
Trata-se da soprano neozelandesa Kiri Te Kanawa, 63,
que começa, amanhã, no Rio,
uma turnê nacional, que inclui
concertos em São Paulo, na
quarta; em Campos do Jordão,
no sábado que vem; e em Porto
Alegre, no dia 17.
No Rio, em São Paulo e em
Campos, Kiri se apresenta com
a Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo diretor artístico
do festival, Roberto Minczuk, e
canta árias e canções do repertório franco-germânico. Em
Porto Alegre, com a sinfônica
local, sob a batuta de Cláudio
Ribeiro, o programa se concentra em Mozart e Puccini.
De sangue indígena maori,
Kanawa irrompeu no cenário
internacional da ópera nos
anos 70, como o soprano lírico
ideal para papéis mozartianos,
aparecendo, inclusive, na versão filmada da ópera "Don Giovanni" que o cineasta Joseph
Losey fez em 1979.
Elegância cênica, emissão
uniforme e sonoridade cheia fizeram dela uma das glórias da
ópera nas décadas de 80 e 90.
Com o papel-título de "Vanessa", de Samuel Barber, em
2004, ela se despediu dos teatros de ópera.
"Foi uma decisão difícil, mas
era hora de deixar, era parte do
que tinha de acontecer", afirmou à Folha, por telefone. "Eu
tive sorte de ter tido uma carreira de mais de 40 anos."
"Para continuar cantando
tanto tempo, tive sempre de
colocar a voz em primeiro lugar
com relação à vida pessoal, levar uma dieta saudável etc.",
diz. "Não sei se foi a decisão
mais certa. Houve muitos sacrifícios e erros, mas eu cheguei onde cheguei."
Hoje ela continua fazendo
cerca de 30 concertos por anos,
com parceiros de gosto duvidoso, como o tenor pop Andrea
Bocelli. Tem, ainda, uma fundação com o seu nome, para
ajudar artistas neozelandeses
emergentes. "Prefiro trabalhar
com jovens por volta dos 24
anos, para os quais acho que tenho mais coisas a oferecer, como ajuda e aconselhamento."
Nos concertos do Rio e de
São Paulo, Kanawa canta canções orquestrais de um dos
compositores com que maior
teve afinidade estilística ao
longo de sua carreira: o alemão
Richard Strauss (1864-1949).
Interpreta também os "Chants
d'Auvergne", do francês Joseph Marie Canteloube (1879-1957). O ciclo é formado de
canções coletadas, harmonizadas e orquestradas pelo compositor na Província de Auvergne, entre 1924 e 1955. Muitas delas estão escritas não em
francês, mas no dialeto local.
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