São Paulo, terça-feira, 07 de julho de 2009

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O novo alter ego de Woody Allen

Larry David, cocriador da série "Seinfeld" e criador e protagonista da série "Curb Your Enthusiasm", é ator principal de "Tudo Pode Dar Certo", de Woody Allen

Fred Prouser-8.jun.09/Reuters
Larry David na pré-estreia de "Tudo Pode Dar Certo", 40º longa de Woody Allen, em Los Angeles; eles já trabalharam juntos em dois filmes nos anos 80

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Larry David está por trás e à frente de dois grandes encontros cômicos dos próximos meses. O primeiro é na TV, na sétima temporada da série "Curb Your Enthusiasm", em que os quatro protagonistas de "Seinfeld" filmaram participações especiais -a primeira vai ao ar em 20 de setembro nos EUA. A HBO Brasil, que a rebatizou de "Segura a Onda", não programou a estreia dessa temporada.
O outro encontro é o dele mesmo com Woody Allen, no filme "Tudo Pode Dar Certo" (leia mais ao lado) que leva os dois comediantes de volta a Nova York, onde ambos nasceram -Larry em 1947, Woody em 1935, os dois no Brooklyn, os dois judeus- e onde começaram a carreira como stand-up comedians.
Na pele de Boris Yellnikov, Larry David anuncia: "não sou um sujeito agradável, charme não é uma prioridade aqui". Por mais que se saiba que aquelas palavras são de Woody Allen, a frase é puro Larry. Ou George Costanza, para os fãs de "Seinfeld", seu alter-ego na série que criou ao lado de Jerry Seinfeld, de 1990 a 1998, e que vai ao ar até hoje em reprises.
Mas soa mais como o personagem dele em "Curb", série que criou na HBO dois anos depois do fim de "Seinfeld". "Curb" está para o Larry pós-"Seinfeld" -rico, famoso, prestigiado- como "Seinfeld" estava para o Jerry pré-"Seinfeld", um comediante em busca de um veículo. "Curb" fez de Larry uma celebridade. "Seinfeld", um homem rico. Agora o filme pode transformá-lo em ator.
Em entrevista em Nova York, Woody Allen disse que escolheu Larry David para seu 40º longa porque o protagonista reclama o tempo todo e é muito pessimista. Por isso precisava de um ator que pudesse falar as barbaridades que ele havia escrito sem despertar muita raiva no público, o que não acredita que conseguiria fazer se atuasse no papel.
Comento isso com David, que atrasa a entrevista no mesmo dia em Nova York porque estava terminando um prato de cereal, e ele refuta a ideia: "não pode ser. Ele é uma fofura e eu sou uma peste." Como para provar sua teoria, conta que recusou o convite quando o diretor o fez. "Eu gostei da ideia de trabalhar com Woody Allen de novo, mas quando li o roteiro e vi o tanto de falas que teria de decorar, fiquei apavorado. Odeio desafios, tento evitá-los a todo custo."
Ele já participou de dois filmes do diretor nos anos 80. No primeiro, "A Era do Rádio", faz apenas uma cena em que tudo que dá para ver é a sua careca, já que a câmera está muito longe e alta em relação aos atores. No segundo, "Histórias de Nova York", é um gerente de um cinema que tem uma discussão com o personagem de Woody Allen. Sua aparência não mudou muito desde 1989, quando o filme foi lançado. Continua magricelo, comprido, careca e de óculos. O cabelo embranqueceu nas laterais e ficou mais ralo no topo da cabeça.
Boris Yellnikov, o personagem de "Tudo Pode Dar Certo", é um físico de prestígio casado com uma mulher milionária e igualmente bem sucedida. Até que acorda no meio de uma noite em crise de pânico e descobre que sua vida parece perfeita, mas ele mesmo detesta tudo. Tenta se suicidar e falha.
Decide então abrir mão de tudo, a começar da mulher e do endereço. Muda-se sozinho para Chinatown e passa os dias ensinando crianças a jogar xadrez e as noites conversando com os amigos. Até que encontra uma jovenzinha recém-chegada do Sul na porta de seu prédio pedindo ajuda. Deixa que ela passe a noite no sofá. Os dois se apaixonam. Contar mais é sacanagem.
Outra sacanagem é não contar absolutamente nada sobre o que acontece quando os quatro atores de "Seinfeld" se encontram em "Curb". Mas é isso que Larry David faz na entrevista, com a desculpa de que "os produtores me matam se eu revelar alguma parte da trama". A resposta não soa verdadeira, já que ele é, além de criador e protagonista, produtor-executivo da série. "Estava tentando ser gentil", explica.
Mas se não fala sobre a obra, não parece ter nenhuma amarra que o impeça de comentar sua vida pessoal. Nos últimos episódios da sexta temporada de "Curb", exibidos nos EUA entre outubro e novembro de 2007, o personagem e sua mulher fictícia se separam quando Cheryl David (interpretada pela atriz Cheryl Hines) se cansa do egocentrismo de Larry. Pouco antes dos episódios irem ao ar, Larry David e sua mulher na vida real, a ativista e produtora Laurie Lennard, com quem era casado desde 1993 e tem dois filhos, se separaram. Pergunto o que deu errado e, para minha surpresa, ele conta.
"Tudo começou quando decidi que só ia comer comidas saudáveis. Isso a irritou profundamente. Mas o ponto final foi quando ela começou a me pegar passando fio dental em público. O que não faz o menor sentido. Adianta comer saudável se a higiene bucal não está em dia?" Melhor que isso só nos próximos episódios de "Curb Your Enthusiasm". Ou em "Tudo Pode Dar Certo".


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