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DISCO - LANÇAMENTOS
Sonic Youth vem reafirmar a seriedade do pop
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Com o atraso de quase dois meses, chega agora a versão brasileira
de "A Thousand Leaves", novo
álbum de uma das mais importantes bandas underground norte-americanas, o Sonic Youth.
A trajetória é de uma banda muito, muito áspera -o SY deve ficar
guardado na posteridade do rock
como sinônimo de barulho, distorção, dissonância.
Isso não muda em "A Thousand
Leaves", mas o clichê encobre um
dado fundamental nessa mesma
trajetória: Sonic Youth tem se tornado muito doce com o passar dos
anos -e já são 15, desde o LP de
estréia. Metade das canções do novo CD expande a leveza atormentada de "The Diamond Sea", faixa que fechava o álbum anterior,
"Washing Machine" (95).
É, assim, um paradoxo entre o
barulho extremo e a doçura extrema, e um monumento à relevância, um oásis no deserto de irrelevância que toma o cenário rock.
Começa com "Contre le Sexisme". A letra nem diz respeito ao
que o título promete -não se detrata o sexismo explicitamente.
Mas o manifesto está lançado. SY
habita o rock e seu universo sexista, mas admira à distância rock e
sexismo. Música para adultos.
Brincando com o tema, fazem
aquele jogo de sempre. As vozes de
Kim Gordon (estridente, quase irritante) e de Thurston Moore
(nunca menos que suave) se alternam e invertem sinais: à mulher
cabe a braveza, a agressividade; ao
homem, a voz maternal de ninar.
Como de hábito também transparece a infinita influência que a
banda-mito de todas as bandas,
Velvet Underground, exerce sobre
o SY. Nunca foi tão descarado.
"Sunday" é um decalque apaixonado, uma declaração de amor à
banda de Lou Reed no final dos 60.
De cara, evoca "Sunday Morning" (67), a primeira música do
primeiro disco do Velvet. Lá, era
loa à hora de chegar em casa, após
muita detonação na madrugada
de sábado. Aqui, há o tédio do fim
de século. "Domingo vai, domingo vem/domingo sempre parece
passar tão devagar para mim", lamenta Thurston, para concluir:
"O domingo nunca acaba".
Versos como "here she comes
again" ou "'a perfect ending for a
perfect day", também, são adaptações deliberadas de músicas do
Velvet e de Lou solo.
O referencial pop não se esgota
aí, entretanto. Há em "A Thousand Leaves" baladas mortíferas
como a sombria "Hoarfrost"
(que remete nitidamente ao Joy
Division), "Hits of Sunshine"
(dedicada ao poeta beat Allen
Ginsberg), a dulcíssima "Snare,
Girl" e "Karen Koltrane".
Esta última é outro capítulo à
parte. Trata-se, provavelmente
(embora a banda despiste), de
mais um casamento maluco promovido pelo SY, o do jazzman ultraelegante John Coltrane com a
extrakitsch Karen Carpenter, do
duo brega Carpenters.
Nada de novo. SY, que em 88 virou Ciccone Youth para cantar
e/ou parodiar Madonna, já cantou
um réquiem a Karen ("Tunic",
de "Goo", 90) e gravou, em 94, a
mais sofisticada e comovente cover de Carpenters ("Superstar").
Aí já diziam isto: música pop é
algo muito sério. Disseram mais
uma vez, ou melhor, mais 11. "A
Thousand Leaves" dá 11 razões
para um cidadão de 1998 ficar feliz
com a existência do rock'n'roll.
Disco: A Thousand Leaves
Banda: Sonic Youth
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 18, em média
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