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A imagem da juventude do fim do século 20
da Redação
Kate Moss é filha de um agente
de viagens e sempre viajou bastante. Foi num aeroporto que foi
"descoberta", aos 14 anos, em Nova York, durante um problema de
vôo que a deixou três dias no John
Fitzgerald Kennedy. Enquanto
seu pai gritava num guichê, ela foi
vista por uma scouter (caça-talentos) da agência Storm.
Fez algumas fotos para a agência e o primeiro trabalho, para a
revista "Mizz". Até que uma polaroid sua foi vista na Storm pela fotógrafa Corinne Day, que decidiu
fotografá-la para a revista "The
Face". Day é uma ex-modelo,
também uma rebelde do início da
década de 90, que tinha como característica um estilo despojado,
em que as fotos ganhavam teor
doméstico, com situações comuns. Desglamourizada mesmo.
A estética ia de encontro à ostentação de dinheiro e de roupas
celebrada durante os anos 90. Da
América, vinha a revolução jovem pregada com o barulho do
grunge e a nonchalance de suas
moda. Pronto. Estavam no ar os
elementos para o segundo terremoto jovem deste século.
Kate liderou a onda das chamadas gamines, as "girls next door"
dos 90. Como Twiggy nos anos
60, as modelos tinham de ter corpo miúdo e ar comum -apesar
de serem bastante fotogênicas.
Em três anos, Kate havia sido
fotografada por tops como Steven
Meisel, Bruce Weber, Herb Ritts,
Helmut Newton e assinado o contrato com a Calvin Klein, que a
projetou mundialmente. O olhar
de Kate para a publicidade da
marca, desafiador e algo entediado, sintetizou a atitude de toda
uma geração.
Seu namorado então era o também fotógrafo Mario Sorrenti,
um ex-modelo que deu ao mundo
algumas das mais lindas imagens
de Kate, como a campanha para o
perfume Obsession. Num clima
algo Gauguin, ela aparece deitada
de costas, num sofá preto detonado, nua, como se esperasse o contato com o observador/vouyer.
Corinne Day subiu junto com
Kate e chegou ao mainstream, à
"Vogue" inglesa. Suas fotos perturbaram todas as adolescentes
do país, que entraram em dietas
selvagens para tentar se parecer
com a modelo. Médicos contavam em entrevistas que meninas
chegavam em seus consultórios
com as fotos de Kate: "Quero ficar
assim". Kate passou a ser acusada
de estimular a anorexia. Foi o primeiro choque em relação à mídia.
Durante os cinco anos seguintes, Kate virou cartazes na Times
Square, ônibus e incontáveis páginas de revistas. Em desfiles, sua
figura mignon contrastava com o
poderio das supermodels e seu indefectível andar entrou também
para nosso imaginário. Vieram
coleções incríveis para o inglês
John Galliano, especialmente
aquela em que ela interpretava
uma princesa russa imaginária,
correndo pela neve, fugindo. Registrada para a história num documentário, Galliano gritava para
ela num ensaio: "Think Penn!"
(pense em Irving Penn, mestre da
fotografia do glamour).
Fora das passarelas, Kate consolidava sua trajetória de "party
girl", com fotos na mídia com cigarro e copo na mão, dançando
nas fechadíssimas e glamourosas
festas do Planeta Fashion. O namoro com o pop star Johnny
Depp confirmava as modelos como as estrelas de nossa era.
No final de 98, em meio a pencas de boatos, a bomba: Kate se
interna para uma clínica de reabilitação. Ficou lá cinco semanas e
deixou a casa de repouso antes do
Natal e deu entrevistas a revistas
de estilo inglesas relatando seus
hábitos, que as modelos sempre
bebem champanhe antes dos desfiles, mesmo às 10h. "Eu perdi o
controle. Eu não tinha meus pensamentos claros. Eu estava sempre de ressaca", disse a "The Face"
de março. Fez sua volta com um
desfile para a marca Versace em
Milão e logo depois fez a temporada de alta-costura em Paris.
A década chega ao fim e, até por
sua trajetória, Kate permanece
como a imagem de todos esses valores controversos do mundo da
moda. A desilusão, a perda da
inocência, seu rosto representa
tudo isso.
No Brasil, em 4 de julho de 1999,
pudemos ver toda a essência da
juventude desta década. O novo
século está aí. Kate também.
(EP)
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