São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2001

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FESTA NA FLORESTA

Ecosystem 1.0 contorna ausências de artistas no line-up, e idealizador planeja uma versão 2.0

Rave na Amazônia reúne 35 mil em seus quatro dias

FERNANDA MENA
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS


Na tarde da última sexta-feira, o DJ norte-americano Krust chegou ao aeroporto de Manaus (AM) e foi recepcionado por um guia local, de inglês fluente, que logo puxou uma conversa:
-"Que tipo de música você vai tocar nesse "festival de rock" aí?"
-"Jungle music", respondeu Krust, sem rodeios.
-"Mas isso é música de índio!"
Para uma festa tida como "para gringo ver", a Ecosystem 1.0, a rave da Amazônia, tomou outro rumo e catequizou milhares de manauenses com doutrinas da cultura eletrônica e propostas de conscientização ecológica.
Foram quatro dias repletos de atrações nacionais e internacionais, que sacudiram gringos, paulistas, cariocas e uma maioria esmagadora de gente da capital do Amazonas -jovens roqueiros, patricinhas, caboclos e até Hell's Angels. No total foram 35 mil pessoas nos quatro dias de evento, segundo a organização.

Curupira
Grandes nomes previstos viraram lenda há poucos dias da festa. Os "curupiras" da rave foram: Afrika Bambaataa, Dimitri, DJ Spooky, Bryan Gee, Jumping Jack Frost, Shy FX e Marcelo D2.
"A hora é de pensar em quem veio tocar, e não em quem faltou", disse o DJ brasileiro radicado nos EUA Carlos "Soul" Slinger, mentor da festa que teve apoio do Greenpeace e patrocínio do governo do Estado do Amazonas.
Não se sabia ao certo quem iria tocar, nem quando ou onde, mas ninguém parecia se importar muito com isso. Dançava-se tudo e, se a música não agradasse, ainda havia quatro outras opções.

Pedreira
A vedete da Ecosystem foi o próprio local da festa: uma pedreira de 360 metros quadrados recortada por igarapés e cercada por floresta secundária. Lá foram levantadas duas enormes ocas: Maloca Tecno e Maloca Jungle.
No lago foi erguido um palco flutuante, que teve shows de State of Bengal, Suba Dream Band, DJ Krush, Otto e Nação Zumbi. Havia ainda um chill-out camuflado entre árvores (com puffs de pelúcia e redes), a área vip e um palco aberto aos DJs, o Woodstick.
"Valeu a pena, mas poderia ser melhor", disse a paulistana Roberta Pacini, 23, que criticou o evento porque pagou R$ 160 para os quatro dias de festa em um pacote oferecido pelo site da rave, quando, na bilheteria, o ingresso para cada dia era vendido a R$ 5.

Lanterna
O público se embrenhou no mato e tomou conta dos espaços. Criou rotas alternativas de uma pista a outra, montou barracas e se armou de lanternas para reforçar a iluminação da lua cheia.
Contrariando as expectativas do Greenpeace, o local se manteve limpo e a coleta seletiva de lixo funcionou. "O saldo é muito positivo", comemorou Rebeca Lerer, 24, do Greenpeace.
O festival já tem garantida a sua segunda edição para o ano que vem. A área da pedreira, recuperada para a festa, será transformada em parque.
Carlos Slinger já traça os planos de sua próxima empreitada: "Não sei se vai rolar uma Ecosystem 3.0. Penso em algo na África".


A jornalista Fernanda Mena viajou a convite da organização da Ecosystem 1.0



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