São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2001

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PERSONALIDADE

Jorge Amado morre em Salvador aos 88

Arquivo pessoal
O autor com a mulher, Zélia Gattai


Membro da Academia Brasileira de Letras há 40 anos, o mais conhecido escritor brasileiro teve insuficiência cardíaca

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Jorge Amado, o mais conhecido e popular escritor brasileiro, morreu ontem à noite em Salvador. Baiano de Itabuna, ele iria completar 89 anos na sexta. Em setembro, comemoraria o 70º aniversário da publicação de seu primeiro romance, ""O País do Carnaval".
Membro da Academia Brasileira de Letras há 40 anos, Amado deixa a mulher, a também escritora Zélia Gattai, 84 -com quem era casado desde 1945-, e os filhos João Jorge, 54, e Paloma, 50 -que trabalha na organização dos acervos da obra de seu pai.
O escritor morreu de insuficiência cardíaca, após ter passado mal no final da tarde de ontem. ""Ele estava fazendo sua fisioterapia, seguindo as recomendações médicas normais, quando passou mal", afirmou o médico de Amado há mais de 15 anos, o cardiologista Jadelson Barbosa.
Às 19h, chegou ao pronto-socorro do hospital Aliança, onde teve duas paradas cardiorrespiratórias. ""Ele não respondeu às manobras de reanimação", diz Andrade. O escritor foi dado como morto às 19h30. Segundo o boletim médico, assinado por Andrade, Amado apresentava um quadro de insuficiência circulatória aguda ao dar entrada no hospital.
Assim que a notícia da morte se espalhou, começaram a chegar baianos famosos. Um dos primeiros a chegar foi o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), amigo de Amado e organizador dos detalhes do velório. Zélia e os filhos estiveram no hospital, mas não concederam entrevista até a conclusão desta edição.
O cantor e compositor Caetano Veloso, que faz 59 anos hoje, tinha show programado para a noite de ontem em Salvador e subiu ao palco sem saber da morte de Amado. Avisado pela mulher, Paula Lavigne, após o final da apresentação, voltou ao palco e, emocionado, cantou "O Leãozinho" em homenagem ao escritor.
Caetano comunicou ao público a morte de Amado: ""Morreu a maior personalidade da Bahia". E lembrou que, quando o escritor foi entrevistado pelo jornal "O Pasquim", nos anos 70, ele foi convidado a participar e perguntou se o autor de "Gabriela" acreditava ou não em candomblé.
Lembrou que Amado respondeu que gostaria de ser místico como Dorival Caymmi, mas era materialista e não tinha crença no candomblé. E completou: "Mas que já vi o candomblé fazer milagres, já vi, e são milagres do povo". Caetano cantou, então, "Milagres do Povo".
O governador César Borges (PFL) ofereceu o Palácio da Aclamação, antiga sede do governo estadual que fica no Campo Grande, para o velório, que começou às 22h30. Zélia deixou o Aliança por volta das 20h30, com direção ao palácio. Por volta das 23h, o corpo saiu do hospital escoltado por batedores da Polícia Militar rumo ao Palácio. Borges decretou luto oficial na Bahia por três dias.
A pedido do escritor, seu corpo será cremado hoje às 17h, no cemitério Jardim da Saudade. As cinzas serão espalhadas, também segundo seu desejo, ao pé de um mangueira que ele tem plantada no quintal de sua casa, no tradicional bairro do Rio Vermelho.
Amado, autor de megassucessos como ""Gabriela, Cravo e Canela" e ""Capitães de Areia", era cardíaco e diabético. A crise que o vitimou foi a segunda em menos de um mês. Entre 20 de junho e 16 de julho, Amado teve sua pior crise, decorrente de um aumento na taxa de açúcar no sangue. Desde que teve um infarto, em 1993, sua saúde declinou e interrompeu progressivamente seu trabalho.
Suas obras mais recentes são ""A Descoberta da América pelos Turcos" (1994) e o livro-conto ""O Milagre dos Pássaros" (97).

Colaborou Pedro Alexandre Sanches, da Reportagem Local


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