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OUTRAS MÍDIAS
"Dona Flor" e "Gabriela" marcaram adaptações
TV foi a mídia por excelência para versões da obra de Amado;
na tela grande, seus romances nem sempre tiveram sorte
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Graciliano Ramos deu sorte no
cinema. Além das adaptações de
Nelson Pereira dos Santos -"Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere"-, Leon Hirszman realizou
um belo "São Bernardo".
Nelson Rodrigues, então, nem
se fala. Ainda que o diretor tivesse
lá suas reservas, "Boca de Ouro",
de Nelson Pereira, é um belo filme. Depois vieram Arnaldo Jabor, com "Toda Nudez Será Castigada", Braz Chediak, com toda
uma série, Haroldo Marinho Barbosa... Nem sempre era obra-prima, mas nunca deu de todo errado.
Com Jorge Amado, a coisa nem
sempre se passou tão bem. É verdade que "Dona Flor e Seus Dois
Maridos" (1976, de Bruno Barreto) é, até hoje, o maior sucesso do
cinema brasileiro em todos os
tempos, com mais de 11 milhões
de espectadores.
Mas Nelson Pereira dos Santos
parece não ter se dado bem com o
escritor baiano. "Tenda dos Milagres" (1977) e "Jubiabá" (1987) foram dois solenes fracassos.
Mesmo Bruno Barreto, quando
voltou a Amado, embananou-se
em "Gabriela" (1983): trouxe
Marcello Mastroianni da Itália
para o papel de Nacib, num dos
casos de "miscasting" mais dramáticos do cinema moderno, e
ainda ambientou a Bahia em Paraty, com resultado mais que precário.
Mastroianni, consta, fez o filme
porque queria namorar Sônia
Braga. Mas aparentemente o namoro dos dois foi o que deu mais
certo no filme.
Existe ainda o recente e discutido "Tieta" (1996), de Carlos Diegues. Aqui, a visão do romance é
muito particular -há muito mais
de Diegues do que de Jorge Amado no filme, inclusive a estilização
a la escola de samba característica
do cineasta.
Embora o filme marcasse o retorno de Sônia Braga ao Brasil, o
resultado na bilheteria foi decepcionante: nem chegou a meio milhão de espectadores.
Bem diferente foi a sorte do escritor na televisão. "Gabriela",
adaptada em 1975 por Walter
George Durst, é uma espécie de
marco na teledramaturgia da Rede Globo.
Não só fez de Sônia Braga a atriz
mais popular do país, como tinha
uma grande riqueza de ambientação.
O gênero ainda não estava inteiramente desenvolvido, era um
momento em que se descobria, e
o diretor Walter Avancini fez um
trabalho memorável, inclusive na
direção do elenco (mesmo o sotaque baiano foi preparado com esmero, o que talvez não fosse prática corrente na época).
Se "Terras do sem Fim" pode ter
sido menos marcante, "Tieta"
(1989-90) fez por Betty Faria quase o mesmo que "Gabriela", a novela, fizera por Sônia Braga.
Talvez por isso, toda vez que a
situação aperta no setor ibope, a
Globo puxa um Jorge Amado da
gaveta.
Há não muito tempo, foi a vez
de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", em versão minissérie.
A TV, muito mais que o cinema,
colaborou com as vendas dos livros de Jorge Amado, que pulavam para a lista de best-sellers cada vez que uma novela baseada
em seus romances entrava no ar e
só saíam depois do fim da novela.
Seis meses, ou mais. Em todo
caso, muito mais tempo do que
um filme costuma ficar em cartaz.
Nesse meio, vendiam-se livros a
rodo. Na ponta do lápis, a TV foi
não só o veículo por excelência
para a obra de Jorge Amado como
um ótimo negócio para seus editores.
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