São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2005

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DOCUMENTÁRIO

"Morte na Escadaria" acompanha julgamento de escritor bissexual

Série destrincha Justiça dos EUA

DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto séries de ficção como "Nip/Tuck" buscam seus temas na vida real para eletrizar seus espectadores, o documentário "Morte na Escadaria" não precisa de muito esforço para causar choque semelhante. Afinal, trata-se de uma produção que enfoca um julgamento, uma espécie de paixão nacional para os americanos.
Série em oito partes dirigida pelo francês Jean-Xavier de Lestrade, 42, vencedor do Oscar 2002 de documentário por "Murder on a Sunday Morning", "Morte" aborda os mecanismos da Justiça americana a partir do caso do escritor Michael Peterson. Após a morte da mulher, Kathleen, em um suposto acidente (queda de uma escadaria), ele torna-se suspeito de assassinato, mesmo sem provas de seu envolvimento. A questão desemboca na moral do país: a polícia e a Justiça dão como certa sua culpa ao descobrir que o escritor é bissexual. Leia a seguir a entrevista que Lestrade, diretor graduado em direito, concedeu à Folha. (BYS)

Folha - O que o motivou a fazer "Morte na Escadaria"?
Jean-Xavier de Lestrade -
Em "Murder" contei a história de um rapaz negro e pobre acusado de matar um branco. Ele foi pego pela polícia porque foi o primeiro negro a aparecer andando perto da cena. Desta vez, quis fazer o oposto: encontrar um acusado branco, rico, figura pública [em Durham, Carolina do Norte, EUA] e disposto a pagar US$ 1 milhão [R$ 2,3 milhões] em sua defesa. O que eu queria era encontrar um caso com uma profunda questão moral: ele foi perseguido por aquilo que era [bissexual], e não pelo que havia feito.

Folha - De onde vem seu interesse pela sociedade americana?
Lestrade -
Por trás de cada caso há uma história humana. E as histórias que você encontra nos EUA são familiares para quase qualquer pessoa por causa da influência dos filmes e séries. "Morte" não é sobre os norte-americanos, mas sim sobre quem somos.

Folha - "Morte na Escadaria" é uma espécie de "reality show"?
Lestrade -
Não. Peterson não é um homem comum; ele é um homem extraordinário. Não foi confortável acompanhar sua vida durante dois anos. Não tenho 100% de certeza de que ele seja inocente. Um "reality" tenta fazer você acreditar que está vendo algo conectado à vida real. Na verdade, não tem nada a ver com pessoas reais; tudo é falso. No meu filme, você pode ter a sensação de estar vendo uma ficção, mas ele é sempre conectado à realidade. Tentei não ser um voyeur ou colocar o público nessa condição.

Folha - Você considera a Justiça norte-americana justa?
Lestrade -
Teoricamente, é um sistema balanceado; na prática, é injusta, um jogo que depende do quanto você tem para gastar em sua defesa. Ela reflete o moralismo americano, e isso é válido em qualquer país. Por isso, filmar a Justiça é tão interessante.


Morte na Escadaria
Quando: às quartas, às 21h, no GNT


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