São Paulo, sexta-feira, 07 de agosto de 2009

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As armas de Hollywood

Eventos para a divulgação de filmes tentam controlar o que é publicado e cobram taxas para entrevistas

France Presse
Para lançar o filme ‘PearlHarbor’, estúdio levou jornalistas a uma festa no Havaí

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Reza a lenda que o modelo tem a idade de "E o Vento Levou" (1939). À época, o estúdio MGM convidou jornalistas para uma viagem a Atlanta. Houve champanhe, hotel cinco estrelas, entrevistas com as estrelas e um brinde: uma máquina de escrever com as iniciais GWW ("Gone with the Wind"). O aparato, que resultou em páginas e páginas de jornal, ganhou um apelido: "junket".
A palavra "junket" não tem tradução. Mas tem um significado específico: é um evento que reúne a imprensa mundial para a divulgação de um filme. Pode designar também piquenique, festa. "Essa ação existe desde que o cinema é indústria. Trata-se, basicamente, de uma estrutura montada para que os "talents" mantenham contato com a imprensa", define Tito Liberato, diretor de marketing da Fox. Os "talents", cabe esclarecer, são os atores e diretores.
Para que o contato não seja desprovido de glamour, os estúdios engendram viagens e cenários -com o perdão do trocadilho- cinematográficos. "O Julgamento de Nuremberg" (1961) foi exibido num trem, na Alemanha. Em "Pearl Harbor" (2001), jornalistas foram levados ao Havaí e fizeram suas entrevistas em um transatlântico.
Mas, se mudaram os tempos, mudaram também as "junkets". "Antes, tinha todo um glamour. Agora é uma relação mais comercial. É tudo na ponta do lápis", diz Márcio Fraccaroli, da distribuidora Paris Filmes. A Paris, recentemente, convidou a Folha para participar do evento de "Lua Nova", novo título da saga adolescente "Crepúsculo", em Los Angeles.
O convite incluía uma taxa de participação, em dólares: US$ 1.250 para entrevistas em grupo e US$ 1.750 para individuais. "Não sou eu que cobro, é o produtor", diz Fraccaroli. Quando não racha a conta, a empresa gasta cerca de US$ 6 mil por jornalista.
Também indicativo dos novos tempos é que, há duas semanas, uma repórter da Folha foi parar no "black book" (livro negro) -o português não chegou a esse universo- de um estúdio por fazer perguntas "indevidas".
"Isso é publicidade gratuita. Mas, hoje, os estúdios precisam menos da imprensa. Há comerciais na TV e internet", diz Edward Jay Epstein, Ph.D. em ciência política em Harvard e autor do livro "O Grande Filme - O Dinheiro e Poder em Hollywood ", sobre os bastidores da indústria. "Mas esses eventos são, ainda assim, um bom negócio. Enquanto uma campanha que inclua TV sai por cerca de US$ 20 milhões, a publicidade gratuita sai, no máximo, por US$ 2 milhões."


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