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Parlapatões chegam à maioridade discutindo política
Sem perder o bom humor e o espírito anárquico, grupo encena texto de Dario Fo que aborda os círculos de poder na Igreja Católica e a manipulação da fé
JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Igreja Católica, fé, poder, riso
e iconoclastia. Eis alguns dos
ingredientes escolhidos pelos
Parlapatões para representar
"O Papa e a Bruxa", de Dario
Fo, e provocar o seu público à
reflexão.
A peça, que estreia hoje em
São Paulo, marca os 18 anos do
grupo paulistano de origem circense e clownesca. E é como
uma passagem à maioridade,
segundo o diretor e ator Hugo
Possolo. "Pela primeira vez estamos fazendo uma trama daquelas mais clássicas, com começo, meio e fim", afirma.
O contato direto com a plateia, característico dos Parlapatões, é contido nessa montagem pelo que Possolo chama de
"uma falsa quarta parede".
"Falsa porque a gente rompe
com ela às vezes, chega à plateia. Mas a dramaturgia do Fo é
rigorosa; para nós, é um desafio
ater-se a isso".
Essa busca por novas linguagens faz parte do esforço de
reinvenção do grupo nessa "fase adulta", segundo Possolo.
"Temos um estilo como artistas, mas não podemos ficar repetindo fórmulas. O sentido é o
desafio. A gente vem do circo,
né? Você dá um mortal, você
quer dar dois."
Prova dos nove
O italiano Dario Fo, Prêmio
Nobel de Literatura em 1997,
escreveu a peça como uma provocação, em 1989, e sob forte
influência da figura de Karol
Wojtyla -João Paulo 2º.
Na trama, o papa se vê pressionado em seus aposentos no
Vaticano a atender milhares de
crianças do Terceiro Mundo,
que o esperam lá fora, e a jornalistas sequiosos por uma coletiva de imprensa.
Mas sua enorme dor nas costas o impede de sair e mobiliza
todo o seu séquito. Só uma freira, que aos poucos se revela
muito mais que freira, consegue ajudá-lo de fato.
É a chave para o questionamento de ordem religiosa e política proposto pelos Parlapatões. "Queremos dessacralizar
a ideia do poder instituído e defender a fé das pessoas, política
ou religiosa, da manipulação",
conta Possolo.
"O pior de tudo é o cara que te
vende esperança, te dá migalhas e reafirma que aquilo é a
esperança que ele prometeu.
Isso é vergonhoso, e o momento histórico do país é ruim por
isso: alguém nos prometeu esperança e nos deu mais do mesmo. É o que nos motiva a fazer
um teatro mais político."
Mas sem perder o bom humor, é claro. "Estamos falando
de um espírito de provocação e
de debate que seja divertido.
Vamos mudar o mundo, sim,
mas com alegria. A alegria é a
prova dos nove, Oswald de Andrade, já disse muito bem."
O PAPA E A BRUXA
Quando: sex., às 21h, sáb., às 19h e
às 22h e dom., às 20h; até 1º/11
Onde: Espaço Parlapatões (Praça
Franklin Roosevelt, 158, tel. 0/xx/
11/ 3258-4449)
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 20
Classificação: 14 anos
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