São Paulo, sexta-feira, 07 de agosto de 2009

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Parlapatões chegam à maioridade discutindo política

Sem perder o bom humor e o espírito anárquico, grupo encena texto de Dario Fo que aborda os círculos de poder na Igreja Católica e a manipulação da fé

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Igreja Católica, fé, poder, riso e iconoclastia. Eis alguns dos ingredientes escolhidos pelos Parlapatões para representar "O Papa e a Bruxa", de Dario Fo, e provocar o seu público à reflexão.
A peça, que estreia hoje em São Paulo, marca os 18 anos do grupo paulistano de origem circense e clownesca. E é como uma passagem à maioridade, segundo o diretor e ator Hugo Possolo. "Pela primeira vez estamos fazendo uma trama daquelas mais clássicas, com começo, meio e fim", afirma.
O contato direto com a plateia, característico dos Parlapatões, é contido nessa montagem pelo que Possolo chama de "uma falsa quarta parede".
"Falsa porque a gente rompe com ela às vezes, chega à plateia. Mas a dramaturgia do Fo é rigorosa; para nós, é um desafio ater-se a isso".
Essa busca por novas linguagens faz parte do esforço de reinvenção do grupo nessa "fase adulta", segundo Possolo. "Temos um estilo como artistas, mas não podemos ficar repetindo fórmulas. O sentido é o desafio. A gente vem do circo, né? Você dá um mortal, você quer dar dois."

Prova dos nove
O italiano Dario Fo, Prêmio Nobel de Literatura em 1997, escreveu a peça como uma provocação, em 1989, e sob forte influência da figura de Karol Wojtyla -João Paulo 2º.
Na trama, o papa se vê pressionado em seus aposentos no Vaticano a atender milhares de crianças do Terceiro Mundo, que o esperam lá fora, e a jornalistas sequiosos por uma coletiva de imprensa. Mas sua enorme dor nas costas o impede de sair e mobiliza todo o seu séquito. Só uma freira, que aos poucos se revela muito mais que freira, consegue ajudá-lo de fato.
É a chave para o questionamento de ordem religiosa e política proposto pelos Parlapatões. "Queremos dessacralizar a ideia do poder instituído e defender a fé das pessoas, política ou religiosa, da manipulação", conta Possolo.
"O pior de tudo é o cara que te vende esperança, te dá migalhas e reafirma que aquilo é a esperança que ele prometeu.
Isso é vergonhoso, e o momento histórico do país é ruim por isso: alguém nos prometeu esperança e nos deu mais do mesmo. É o que nos motiva a fazer um teatro mais político."
Mas sem perder o bom humor, é claro. "Estamos falando de um espírito de provocação e de debate que seja divertido.
Vamos mudar o mundo, sim, mas com alegria. A alegria é a prova dos nove, Oswald de Andrade, já disse muito bem."


O PAPA E A BRUXA
Quando: sex., às 21h, sáb., às 19h e às 22h e dom., às 20h; até 1º/11
Onde: Espaço Parlapatões (Praça Franklin Roosevelt, 158, tel. 0/xx/ 11/ 3258-4449)
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 20
Classificação: 14 anos




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