Cartunista da Folha e colaborador da "Mad" reúne desenhos em coletânea

"Cócegas no Raciocínio" aborda política e influências culturais do autor, que rejeita rótulo de garoto prodígio

CLARICE CARDOSO
DE SÃO PAULO

Sempre que falam sobre João Montanaro, o assunto começa igual: a pouca idade. Não que seja à toa. Afinal, não é sempre que se veem garotos de 14 anos com humor tão apurado e trabalhando como chargista profissional da Folha e da revista "Mad".
E, agora que lança o primeiro livro, "Cócegas no Raciocínio", deve pegar de vez o apelido de "garoto prodígio". "Sou o Robin", brinca. "Isso me incomoda um pouco, o "menino prodígio" é alguém que aparece e logo some", diz. "Apesar de ser óbvio, não gosto que falem tanto na minha idade porque tira o foco do trabalho. Mas vou ter de lidar com isso por um tempo ainda, né?"
Bem-humorado, mostra à Folha originais, LPs e a coleção de livros de HQ. Da estante, destaca raridades, como um livro de charges de 1985 -do pai e um de seus primeiros contatos com esse universo-, uma primeira edição de "Fábulas Fabulosas", de Millôr Fernandes. Enquanto exibe livros de seus ilustradores favoritos, fala sobre janeiro passado, quando parou numa banca para comprar jornal: tinha acabado de publicar seu primeiro trabalho na Folha.
"Ficou horrível! Esqueci de calibrar o monitor e as cores saíram escuras", conta. Desenhar, para ele, sempre foi algo natural e não teve começo certo. Mas ele lembra de uma das primeiras tentativas sérias, aos seis anos, quando copiou um Bob Esponja da TV e mostrou ao pai.
Depois, começou a copiar o estilo de cartunistas famosos até achar o seu. A esponja é um dos programas favoritos quando não está trabalhando. Outras horas do dia são gastas lendo jornal, tocando guitarra e na web. Mas nada de redes sociais. Gosta é de fuçar blogs de quadrinistas e de cultura.
De filmes a música e literatura, usa as referências que encontra ali com frequência nos trabalhos. E já se acostumou a receber críticas quando o assunto é política. Reunir tudo isso no livro, ele conta, foi desafiador.
O resultado final -que ele ainda nem viu-, porém, não é a primeira marca que ele deixa no mundo. "Já plantei uma árvore com meu irmão no pré", conta. "Mas hoje transformaram o campinho em estacionamento", ri.