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CRÍTICA ROMANCE
"Bel-Ami" resgata lições enérgicas de Maupassant
Com sensualismo, francês traça vasto quadro social da belle époque
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
"Ó espírito de Maupassant, venha em meu auxílio!", implorou Henry James
(1843-1916), no domingo de
11 de março de 1888, em seu
"notebook".
Que coisa desejava o gigantesco escritor americano,
então com 44 anos, de seu
confrade francês, na época
com 38 anos? Aspirava a um
pouco mais de "robusta e vívida concisão" na escrita,
queria "algo tão admiravelmente compacto e seletivo
quanto [a prosa de] Maupassant [1850-1893]".
Toda vez que uma literatura se distrai com subjetivismos toscos, imprecisões retóricas e "palhaçadas da linguagem" (Flaubert), que perde a força da imaginação, o
gosto da observação, do rigor
e da objetividade, uma das
evocações é sempre a do espírito de Maupassant.
Por isso deve ser um bom
sinal o lançamento no Brasil
de "Bel-Ami", pela ed. Estação Liberdade, menos de um
ano após a publicação de
"125 Contos de Maupassant",
pela Companhia das Letras.
Para jovens escritores, a leitura dos dois vale um curso
inteiro de "escrita criativa".
"Bel-Ami" foi publicado
originalmente na forma de
folhetim, entre 6 de abril e 30
de maio de 1885, no jornal
"Gil Blas", o mesmo em que
Zola difundiu "Germinal".
É a história da escalada social do bonitão, ambicioso e
calculista Georges Duroy, o
Bel-Ami. Em intensas 368 páginas, ele escapa da vida miserável, faz carreira no jornalismo e alça ao topo da exclusivista sociedade parisiense.
Para tanto, recorre ao seu
charme matador -que arrebata mulheres que podem
ajudá-lo na ascensão- e utiliza sem melindres o jornal
panfletário "La Vie Parisienne" a fim de se pôr ao lado da
elite política e financeira.
BELLE ÉPOQUE
O livro não se esgota aí. Estamos no auge do romance
realista, e "Bel-Ami" é também um vasto quadro social
do período, com os gozos e
traumas da belle époque, as
intrigas políticas do alvorecer da Terceira República
(1870-1940) e a denúncia da
especulação.
O sensualismo de Maupassant também está a todo vapor. Pessimista, mas firmemente antirreligioso, ele vê o
sexo e o amor como as únicas
compensações ao sem sentido da existência.
"Cada um logo se aniquila
por inteiro no estrume dos
novos germes", diz Bel-Ami
num dos mais terríveis trechos desta obra-prima, em
que, estranhamente, o niilismo devastador segue ao lado
de uma enérgica e incondicional afirmação da vida.
BEL-AMI
AUTOR Guy de Maupassant
TRADUÇÃO Leila de Aguiar Costa
EDITORA Estação Liberdade
QUANTO R$ 51 (368 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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