São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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CRÍTICA ROMANCE

"Bel-Ami" resgata lições enérgicas de Maupassant

Com sensualismo, francês traça vasto quadro social da belle époque

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

"Ó espírito de Maupassant, venha em meu auxílio!", implorou Henry James (1843-1916), no domingo de 11 de março de 1888, em seu "notebook".
Que coisa desejava o gigantesco escritor americano, então com 44 anos, de seu confrade francês, na época com 38 anos? Aspirava a um pouco mais de "robusta e vívida concisão" na escrita, queria "algo tão admiravelmente compacto e seletivo quanto [a prosa de] Maupassant [1850-1893]".
Toda vez que uma literatura se distrai com subjetivismos toscos, imprecisões retóricas e "palhaçadas da linguagem" (Flaubert), que perde a força da imaginação, o gosto da observação, do rigor e da objetividade, uma das evocações é sempre a do espírito de Maupassant.
Por isso deve ser um bom sinal o lançamento no Brasil de "Bel-Ami", pela ed. Estação Liberdade, menos de um ano após a publicação de "125 Contos de Maupassant", pela Companhia das Letras. Para jovens escritores, a leitura dos dois vale um curso inteiro de "escrita criativa".
"Bel-Ami" foi publicado originalmente na forma de folhetim, entre 6 de abril e 30 de maio de 1885, no jornal "Gil Blas", o mesmo em que Zola difundiu "Germinal".
É a história da escalada social do bonitão, ambicioso e calculista Georges Duroy, o Bel-Ami. Em intensas 368 páginas, ele escapa da vida miserável, faz carreira no jornalismo e alça ao topo da exclusivista sociedade parisiense.
Para tanto, recorre ao seu charme matador -que arrebata mulheres que podem ajudá-lo na ascensão- e utiliza sem melindres o jornal panfletário "La Vie Parisienne" a fim de se pôr ao lado da elite política e financeira.

BELLE ÉPOQUE
O livro não se esgota aí. Estamos no auge do romance realista, e "Bel-Ami" é também um vasto quadro social do período, com os gozos e traumas da belle époque, as intrigas políticas do alvorecer da Terceira República (1870-1940) e a denúncia da especulação.
O sensualismo de Maupassant também está a todo vapor. Pessimista, mas firmemente antirreligioso, ele vê o sexo e o amor como as únicas compensações ao sem sentido da existência.
"Cada um logo se aniquila por inteiro no estrume dos novos germes", diz Bel-Ami num dos mais terríveis trechos desta obra-prima, em que, estranhamente, o niilismo devastador segue ao lado de uma enérgica e incondicional afirmação da vida.


BEL-AMI

AUTOR Guy de Maupassant
TRADUÇÃO Leila de Aguiar Costa
EDITORA Estação Liberdade
QUANTO R$ 51 (368 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo




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