São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Estreia de Mika Lins tem ótima encenação

Atriz faz meticulosa direção de texto de Tom Kempinski com atuações excepcionais sobre artista e seu terapeuta

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro como a arte do diálogo. "Dueto para Um" apresenta antológica peça de Tom Kempinski, toda construída em torno da dialética entre uma paciente e seu psicoterapeuta.
Escrita em 1980 pelo ator de cinema e dramaturgo inglês -e filmada em 1986, tendo Julie Andrews e Alan Bates como protagonistas-, chega ao Brasil marcando a feliz estreia da atriz Mika Lins como encenadora.
O drama de Kempinski é claramente inspirado na história da violoncelista britânica Jacqueline Mary du Pré. Ela fez carreira brilhante como solista e casou, no auge da fama, com o pianista e maestro Daniel Barenboim, morrendo aos 42 anos, depois de sofrer lenta deterioração física provocada por esclerose múltipla.
Na ficção encenada, o autor se concentra sobre a plausível agonia mental da artista com a doença e fabula uma situação em que ela recorre a uma terapia psiquiátrica para suportar todas as perdas sofridas. A musicista aqui chama-se Stephanie e o instrumento que ela é forçada a abandonar é o violino.

EXCEPCIONAL
A ação dramática transcorre durante seis sessões em que a artista frequenta o consultório do Dr. Feldman. Assim, das primeiras visitas, quando ela ainda resiste em admitir qualquer sofrimento psíquico, até os momentos de quase desespero com sua degradação física, o jogo dramático se dá no embate de ideias dela com seu médico.
A montagem de uma trama como essa, centrada na conversação, exige um desempenho excepcional dos atores em cena. Bel Kowarick corresponde a essa necessidade e realiza o melhor e mais potente trabalho de interpretação de sua carreira. A atriz excede em talento no virtuosismo quando constrói a evolução da personagem pelos diversos e dolorosos estágios da terapia.
O ator Marcos Suchara também aparece com brilho, compondo a convincente caracterização de um terapeuta que se entrega apaixonadamente à tarefa de apaziguar a alma atormentada de uma doente terminal.
Diante desse talentoso duo, a encenação de Mika Lins evidencia-se sutilmente, como a arbitragem de um bom juiz de futebol. Está claro que o ótimo desempenho dos intérpretes é tributário de uma meticulosa direção.
Cássio Brasil propõe uma cenografia sintética e funcional, servindo-se apenas de um praticável giratório, e a iluminação de Caetano Vilela contribui fortemente, ao lado da trilha sonora de Marcelo Pellegrini, para pontuar as transições e enfatizar os picos de tensão.
A peça "Dueto para Um" parte de um texto consagrado para reafirmar uma vocação milenar do diálogo dramático: a de representar um processo de cura pela tomada de consciência.


DUETO PARA UM

QUANDO qui. e sex., às 21h
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 0/ xx/11/3234-3000)
QUANTO R$ 2,50 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo



JOSÉ SIMÃO
O colunista está em férias




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