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CINEMA/ESTRÉIA
"O LIXO E A FÚRIA"
História da carreira meteórica do grupo Sex Pistols nos anos 70 é contada em longa de Julien Temple
Documentário expõe subversão punk original
ANTONIO BIVAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
Para começo de conversa,
este documentário é um "retrato autorizado", e todo retrato
autorizado sai com a cara que o
retratado quer. "O Lixo e a Fúria"
é uma resposta tardia do Sex Pistols a Malcolm McLaren e seu
"The Greatest Rock'n'Roll Swindle" (O Maior Trambique do
Rock), dirigido pelo mesmo Julien Temple, em 1979, onde
McLaren se mostrava inventor
não só da banda quanto do punk.
Feito 20 anos depois, "O Lixo e a
Fúria" é o outro lado da moeda.
Foi o Sex Pistols que inventou
Malcolm McLaren. Daí tirarem o
Frankenstein desse retrato.
O documentário como tal procede. É bom como entretenimento informativo da carreira meteórica da banda que noticiou o punk
para o mundo. A missão do Sex
Pistols foi curta, quatro anos: de
75, quando se forma, até 78, quando acaba, e 79, quando acaba de
vez com a morte de Sid Vicious.
O filme é rico em extratos visuais e sonoros e memorabilia do
período, mas Temple enche muita linguiça colocando excertos de
Laurence Olivier em "Ricardo 3º",
de Shakespeare, fazendo uma
analogia tipo maldita entre o rei
corcunda, o próprio Corcunda de
Notre Dame e a banda, na figura
do Joãozinho Podre.
É o lado "shakespeariano" de
Julien Temple que estraga um
pouco o filme. Para tamanha pretensão, falta certo estofo.
No mais, o filme corre bem.
Mostra que a banda veio para acabar com o rock brega-sinfônico
de Emerson, Lake & Palmer, Yes
e quejandos, entre os que dominavam a cena na época, além de
Bay City Rollers, banda "teenbubble", que era com quem, na verdade, os Pistols queriam competir.
São reveladas a atração que
membros do Sex Pistols sentiam
por Bowie, Roxy Music e Mott
The Hoople, a influência do New
York Dolls e o estigma de terem
servido de modelagem viva de
uma loja de moda na rua mais
"fashionable" de Londres na época, a King's Road. Contudo foi o
maior boom subversivo do período, um divisor de águas.
Em "O Lixo e a Fúria" fica clara
a subversão punk original, mas o
filme falha, e é típico dessa turma,
ao dar o movimento por findo
quando acaba a banda. Como se o
punk tivesse sido apenas aquele
instante, dali para a "Enciclopédia
do Rock", no verbete de direito,
como os de Elvis, Beatles, Stones,
glamour rock e, depois do punk, o
grunge (Nirvana) etc.
Mas foi com o fim do Sex Pistols
e da fase punk 77 que o movimento começou pra valer no mundo.
O levante Punk's Not Dead de 80
foi a largada para a eternidade do
punk.
Antonio Bivar é escritor, dramaturgo e
autor de "O que É Punk", entre outros
O Lixo e a Fúria
The Filth and the Fury
Direção: Julien Temple
Produção: Inglaterra, 1999
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco e na Sala UOL de Cinema
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