São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"O LIXO E A FÚRIA"

História da carreira meteórica do grupo Sex Pistols nos anos 70 é contada em longa de Julien Temple

Documentário expõe subversão punk original

ANTONIO BIVAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para começo de conversa, este documentário é um "retrato autorizado", e todo retrato autorizado sai com a cara que o retratado quer. "O Lixo e a Fúria" é uma resposta tardia do Sex Pistols a Malcolm McLaren e seu "The Greatest Rock'n'Roll Swindle" (O Maior Trambique do Rock), dirigido pelo mesmo Julien Temple, em 1979, onde McLaren se mostrava inventor não só da banda quanto do punk.
Feito 20 anos depois, "O Lixo e a Fúria" é o outro lado da moeda. Foi o Sex Pistols que inventou Malcolm McLaren. Daí tirarem o Frankenstein desse retrato.
O documentário como tal procede. É bom como entretenimento informativo da carreira meteórica da banda que noticiou o punk para o mundo. A missão do Sex Pistols foi curta, quatro anos: de 75, quando se forma, até 78, quando acaba, e 79, quando acaba de vez com a morte de Sid Vicious.
O filme é rico em extratos visuais e sonoros e memorabilia do período, mas Temple enche muita linguiça colocando excertos de Laurence Olivier em "Ricardo 3º", de Shakespeare, fazendo uma analogia tipo maldita entre o rei corcunda, o próprio Corcunda de Notre Dame e a banda, na figura do Joãozinho Podre.
É o lado "shakespeariano" de Julien Temple que estraga um pouco o filme. Para tamanha pretensão, falta certo estofo.
No mais, o filme corre bem. Mostra que a banda veio para acabar com o rock brega-sinfônico de Emerson, Lake & Palmer, Yes e quejandos, entre os que dominavam a cena na época, além de Bay City Rollers, banda "teenbubble", que era com quem, na verdade, os Pistols queriam competir.
São reveladas a atração que membros do Sex Pistols sentiam por Bowie, Roxy Music e Mott The Hoople, a influência do New York Dolls e o estigma de terem servido de modelagem viva de uma loja de moda na rua mais "fashionable" de Londres na época, a King's Road. Contudo foi o maior boom subversivo do período, um divisor de águas.
Em "O Lixo e a Fúria" fica clara a subversão punk original, mas o filme falha, e é típico dessa turma, ao dar o movimento por findo quando acaba a banda. Como se o punk tivesse sido apenas aquele instante, dali para a "Enciclopédia do Rock", no verbete de direito, como os de Elvis, Beatles, Stones, glamour rock e, depois do punk, o grunge (Nirvana) etc.
Mas foi com o fim do Sex Pistols e da fase punk 77 que o movimento começou pra valer no mundo. O levante Punk's Not Dead de 80 foi a largada para a eternidade do punk.


Antonio Bivar é escritor, dramaturgo e autor de "O que É Punk", entre outros

O Lixo e a Fúria
The Filth and the Fury    
Direção: Julien Temple
Produção: Inglaterra, 1999
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco e na Sala UOL de Cinema



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