São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2001

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FESTIVAL DE VENEZA

Longa em disputa de Walter Salles recebeu elogios de produtores e distribuidores internacionais

"Abril Despedaçado" encanta mercado

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Em latim, para mais se assemelhar aos grandes comunicados de indicação papal, foi dada a "notícia": "Annunzio vobis gaudium magnum habebus film" (anuncio a grande alegria: temos filme).
Era o produtor de TV italiano Gianni Ippoliti que expressava sua opinião, ao término da primeira projeção de "Abril Despedaçado", na madrugada de ontem, quando o filme do cineasta brasileiro Walter Salles foi apresentado para imprensa e mercado, em competição pelo Leão de Ouro do Festival de Veneza.
Autor da iniciativa "Ridateci i Soldi" (algo como "devolva-nos o dinheiro"), que consiste em incentivar o público a escrever -em pequenos cartazes depois afixados na área livre do festival- críticas sobre os filmes da mostra, Ippoliti fez a sua de maneira inusual: subiu ao pórtico da sala Palagalileo, que abrigou a sessão, e de lá deitou seu latim.
"É o primeiro filme desta disputa que apresenta um equilíbrio perfeito entre todos os seus aspectos. E isso é tão mais impressionante numa história que poderia resultar em algo completamente angustiante", disse o produtor, que desconhecia as obras anteriores de Walter Salles ("Terra Estrangeira", "Central do Brasil").
"Abril Despedaçado" é uma adaptação do livro homônimo do autor albanês Ismail Kadaré. A guerra de famílias pautada pela regra do "olho por olho" foi transposta para o sertão brasileiro, onde os Breves e os Ferreiras se matam uns aos outros, numa cobrança mútua e interminável de suas dívidas de sangue.
O livro de Kadaré já teve duas outras adaptações, mas a brasileira é a única que agradou ao escritor. Na entrevista sobre o filme, ontem, Kadaré deu sua opinião ao jornalista da revista "The New Yorker". "As duas tentativas anteriores de adaptar meu livro fracassaram. Essa ficou magnífica."
A justeza da transposição é aspecto que chamou a atenção do diretor da Miramax em Los Angeles, Mark Gill. "O filme, assim como os romances albaneses, tem essa urgência em nos lembrar que a violência na Albânia e no Oriente Médio parece nunca ter fim, mas, pelo que li, a história diz respeito também ao que acontecia nessa região do Brasil nos anos 10. É uma obra incrivelmente bem filmada, que representa um grande passo na maturidade cinematográfica de Salles."
A Miramax pretende distribuir "Abril Despedaçado" internacionalmente. "Mas isso ainda não está certo, porque há também propostas de todas as outras distribuidoras americanas de filmes independentes", disse Gill.
"Abril Despedaçado" teve orçamento de R$ 2,9 milhões e foi rodado em Bom Sossego, Caetité e Rio de Contas, no interior da Bahia, com uso exclusivo de luz natural. "Eu e [o diretor de fotografia" Walter Carvalho cortamos o Brasil para encontrar as locações", disse o co-roteirista Sérgio Machado. "Um foi de Salvador a Tocantins e o outro, de Salvador ao Rio Grande do Norte."
O produtor suíço Arthur Cohn (vencedor de seis Oscar e parceiro de Salles em "Central do Brasil") destacou a "altíssima qualidade do trabalho dos técnicos brasileiros". "Acredito que esse filme colocará o Brasil no mapa dos mais importantes produtores."
Breve: "Abril Despedaçado" encantou Veneza.


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