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FESTIVAL DE VENEZA
Longa em disputa de Walter Salles recebeu elogios de produtores e distribuidores internacionais
"Abril Despedaçado" encanta mercado
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
Em latim, para mais se assemelhar aos grandes comunicados de
indicação papal, foi dada a "notícia": "Annunzio vobis gaudium
magnum habebus film" (anuncio
a grande alegria: temos filme).
Era o produtor de TV italiano
Gianni Ippoliti que expressava
sua opinião, ao término da primeira projeção de "Abril Despedaçado", na madrugada de ontem, quando o filme do cineasta
brasileiro Walter Salles foi apresentado para imprensa e mercado, em competição pelo Leão de
Ouro do Festival de Veneza.
Autor da iniciativa "Ridateci i
Soldi" (algo como "devolva-nos o
dinheiro"), que consiste em incentivar o público a escrever
-em pequenos cartazes depois
afixados na área livre do festival- críticas sobre os filmes da
mostra, Ippoliti fez a sua de maneira inusual: subiu ao pórtico da
sala Palagalileo, que abrigou a sessão, e de lá deitou seu latim.
"É o primeiro filme desta disputa que apresenta um equilíbrio
perfeito entre todos os seus aspectos. E isso é tão mais impressionante numa história que poderia
resultar em algo completamente
angustiante", disse o produtor,
que desconhecia as obras anteriores de Walter Salles ("Terra Estrangeira", "Central do Brasil").
"Abril Despedaçado" é uma
adaptação do livro homônimo do
autor albanês Ismail Kadaré. A
guerra de famílias pautada pela
regra do "olho por olho" foi transposta para o sertão brasileiro, onde os Breves e os Ferreiras se matam uns aos outros, numa cobrança mútua e interminável de
suas dívidas de sangue.
O livro de Kadaré já teve duas
outras adaptações, mas a brasileira é a única que agradou ao escritor. Na entrevista sobre o filme,
ontem, Kadaré deu sua opinião ao
jornalista da revista "The New
Yorker". "As duas tentativas anteriores de adaptar meu livro fracassaram. Essa ficou magnífica."
A justeza da transposição é aspecto que chamou a atenção do
diretor da Miramax em Los Angeles, Mark Gill. "O filme, assim como os romances albaneses, tem
essa urgência em nos lembrar que
a violência na Albânia e no Oriente Médio parece nunca ter fim,
mas, pelo que li, a história diz respeito também ao que acontecia
nessa região do Brasil nos anos 10.
É uma obra incrivelmente bem
filmada, que representa um grande passo na maturidade cinematográfica de Salles."
A Miramax pretende distribuir
"Abril Despedaçado" internacionalmente. "Mas isso ainda não está certo, porque há também propostas de todas as outras distribuidoras americanas de filmes independentes", disse Gill.
"Abril Despedaçado" teve orçamento de R$ 2,9 milhões e foi rodado em Bom Sossego, Caetité e
Rio de Contas, no interior da Bahia, com uso exclusivo de luz natural. "Eu e [o diretor de fotografia" Walter Carvalho cortamos o
Brasil para encontrar as locações", disse o co-roteirista Sérgio
Machado. "Um foi de Salvador a
Tocantins e o outro, de Salvador
ao Rio Grande do Norte."
O produtor suíço Arthur Cohn
(vencedor de seis Oscar e parceiro
de Salles em "Central do Brasil")
destacou a "altíssima qualidade
do trabalho dos técnicos brasileiros". "Acredito que esse filme colocará o Brasil no mapa dos mais
importantes produtores."
Breve: "Abril Despedaçado" encantou Veneza.
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