São Paulo, quarta-feira, 07 de setembro de 2005

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FESTIVAL DE VENEZA

Ator e diretor americano mostra no Lido "Romance & Cigarettes", que desaponta apesar de elenco estelar

Turturro desafina em tributo aos musicais

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

É uma bobagem com pretensão a cult o filme que o ator e diretor americano John Turturro apresentou em competição anteontem no 62º Festival de Veneza.
"Romance & Cigarettes" (romance e cigarros) tem elenco estelar, "homenagem" ao gênero musical e a suposta ousadia de falar de sexo em tom sacana.
Casado com Kitty (Susan Sarandon) há tempo bastante para ter filhas adultas, Nick (James Gandolfini) redescobre o prazer do sexo com a jovem e devassa Tula (Kate Winslet). Ao se saber traída, Kitty se afasta do marido para se concentrar em desvendar a identidade e se vingar de sua amante. Já Nick percorre o caminho oposto -rompe com Tula, revaloriza os laços familiares e trata de reatá-los como pode.
A mise-en-scène que Turturro constrói para contar sua história "original" (ele assina também o roteiro) é de paródia musical, com dezenas de referências a personagens, atores e cenas clássicas do gênero. Deliberadamente exagerados, cantados com histeria e coreografados de forma kitsch, os trechos propriamente musicais de "Romance & Cigarettes" não conseguem o efeito de humor que almejam. Não para a maioria, pelo menos. Parte da platéia de jornalistas da primeira sessão do longa no festival chegou a aplaudir alguns trechos.
Alguém pode encontrar graça, por exemplo, nas brincadeiras que Turturro faz com os nomes dos personagens. O sobrenome de Nick é Murder (assassino), o de Kitty é Kane, e uma das filhas do casal se chama Rosebud (Aida Turturro). Turturro pensou em Orson Welles, mas ignorou os conselhos de outro mestre, Billy Wilder, que dizia que, num set de filmagens, um diretor é capaz de ter novas idéias, mas não de avaliar se elas são de fato boas.
Segundo seu relato, Turturro concebeu "Romance & Cigarettes" enquanto filmava "Barton Fink" (1991, de Joel Coen). O diretor diz que ficou seduzido pela idéia de que é possível expressar qualquer emoção em forma de música. Para os sentimentos escancarados no filme, escalou clássicos de Janis Joplin, James Brown e Bruce Springsteen, entre outros. "Acho que o jeito com que a música é colocada no filme é o jeito com que as pessoas associam a música às suas próprias vidas", disse Turturro, em Veneza.
Ele tem os irmãos Coen na produção executiva e, no elenco, Steve Buscemi, Mary-Louise Parker e Christopher Walken. Mas desperdiçou tudo num filme que, para ficar em sua linguagem, não vale um cigarrinho depois.
Com um terço dos competidores ao Leão de Ouro apresentados, "Good Night & Good Luck" (boa noite e boa sorte), de George Clooney, lidera a preferência de público e crítica. O filme traça a trajetória de um âncora de TV que lida com a caça às bruxas macarthista nos EUA dos anos 50. Foi considerado irônico, charmoso e divertido. O levantamento é da revista "Ciak", que tem publicação diária durante a mostra.
Críticos e jurados de festivais não costumam coincidir em suas opiniões. Mas o perfil do presidente do júri desta edição de Veneza sugere que filmes bons não deverão ser descartados pelo critério geopolítico.
O diretor de arte italiano Dante Ferretti, 61, reorientou a própria carreira da Itália, onde trabalhou com autores como Pasolini, em direção aos EUA. Colaborador freqüente de Martin Scorsese, Ferretti foi premiado neste ano com o Oscar pela direção de arte de "O Aviador".
É uma boa perspectiva para Clooney. E também para o brasileiro Fernando Meirelles, que compete com o anglo-americano "O Jardineiro Fiel".


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