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FESTIVAL DE VENEZA
Ator e diretor americano mostra no Lido "Romance & Cigarettes", que desaponta apesar de elenco estelar
Turturro desafina em tributo aos musicais
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
É uma bobagem com pretensão
a cult o filme que o ator e diretor
americano John Turturro apresentou em competição anteontem no 62º Festival de Veneza.
"Romance & Cigarettes" (romance e cigarros) tem elenco estelar, "homenagem" ao gênero
musical e a suposta ousadia de falar de sexo em tom sacana.
Casado com Kitty (Susan Sarandon) há tempo bastante para ter
filhas adultas, Nick (James Gandolfini) redescobre o prazer do
sexo com a jovem e devassa Tula
(Kate Winslet). Ao se saber traída,
Kitty se afasta do marido para se
concentrar em desvendar a identidade e se vingar de sua amante.
Já Nick percorre o caminho oposto -rompe com Tula, revaloriza
os laços familiares e trata de reatá-los como pode.
A mise-en-scène que Turturro
constrói para contar sua história
"original" (ele assina também o
roteiro) é de paródia musical,
com dezenas de referências a personagens, atores e cenas clássicas
do gênero. Deliberadamente exagerados, cantados com histeria e
coreografados de forma kitsch, os
trechos propriamente musicais
de "Romance & Cigarettes" não
conseguem o efeito de humor que
almejam. Não para a maioria, pelo menos. Parte da platéia de jornalistas da primeira sessão do
longa no festival chegou a aplaudir alguns trechos.
Alguém pode encontrar graça,
por exemplo, nas brincadeiras
que Turturro faz com os nomes
dos personagens. O sobrenome
de Nick é Murder (assassino), o
de Kitty é Kane, e uma das filhas
do casal se chama Rosebud (Aida
Turturro). Turturro pensou em
Orson Welles, mas ignorou os
conselhos de outro mestre, Billy
Wilder, que dizia que, num set de
filmagens, um diretor é capaz de
ter novas idéias, mas não de avaliar se elas são de fato boas.
Segundo seu relato, Turturro
concebeu "Romance & Cigarettes" enquanto filmava "Barton
Fink" (1991, de Joel Coen). O diretor diz que ficou seduzido pela
idéia de que é possível expressar
qualquer emoção em forma de
música. Para os sentimentos escancarados no filme, escalou clássicos de Janis Joplin, James Brown
e Bruce Springsteen, entre outros.
"Acho que o jeito com que a música é colocada no filme é o jeito
com que as pessoas associam a
música às suas próprias vidas",
disse Turturro, em Veneza.
Ele tem os irmãos Coen na produção executiva e, no elenco, Steve Buscemi, Mary-Louise Parker
e Christopher Walken. Mas desperdiçou tudo num filme que, para ficar em sua linguagem, não vale um cigarrinho depois.
Com um terço dos competidores ao Leão de Ouro apresentados, "Good Night & Good Luck"
(boa noite e boa sorte), de George
Clooney, lidera a preferência de
público e crítica. O filme traça a
trajetória de um âncora de TV
que lida com a caça às bruxas macarthista nos EUA dos anos 50.
Foi considerado irônico, charmoso e divertido. O levantamento é
da revista "Ciak", que tem publicação diária durante a mostra.
Críticos e jurados de festivais
não costumam coincidir em suas
opiniões. Mas o perfil do presidente do júri desta edição de Veneza sugere que filmes bons não
deverão ser descartados pelo critério geopolítico.
O diretor de arte italiano Dante
Ferretti, 61, reorientou a própria
carreira da Itália, onde trabalhou
com autores como Pasolini, em
direção aos EUA. Colaborador
freqüente de Martin Scorsese,
Ferretti foi premiado neste ano
com o Oscar pela direção de arte
de "O Aviador".
É uma boa perspectiva para
Clooney. E também para o brasileiro Fernando Meirelles, que
compete com o anglo-americano
"O Jardineiro Fiel".
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