São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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BIA ABRAMO

"CQC" decola com jornalismo irônico



O programa continua sendo o mais legal das noites modorrentas da televisão aberta


FAZIA TEMPO que um programa de humor não "pegava" tanto como o "CQC". O humorístico estreou muito bem, tanto em termos do formato como de audiência.
Mas nas últimas semanas não se fala em outra coisa em blogs e em rodas de amigos e conhecidos.
A temperatura jornalística -essa febre do "CQC" coincide com a Olimpíada, com a proximidade das eleições e com os grandes shows de comemoração dos 50 anos da bossa nova- foi decisiva para que o programa caísse nas graças dos espectadores. Uma das grandes sacadas do "CQC" está no fato de seus apresentadores e repórteres-humoristas pensarem o programa a partir de um olhar atento ao que está se passando -e, claro, argúcia para descobrir motivos para rir de tudo isso.
A entrada do oitavo homem, o "repórter experiente" Warley Santana, espécie de espelho invertido de seu colega "inexperiente" Danilo Gentili, também contribuiu. O quadro é excelente; Warley apresenta-se como uma espécie de marqueteiro -cujo objetivo é "mostrar o lado humano dos políticos"- e, impiedosamente, vai fazendo os entrevistados distorcerem suas próprias palavras e se desdizerem na frente das câmeras. Lisonjeiro e insidioso, o repórter-marqueteiro lança mão de todo tipo de armação para compor uma matéria "a favor" -e o resultado, para o entrevistado, é mais ou menos desastroso.
Mesmo que o efeito pegadinha do quadro se esgote mais ou menos rapidamente, o estrago já está feito. Além das novidades, o programa tem se beneficiado da experiência e do entrosamento maior entre apresentadores e repórteres-humoristas. A verve de Marcelo Tas anda afiadíssima, e seus colegas de bancada, Rafinha Bastos e Marco Luque, acompanham à altura.
O tempo, que pode ser carrasco de qualquer programa de humor, por enquanto ainda está a favor do "CQC". Se a repetição da piada em geral faz com que ela perca a força, também é verdade que há uma espécie de aprendizado na apreciação do humor irônico.
Claro, há problemas. A câmera "torta" que se convencionou ser adequada para programas jovens é um sestro irritante, que deveria ser banido para sempre da televisão. A "invasão" de patrocinadores nas vinhetas e a aparição dos homens de preto como garotos-propaganda empana um pouco a independência do programa -a reverência à grana daqueles que financiam o "CQC" não combina com a acidez com que eles tratam políticos e celebridades.
Mesmo assim, continua sendo o programa mais legal das noites modorrentas da TV aberta.

biabramo.tv@uol.com.br




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