São Paulo, quarta-feira, 07 de setembro de 2011 |
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Peça de Mamet revela mundo 'labiríntico' Encenação dirigida por Alvise Camozzi, que estreia hoje em SP, acentua a atmosfera nebulosa de "O Bosque" 'Quero que o público se perca e que cada espectador escolha seu próprio percurso', explica o diretor GABRIELA MELLÃO DE SÃO PAULO No conto "O Jardim de Veredas que se Bifurcam", Jorge Luis Borges compara uma obra literária a um labirinto. Segundo ele, ambos são formados por jardins que se dividem em diversos caminhos. Alvise Camozzi toma emprestada a metáfora do escritor e poeta argentino para explicar "O Bosque", peça de David Mamet inédita no Brasil, que estreia hoje com sua direção: "Esse espetáculo é um jardim de bifurcações. Quero que o público se perca e que cada espectador escolha o seu próprio percurso". "O Bosque" é essencialmente onírica. Passa longe da linguagem naturalista que consagrou Mamet como um dos maiores dramaturgos e roteiristas norte-americanos da atualidade. O texto é nebuloso, inconclusivo e aberto à interpretação do público. Retrata o encontro de um casal jovem em uma casa situada numa floresta, em frente a um lago. Eles desempenham ações banais de qualquer relação afetiva. Conversam, se beijam e até brigam. Sob a aparente normalidade, Mamet cria uma atmosfera de mistério. Os diálogos curtos, truncados e repletos de silêncios não estabelecem comunicação. Os personagens parecem desconectados da realidade. Desconfiam da própria memória e têm dificuldade de relembrar histórias de infância. "Nesse texto criado em início de carreira, numa fase de experimentação radical, Mamet dialoga com Harold Pinter e Samuel Beckett, seus mestres. O absurdo emerge de maneira violenta, e a falta de memória se torna a própria incapacidade de existir", explica Camozzi. O diretor acentua o clima enigmático por meio de uma encenação em que o palco se torna progressivamente mais escuro -e obscuro. Na última cena, a personagem mulher se transforma em um vulto que percorre com dificuldade uma das instalações presentes no palco, formada por almofadas brancas sobrepostas, as quais parecem corpos amontoados e evocam o lago. A instabilidade instaura no teatro um clima de tensão. "Tento desnortear o espectador para que ele saia da peça revendo sua relação com o mundo, que está em decomposição", conclui o diretor. O BOSQUE ONDE CCBB (rua Álvares Penteado, 112; tel. 0/xx/11/3113-3651) QUANDO terças, quartas e quintas, às 19h30; de hoje até 27/10 QUANTO R$ 6 CLASSIFICAÇÃO 14 anos Texto Anterior: Marcelo Coelho: Missa cantada Próximo Texto: Teatro Sérgio Cardoso reabre após reforma Índice | Comunicar Erros |
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