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Gênio Indomável
CECÍLIA SAYAD
da Redação
Matt Damon e Ben Affleck, que
levaram o Oscar de melhor roteiro
por "Gênio Indomável", colocaram em questão valores da sociedade norte-americana sob o ponto
de vista de um personagem a um
só tempo excluído e privilegiado.
Will Hunting (Damon) tem uma
inteligência matemática que deixa
os professores do MIT babando de
inveja. Resolve com um pé nas costas problemas que tomam décadas
das vidas de doutores na área. Em
suma, é um gênio, e esse é o seu
privilégio.
É, porém, órfão e pertence a uma
classe social desfavorecida, tendo
passado a infância a migrar entre
lares adotivos.
Apesar de ter consciência de seus
dotes, prefere a companhia dos
amigos, operários ou desempregados com quem enche a cara e se
mete em brigas de rua.
Nisso, é um excluído e acaba na
cadeia. Até que um professor do
MIT, sabendo de sua genialidade,
resolve investir no rapaz: aceita pagar sua fiança sob a condição de ser
seu tutor, o que significa colocá-lo
em contato com profissionais da
área e obrigá-lo a fazer terapia.
É então que entra o psicólogo interpretado por Robin Williams
(Oscar de melhor ator coadjuvante
pelo papel), que faz com que o dilema colocado pelo filme perca um
pouco de sua força.
Will rejeita a passagem para o
mundo dos privilegiados. Recusa
empregos que lhe ofereceriam um
salário milionário e um status social elevado. Mais: rejeita o título
de gênio, ainda que seja bastante
arrogante.
No entanto, essa rejeição, em vez
de questionar valores como "você
deve servir ao desenvolvimento da
ciência e à evolução do pensamento humano", que contraporiam o
interesse individual ("prefiro beber com amigos") ao coletivo, acaba reiterando esses valores.
Eis a razão: Will recusa tudo o
que lhe é oferecido porque tem
medo -originário de seus traumas em uma infância de abusos e
abandonos.
Quando o psicólogo chega a essa
óbvia conclusão, o discurso de
questionamento do rapaz vai por
água abaixo, pois sua recusa a integrar-se vem de uma "deficiência"
em superar certos problemas. Ou
seja, não poderia ser natural, é
"coisa de desequilibrado".
Esses traumas acabam prejudicando Will também em sua relação
amorosa com a personagem de
Minnie Driver. Damon e Affleck
não perdem a oportunidade de colocar o amor como mais um valor
em jogo no filme -este, entretanto, de importância indiscutível e
caráter redentor.
É assim que "Gênio Indomável"
se revela um filme que parte de
uma aparente rebeldia para revelar-se conformado, mas de um
conformismo que se ampara no
amor e é, assim, perdoado.
Dez em apelo junto ao público.
Se tivesse levado mais a sério as
questões que coloca, seria um
grande filme.
²
Filme: Gênio Indomável
Produção: EUA, 1997, 126 min
Direção: Gus Van Sant
Com: Matt Damon, Robin Williams, Minnie
Driver
Lançamento: Paris (011/3872-4404)
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