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FESTIVAL DE VENEZA
Allen homenageia Django Reinhardt
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
O lançamento mundial de
"Sweet and Lowdown" (Doce e
Baixo), o 29º longa-metragem de
Woody Allen, encantou ontem
este pouco excitante 56º Festival
de Veneza. Em seu mais relaxado
e divertido filme desde "Poderosa
Afrodite" (1995), Allen celebra
seu amor ao jazz por meio do retrato de um violonista dos anos
30.
Django Reinhardt (1910-1953),
o grande fundador do mítico
"Hot Club" com Grapelli, serviu
de referência básica, como reconheceu o próprio Allen. O fictício
Emmet Ray, interpretado por
Sean Penn, não cansa de bater
continência ao mestre. "Ninguém
me supera, exceto aquele cigano
da França", repete Ray o filme todo.
Como em "Zelig", Allen pontua
"Sweet" com depoimentos de especialistas, nem sempre reais, para autorizar a homenagem. Ele
próprio abre o filme lembrando a
emoção da descoberta do violonista, sendo seguido por um radialista (verdadeiro), um biógrafo
(falso) e um historiador de jazz
(real).
"Sweet" prossegue alinhando as
hilárias aventuras de Ray entre
músicos, gângsteres e amores.
Presunçoso, indisciplinado e egocêntrico, o gênio das cordas dissipa em luxos muito mais do que
ganha com seu talento.
Bicos como cafetão e jogador
complementam os ganhos. Nas
horas vagas, Ray cede à cleptomania, exercita a mira em ratos ou,
supremo gozo, assiste à passagem
de trens.
Duas mulheres marcam-lhe a
trajetória. A extraordinária Samantha Morton, sósia em figura e
irmã em talento da brasileira Maria Luiza Mendonça, interpreta
Hattie, a jovem muda que se dedica a Ray de corpo e alma. Instável
demais para o casamento, o músico acaba abandonando-a para logo se amarrar com Blanche (Uma
Thurman), uma escritora pretensiosa e volúvel.
Descontados Penn, Thurman e
Anthony LaPaglia, sua galeria de
excêntricos algo felliniana se forma graças a um elenco de desconhecidos. Penn carrega o filme
nas costas, apesar da evidente displicência com que empunha o
violão. Seu Ray compõe-se tendo
como modelo o músico feito por
Robert De Niro em "New York,
New York". Nunca foi tão fácil
gostar dele.
Cores
A cenografia, como sempre de
Santo Loquasto, e a foto, pela primeira vez do chinês Zhao Fei
("Lanternas Vermelhas"), garantem a "Sweet" uma exuberância
de cores rara num filme de Allen.
A justa equivalência musical atinge-se com os solos de violão de
Harold Alden a serviço da trilha
de clássicos rearranjados soberbamente por Dick Hyman.
Licenciando-se do desejo de
transcendência de seus dois últimos filmes, Allen resgata aqui o
prazer da pura comédia nostálgica, à moda de "A Era do Rádio"
(1987) e "Tiros na Broadway"
(1994). O cineasta não veio a Veneza apresentar "Sweet" fora de
competição pois, como sempre, já
trabalha em seu próximo filme.
Ele próprio adiantou tratar-se de
"uma comédia sobre o mundo
dos ladrões", protagonizada por
Hugh Grant. Já é um dos trunfos
de Veneza 2000.
O jornalista Amir Labaki viaja a Veneza a
convite da organização do festival
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