São Paulo, Terça-feira, 07 de Setembro de 1999
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DISCO - LANÇAMENTOS
Pop de Ponta


Bandas e artistas que não são nem melhores nem piores, apenas originais


MARCELO NEGROMONTE
da Redação


A ponta do pop aponta para um único alvo: a originalidade. Nomes pouco conhecidos pela massa -underground, alternativos, indie, não importa a etiqueta dada- fornecem insumos para a reciclagem do pop, dos quais o mainstream pode se servir, com a devida assepsia que lhe é peculiar.
Abaixo, alguns álbuns pop que saem do trajeto convencional, transgridem, inovam, ousam. Não muito mais do que isso.

LUSCIOUS JACKSON
As três meninas nova-iorquinas se livraram das amarras sonoras do chamado rock alternativo americano -que há muito perdera seu frescor- e evoluíram rumo ao mais delicioso pop no polido quarto CD, "Electric Honey" (Grand Royal, importado).
Se no penúltimo "Fever In Fever Out" (96) o Luscious Jackson trazia algum traço de melancolia "alternativa", este álbum já começa com a gostosíssima "Nervous Breakthrough", com letra dor-de-cotovelo e clima de festa disco. "Graças a você, tive um ataque nervoso", diz o refrão da funky canção. A "fêmea hiperbólica", no dizer do B-52's, Debbie Harry aparece na pós-punk "Fantastic Fabulous". "Ladyfingers" é irresistivelmente pop, assim como "Summer Daze", um chill-out roqueiro, com "I like it, I like it" sussurrado e algo sensual.
"Sexy Hypnotist" revisita "Loser", de Beck, e traz de volta o viço inicial das garotas do início da década. Por essas e outras (como "Gipsy, "Country's A Calling"), "Electric Honey" figura entre os melhores discos de rock (com punk, country, dance e pop diluídos com precisão) deste ano. A receita talvez resida na ingenuidade ainda preservada.


Avaliação:    

LORDS OF ACID
Os lordes belgas estão com disco novo. Sexo bizarro, sexo cru, sexo escrachado, sadomasoquismo, música avessa a romantismos, acid house, Electronic Body Music (corrente oitentista belga, que pregava batidas fortes e dançantes). E põe "body" nisso.
Os dementes Lords of Acid convidaram alguns artistas e bandas, como God Lives Underwater, KMFDM e Frankie Bones, para tornarem suas músicas mais pirotécnicas. O alternativo do avesso.
"Expand Your Head" (Antler Subway Records, importado), produzido pelos Lords, exala sexo por todas as caixas acústicas.
"Am I Sexy?" é quase ingênua, mas só disfarça a perversão do grupo, adepto de roupas de couro, chicotinho e bonecas de borracha, como se um travesti cantasse.
"Rough Sex" transgride, a nova versão de "I Sit on Acid" ficou irreconhecivelmente suja -e ótima-, e "Pussy", já clássica, se eternizou.
A versão big beat e inédita de "Voulez-Vous Coucher avec Moi" é uma pérola do erotismo, sensacional porque podre.

Avaliação:    

JIMI TENOR
O estilista, produtor, cineasta, cantor, compositor, finlandês e "warholiano" Jimi Tenor confirma a tradição dos países nórdicos em fazer pop de ponta com o seu segundo álbum, "Organism" (Warp Records, importado). Tecno de cabaré, lounge de beira de estrada, algum Miami bass (!!!), jazz, pop e muito kitsch.
Tenor, de passado e presente extravagantes, é, no mínimo, incomum. A soul "Total Devastation", a abertura do álbum, é climática, uma viagem aos 70 numa nave desta década. Aqui está o tecno de cabaré. A electro-funk "Serious Love" sacode a bundinha. Eis o Miami bass da Finlândia. Tenor é um rapaz bizarro e lisérgico, como "Muchmo".

Avaliação:    

SUPER FURRY ANIMALS
Os galeses engajados voltaram com "Guerrilla" (Flydaddy Records, importado), mas em missão de paz. Álbum coeso, rico em texturas, com algumas letras niilistas (a circular "The Door to This House Remains Open" e a espacial "Some Things Come from Nothing") e outras lindas ("The Turning Tide", com High Llamas), "Guerrilla" passeia pela electronica, ska, rock, cocktail music, sombras punk, tudo azeitado com psicodelia. É o disparate sonoro do SFA, que chega ao seu ápice neste álbum.
E "The Teacher" é The Who (e é ele mesmo, não-creditado) dos anos 2000, pós-alternativo. No mais, "Guerrilla" encontra sua tradução mais próxima no esquisito animal que ilustra a capa do disco: sem definições.

Avaliação:     

ART OF NOISE
Se o Art of Noise foi um dos principais nomes da vanguarda eletrônica nos anos 80, "The Seduction of Claude Debussy" (ZTT, importado) é uma amostra consistente do que o grupo, reunido para este disco, um dia já foi.
Primeiro CD inédito desde 1989, "The Seduction of Claude Debussy" é uma ode ao compositor modernista francês, com participações de John Hurt e Rakim. É, eles ainda estão à frente.

Avaliação:    

Os discos acima podem ser encontrados/encomendados nas lojas Indie Records (0/xx/11/816-1220), London Calling (0/xx/11/223-5300) e Bizarre (0/xx/11/220-7933)


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